O astrofísico alemão Reinhard Genzel, vencedor do Prémio Nobel da Física 2020, vai estar, esta sexta-feira, no Palácio da Bolsa, no Porto, na qualidade de orador convidado do workshop “Fundamental Physics at the Galactic Centre”, uma organização conjunta da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) e do Centro de Astrofísica e Gravitação (CENTRA).

Diretor do prestigiado Instituto Max Planck de Física Extraterrestre desde 1986, Reinhard Genzel foi laureado pela Academia Sueca pelas suas contribuições revelantes para o estudo do buraco negro supermassivo (com massa de cerca de 4 milhões de vezes da massa do Sol) no centro da Via Láctea.

Da astrofísica à física de altas energias, da teoria da informação à gravidade quântica, os buracos negros adquiriram um papel cada vez mais importante na física fundamental. Fazem atualmente parte da terminologia de muitos ramos importantes da física observacional, teórica e matemática.

Além de Reinhard Genzel, esta conferência – que irá prolongar-se até 18 de dezembro – vai trazer ao Porto outros líderes científicos envolvidos no estudo do buraco negro supermassivo. É o caso de Frank Eisenhauer vencedor do Prémio Gruber de Cosmologia e responsável pelos instrumentos GRAVITY e GRAVITY+.

Confirmados estão também os nomes de Guido Mueller, reconhecido instrumentalista e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da missão espacial LISA que tem o objetivo de detetar ondas gravitacionais usando três satélites em triangulação, e ainda Mariafelicia de Laurentis, cientista envolvida no projeto Event Horizon Telescope.

Do Porto para o Chile: a ligação ao GRAVITY

Há mais de uma década que a equipa da FEUP e do CENTRA envolvida na construção e exploração científica do Gravity – o instrumento que combina a luz recolhida pelos quatro telescópios gigantes em funcionamento no Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile – tem colaborado nas investigações de Reinhard Genzel.

O GRAVITY foi fundamental nas descobertas que levaram ao Prémio Nobel, ao utilizar instrumentação avançada para o estudo do buraco negro supermassivo, só possível com engenharia de ponta.

Neste momento, a equipa portuguesa está envolvida no instrumento GRAVITY+ (uma evolução do instrumento GRAVITY), que o equipará com feixes laser (ver figura abaixo) permitindo uma maior sensibilidade e estabilidade de medições do buraco negro. A previsão aponta para que o projeto esteja finalizado em 2026.

O GRAVITY+ deverá entrar em funcionamento em 2026, no Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile.  (Foto: DR)

“O nosso envolvimento tem sido um grande desafio e uma oportunidade de desenvolvimento de capacidades do Departamento de Engenharia Física. Vários estudantes de mestrado e doutoramento em Engenharia Física estiveram e estão envolvidos neste projeto, permitindo o seu contacto com patamares elevadíssimos de qualidade e exigência científica”, destaca Paulo Garcia, co-investigador principal do GRAVITY+. É a ele que cabe liderar o envolvimento da FEUP no desenvolvimento do sistema de ótica adaptativa do instrumento, assim como a sua exploração científica, que permitirá testar nova física no buraco negro.

“Esta tecnologia permite corrigir em tempo real o efeito da turbulência atmosférica, responsável pela degradação do rendimento de um telescópio terrestre em comparação com o mesmo telescópio no espaço”, explica Carlos Correia, especialista de ótica adaptativa do Departamento de Engenharia Física da FEUP.Já

Nuno Morujão, estudante do Programa Doutoral em Engenharia Física da FEUP, destaca por sua vez  a importância da faculdade no percurso que o levará em breve até ao ESO: “Durante os meus estudos em Engenharia Física na Universidade do Porto desenvolvi a paixão pela ótica. Estar envolvido no instrumento GRAVITY+ tem sido uma experiência fora de série. Em janeiro, estarei no melhor observatório do mundo, no meio do deserto do Atacama, trabalhando em instrumentação, lado a lado com cientistas de topo!”