O Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR) foi uma das duas instituições portuguesas – e a única científica – oficialmente admitidas, pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC), como entidades observadoras na edição deste ano da Conferência das Partes (COP2028), que decorreu este ano entre 30 de novembro e 12 de dezembro, no Dubai.

Irina Gorodetskaya, investigadora do CIIMAR, foi designada como delegada do centro de investigação na COP28, assumindo o papel de observadora. A investigadora participou no evento “Cryosphere – Impact of Retreating Glaciers“, salientando a ameaça iminente para a criosfera representada pelo potencial de exceder os 1.5ºC de aquecimento global e os efeitos adversos do aumento do nível médio do mar a nível mundial.

A investigadora reforçou ainda que “as ações que tomarmos agora determinarão, essencialmente, o futuro de múltiplas gerações”, realçando a urgência de reduzir as emissões de carbono e os impactos que já se manifestam, que afetam milhões de pessoas, sobretudo as que residem em zonas costeiras e nos países insulares de baixa altitude, os mais afetados pelas alterações climáticas.

Irina Gorodetskaya integrou o painel de um dos eventos do Atoms4Climate Pavilion, onde alertou para os profundos impactos das alterações climáticas na Antártida. (Foto: Anastasia Chyhareva)

Além disso, Irina Gorodetskaya sublinha a  necessidade urgente de seguir os parâmetros definidos no Acordo de Paris – um pacto global destinado a combater as alterações climáticas, unindo nações para limitar o aumento da temperatura global e adaptar-se aos seus impactos.

Nas palavras da investigadora, “exceder este limite desencadeará uma série de pontos críticos na Antártida, extremamente perigosos. Podemos ainda adaptar-nos às mudanças na criosfera, se mantivermos o aquecimento global abaixo de 1.5ºC, mas, se ultrapassarmos este limite atingindo os 2ºC ou mais, pode resultar num aumento global do nível do mar superior a 3 metros, com consequências devastadoras em todo o mundo.

Para a delegada do CIIMAR, um dos destaques desta conferência foi a existência do Pavilhão do Oceano, um espaço concebido para acolher uma variedade de eventos que reúnem especialistas de várias áreas, incluindo decisores políticos, cientistas, delegados das Nações Unidas e empresários. O objetivo é transmitir a mensagem de que o Oceano é importante para todos e que a ciência deve liderar o caminho para encontrar soluções eficazes para as alterações climáticas.

O diálogo Oceano – Alterações Climáticas, um evento anual implementado para reforçar a ação climática baseada no Oceano, foi outro dos aspetos desta conferência que mais impressionou Irina Gorodetskaya. Segundo a investigadora, este evento funciona como “um elo entre a ciência e as negociações”.

Mobilização para a preservação da Criosfera

Também a investigadora do CIIMAR Ana Gomes marcou presença na conferência como investigadora em início de carreira, atuando como voluntária na Iniciativa Internacional da Criosfera (ICCI).

Como membro da equipa responsável pela organização de eventos e comunicação da ICCI, Ana Gomes desempenhou um papel ativo na mediação de eventos relacionados com a criosfera e na divulgação da sua importância, envolvendo diretamente as partes interessadas nas conversas, realizadas no Pavilhão da Criosfera da COP28.

Um dos destaques da sua participação foi uma ação de sensibilização, que visou simular o aumento do nível médio do mar no Dubai, caso as emissões de combustíveis fósseis continuem ao ritmo atual, alertando para a possibilidade de um aumento de dez metros até 2300.

A jovem investigadora Ana Gomes apresentou o seu trabalho no Pavilhão da Criosfera da COP28. (Foto: Ana Gomes/CIIMAR)

“A COP28 é o evento mais importante desde o Acordo de Paris, porque é a última oportunidade que temos para a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis”, alerta Ana Gomes. A investigadora reforçou também a necessidade de incluir a Criosfera nos documentos das negociações climáticas, destacando que “se não forem tomadas as medidas necessárias este ano, nunca iremos cumprir o objetivo do Acordo de Paris e isso significa o colapso completo da criosfera”.

Foi também no Pavilhão da Criosfera que Ana Gomes partilhou a sua experiência proveniente da sua participação em projetos do CIIMAR realizados no Ártico.

Durante a sua intervenção, a jovem cientista trouxe à luz os principais pontos da sua investigação de doutoramento a ser realizada no CIIMAR a partir do próximo ano, centrada no estudo do ciclo do azoto e do microbioma do Ártico.

COP28: do compromisso à ação

O CIIMAR foi assim a instituição portuguesa, além da ONG Zero, a ser admitida como observadora na COP28, evento que culminou, já na madrugada de 13 de dezembro, com a aprovação do documento final, que apela à transição dos combustíveis fósseis para atingir a neutralidade carbónica até 2050.

Este documento, resultado de intensas negociações entre os países membros, reflete a necessidade premente de ações concretas e imediatas para mitigar os impactos das alterações climáticas.

No encerramento do evento, o presidente da conferência, Sultan Al Jaber, salientou a urgência de transformar os compromissos em ações tangíveis, reforçando que “um acordo é tão bom quanto a sua implementação”.

O CIIMAR foi assim a instituição portuguesa, além da ONG Zero, a ser admitida como observadora.