Não há que enganar: São três dias de residência artística de poesia, sob a batuta do poeta António Poppe. Acontece sempre à quinta, sexta e sábado. E vai repetir-se durante três semanas do mês de março, em diferentes locais da Universidade. A inscrição é gratuita para toda a comunidade, mas o número de lugares é limitado. Por isso, é escolher já! No final, está prevista uma apresentação pública. Vamos chamar-lhe Brigada de Intervenção Cultural. E a data não podia ser mais especial: 22 de março. Claro que lhe é familiar. É o Dia da Universidade do Porto.

A dançadeira adensante e o Dizedor Indecente. Outra vez: A dançadeira adensante e o Dizedor Indecente. Sabe bem dizer. Pois sabe! Estes foram dois dos projetos que António Poppe desenvolveu com a coreografa e bailarina Vera Mantero. Da dança à palavra dita, da comunicação visual à meditação…. São assim as empreitadas que António Poppe aceita e assume…. Espraiam-se entre territórios. Ou será que as fronteiras não existem e nós é que as inventamos? Vamos desarrumar ideias? E depois virá-las do avesso? Esticar a mão para além das costuras? É isto! Preparado para puxar os galões à palavra e entrar num sonho Poppe?

O que podemos antecipar? No mínimo, contágios!

“Here am I knowing no death”. É assim que António Poppe nos acolhe na primeira página do seu website. É um propósito que soa a duplo desafio. Para quem a centrifugação dos dias faz esquecer propósitos existenciais maiores (e quem não?) este rumor, que flutua e atravessa estádios de consciência, pode ser um anzol que puxa desde o fundo da corrente e resgata para o outro lado da espuma dos dias. Faz-nos aterrar no aqui e agora e saltar para cima da secretária a plenos pulmões: Carpe diem! O segundo desafio fica a marinar para daqui a pouco. Por enquanto, apenas uma garantia: vai haver contágios!

Entre a escrita e outros suportes de comunicação, nomeadamente a comunicação visual como o desenho e as colagens, António Poppe assume uma relação de contágio. Tudo é a mesma voz que se projeta à descoberta de novas orbitas ou sistemas solares. Das “canções de Camões” às “metamorfoses de Ovídio”, nesta residência artística de poesia “vamos ler poemas em voz alta”, naturalmente, diz-nos o poeta, em nobre “melopeia para contemplar a voz que nunca para a revelação da natureza”.

Também se vai copiar poemas à mão. “Memorizar alguns versos para coreografar um recital coral, em conjunto”. Vamos “ouvir diferentes vozes, escritas e gravadas, a recitar idiomas vários”, mas fundamental, mesmo, diz-nos o performer, é “ouvir a língua de água de Camões” e assistir à “transformação ininterrupta das imagens de Ovídio”.

A fisicalidade de todo este exercício da poesia ouvida, dita e escrita pela mão dos participantes está também na caligrafia. “Vamos escrever à mão desenhos verbais como escreve o poeta Manoel de Barros – Os Desenhos Verbais“, sublinha.

Quando, onde e como?

A primeira destas residências artísticas vai realizar-se de 3 a 5 de março, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). O evento repete-se posteriormente na Faculdade de Ciências (FCUP), de 10 a 12 de março, e na Faculdade de Economia (FEP), de 17 a 19 de março.

As sessões vão decorrer de quinta a sexta-feira, das 18h30 às 20h30, e ao sábado, das 10h00 às 17h00.

“Here am I knowing no death” deixa-nos ainda outro desafio, dizíamos, no início do texto, que é, neste caso, mais uma pergunta a soar baixinho ao ouvido: pode a arte em geral, e a poesia em particular, turvar a noção de inevitabilidade da morte? Carpe Diem! As inscrições são abertas a toda a comunidade académica da U.Porto – incluindo alummi – e devem ser feitas aqui.

Sobre António Poppe

Artista visual, poeta, performer, António Poppe vive e trabalha em Lisboa. Estudou no Ar.Co (Centro de Arte e Comunicação Visual), no Royal College of Arts, em Londres, e na School of the Art Institute of Chicago como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento, onde realizou um Mestrado em Arte Performativa e Cinema. Tem desenvolvido um trabalho híbrido de poesia, artes visuais e performance com inúmeras apresentações.

Olhando apenas para os últimos anos, em 2017 expôs Watercourse na Galeria 111, com Joana Fervença, e participou em Encontros para Além da História, sob o tema As Magias (no Centro Internacional de Artes José de Guimarães). Em 2019, realizou uma exposição/retrospetiva individual na galeria ZDB em Lisboa, com a curadoria de Natxo Checa.

Já em 2020, publicou o quinto livro de poesia O Agitador e a Corrente escrito a quatro mãos, com a artista e poeta Mumtazz, na editora Mariposa Azual. Participou também, na exposição coletiva: Festa.Fúria.Femina obras da coleção FLAD. No museu MAAT.

Em 2021, participou no festival BOCA, bienal de arte contemporânea (performance, artes visuais, música) com António Poppe e La Familia Gitana música e performance, e ainda, com Andréia Santana também numa performance overlaps riddles and spells. Já atuou e/ou expôs em múltiplos espaços como o Museu de Serralves, a Galeria ZDB, a Galeria 111, a Culturgest, a Fundação Carmona e Costa, entre outros. Para além da escrita de livros e dos recitais de poesia, dá aulas de desenho e faz meditação.