O arquiteto portuense Álvaro Siza, antigo estudante e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), vai ser distinguido pela Académie des Beaux-Arts (Academia de Belas Artes francesa) com o Grande Prémio de Arquitetura, em reconhecimento pelo conjunto do seu percurso.

Também conhecido por Prix Charles Abella, o galardão – no valor de 35 mil euros –  foi atribuído pela primeira vez este ano a uma personalidade com uma carreira relevante na arquitetura. Com um carácter bienal (será atribuído em anos ímpares), o prémio vai alternar com outro que já era atribuído e dedicado a jovens arquitetos.

Na base da escolha da academia francesa esteve a obra “magistral” e o “percurso humanista” de Álvaro Siza. O júri – constituído por Marc Barani, Bernard Desmoulin, Dominique Perrault, Alain-Charles Perrot, Jacques Rougerie, Roger Taillibert, Aymeric Zublena e Jean-Michel Wilmott – destacou ainda a “trajetória exemplar” do arquiteto português que, aos 86 anos, é um dos mais premiados em atividade (ver biografia baixo).

Siza Vieira, rodeado pelos elementos do júri do prémio. (Foto: DR)

Álvaro Siza reagiu, por sua vez, “com emoção e humildade” ao facto de ser o primeiro laureado. “É uma grande honra, porque é um prémio importante”, confessou ao jornal PÚBLICO.

O Prémio Charles Abella vai ser entregue no próximo dia 27 de novembro. A antecipar a cerimónia oficial, Álvaro Siza esteve no passado dia 9 de outubro, no Instituto de França, em Paris, onde proferiu uma lição magistral.

Uma carreira ímpar

Nome incontornável da arquitetura portuguesa e mundial, Álvaro Siza (Matosinhos, 1933) estudou Arquitetura na Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP) – antecessora das faculdades de Arquitectura e de Belas Artes da U.Porto – entre 1949 e 1955. “Discípulo” de Fernando Távora, de quem foi colaborador entre 1955 e 1958, ensinou na ESBAP entre 1966 e 1969. Lecionaria posteriormente na FAUP, onde deu a última aula em outubro de 2003.

Com uma obra amplamente reconhecida a nível nacional e internacional, aquele que é o mais premiado arquiteto português de sempre assinou projetos emblemáticos como os da Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, da Biblioteca da Universidade de Aveiro, do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, da Igreja de Marco de Canaveses, do Pavilhão de Portugal na Expo 98, ou do próprio edifício da FAUP, inaugurado em 1992. Nesse mesmo ano tornou-se o primeiro português a conquistar o Prémio Pritzker, galardão equiparado ao “Nobel da Arquitetura”.

Entre as várias distinções que recebeu incluem-se, para além do Pritzker, o Prémio Mies van der Rohe (1988), o Prémio Nacional de Arquitetura (1993), a Medalha Alvar Aalto (1998) e a Medalha de Ouro (2009), do Royal Institute of British Architects, o Leão de Ouro da Bienal de Veneza (2002), pelo melhor projeto, e o Leão de Ouro de Carreira (2012). Mais recentemente, foi distinguido com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública (2017) e com a Medalha de Mérito da Universidade do Porto (2018).

Recorde-se que o Museu de Serralves acolhe, desde o passado dia 19 de setembro, uma exposição dedicada à vida e à obra de Siza. Composta por mais de 400 desenhos e 30 projetos assinados pelo arquiteto desde os tempos de estudante até à atualidade, a exposição “in/disciplina” estará patente ao público até 2 de fevereiro de 2020.