A investigadora Ângela Fernandes, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), conquistou recentemente a «Bolsa Pereira Monteiro de Apoio à Investigação Translacional em Neurologia», atribuída pela Sociedade Portuguesa de Neurologia.

Esta bolsa, no valor de 5 mil euros e destinada a objetivo de apoiar investigação científica na área das Neurociências com elevado potencial de impacto na prática clínica futura, permitirá estudar o impacto das alterações nos açucares que revestem as células T nas doenças autoimunes com o objetivo de encontrar novas estratégias terapêuticas e controlar estas doenças.

Neste projeto, explica Ângela Fernandes, “vamos centrar-nos numa doença específica, a Miastenia Gravis (MG), e perceber o que acontece se reprogramarmos a glicosilação das células T reguladoras”.

A MG é uma doença autoimune que afeta as junções neuromusculares, levando a fraqueza muscular generalizada e fadiga, com consequente restrição crónica e gradual das funções diárias dos doentes podendo levar à morte. “Esta doença autoimune representa o modelo ideal para estudar a dinâmica entre a (dis)função das células T reguladoras, uma vez que se desenvolve principalmente a nível central (timo), tendo as células T reguladoras um papel principal na evolução da doença”, justifica a investigadora.

De acordo com Ângela Fernandes, os dados preliminares obtidos no grupo «Immunology, Cancer & GlycoMedicine», coordenado por Salomé Pinho, onde está a desenvolver a sua investigação, “demonstraram que as células T reguladoras de doentes com MG apresentam uma composição de açúcares significativamente alterada, caracterizada por défices de estruturas especificas de glicanos, quando comparados com as células T reguladoras de indivíduos saudáveis. Estas evidências constituíram a base deste projeto no qual planeámos reprogramar a glicosilação das células T reguladoras antevendo o controlo da resposta imune”.

Os resultados obtidos com este projeto, garante a investigadora do i3S, “serão cruciais para clarificar o impacto dos glicanos na modulação das atividades das células T reguladoras na autoimunidade, propondo a reprogramação destas como uma potencial estratégia terapêutica para controlar e prevenir a MG, bem como outras doenças autoimunes”.

No âmbito deste projeto a investigadora vai agora continuar a trabalhar em colaboração com a neurologista Maria Ernestina Santos, do Departamento de Neurologia do Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUSA, Porto), e aceder a um número elevado de amostras humanas de pacientes com MG e fazer a caracterização do seu perfil de glicanos.

Para Ângela Fernandes este reconhecimento por parte da Sociedade Portuguesa de Neurologia é uma «grande honra»: «Representa não só a valorização e reconhecimento da investigação científica do nosso grupo, mas também a importância dos estudos na área da autoimunidade. Como investigadora júnior, a oportunidade de liderar este projeto inovador com uma equipa multidisciplinar representa um desafio extremamente motivante e impulsionador dos próximos passos na minha carreira científica».