É o culminar de uma vida inteira dedicada ao ensino e à investigação na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Prestes a completar 70 anos, Fernando Falcão dos Reis dará a sua “Última Lição”, subordinada ao título “Olhar e Ver”, no próximo dia 21 de fevereiro, às 12h00, na Aula Magna da FMUP.

Desvendando um pouco sobre como será a sua “Última Lição”, professor catedrático de Oftalmologia diz que será essencialmente “uma sessão de divulgação científica sobre a visão” e “o poder simbólico do olho e do olhar”, como manifestação do que se sente.

Falcão dos Reis lembra que o olho foi sempre considerado, de certa maneira, a janela da alma, no sentido em que o médico vê, de fora para dentro, “a profundidade do olho”.

Em sentido inverso, isto é, “de dentro para fora, o olhar tem um grande poder sobre os outros. Fala-se no olhar maléfico, no mau olhado, no olhar compassivo, no olhar de amor. Penso que o poder simbólico do olho se sobrepõe mesmo ao do coração, ambos plenos de alegorias, enquanto órgãos”.

Quanto ao significado deste momento, afirma que encara esta Jubilação como “um acontecimento perfeitamente natural. Fico feliz por chegar aqui com saúde. Alguns dizem que, nesta fase, há algo de nós que morre. Eu não penso assim, embora sinta que é um momento de mudança significativa nas nossas vidas”.

Ao longo do seu longo percurso, Falcão dos Reis foi testemunha e ator de uma “evolução extraordinária” na Oftalmologia, que “impactou a prática dos profissionais e a vida dos doentes”. Dá como exemplo a cirurgia de catarata: “Quando comecei, esta cirurgia era feita com internamento e, embora restituísse a visão, obrigava o doente a usar uma lente espessa e pesada, que se comparava ao fundo de uma garrafa, com o desconforto associado ao peso e às aberrações. Hoje, esta cirurgia é feita em ambulatório e, graças à introdução de uma lente dentro do olho, a recuperação da visão é rápida e sem necessidade do uso de óculos”.

Outro exemplo deste progresso é a utilização do lasik para correção dos erros refrativos (para que as pessoas deixem de usar óculos), algo que “não era sequer possível imaginar” em 1983, e que hoje beneficia milhões de pessoas em todo o mundo. “Este progresso tecnológico obriga, no entanto, a uma formação específica que ultrapassa o domínio do ensino tradicional da medicina centrado, como se sabe, na biologia. Esta incursão na área da ótica e da física distingue a Oftalmologia das outras especialidades médicas”, sublinha.

Prestes a deixar a docência, Falcão dos Reis prefere, contudo,não fazer balanços, até porque promete que não vai parar. Mas espera que o balanço que outros possam fazer do seu trajeto seja positivo. Confessa que irá sentir falta, sobretudo, do “contacto com os colegas”, pois acredita que “uma das coisas que retardam o envelhecimento é a frescura intelectual que resulta do convívio diário com os médicos jovens”.

Solicita-se a confirmação da presença nesta “Última Lição” através do seguinte formulário.

Sobre Fernando Falcão dos Reis

Nascido a 27 de fevereiro de 1954, a ligação profissional de Fernando Falcão dos Reis à FMUP começou muito cedo, com apenas 18 anos de idade, quando era “aluno tirocinante na prática da investigação científica” na área das Neurociências. Estava então no primeiro ano do curso de Medicina na FMUP, que viria a terminar em 1978, tendo concluído o internato complementar em Oftalmologia em 1983.

Em 1989, ocupou o lugar de Assistente de Oftalmologia na FMUP. Fez estágio no Moorfields Eye Hospital, em Londres, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1991, fez o doutoramento na FMUP.

Desenvolveu investigação em áreas como a eletrofisiologia ocular e diagnóstico precoce do glaucoma. Em 1995, prestou provas para obtenção do título de Agregado da FMUP e, em 2005, assumiu a posição de Professor Catedrático de Oftalmologia.

Foi regente de Oftalmologia na FMUP durante 26 anos e diretor de Serviço de Oftalmologia do Hospital de São João durante 24 anos. Foi representante dos professores de Oftalmologia portugueses no EUPO (European Union of Professors of Ophthalmology) e presidente da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia. É membro de diversas sociedades científicas internacionais.