Sistemas de Informação Geográfica (SIG) ou Geographical Information Systems (GIS) na sigla em inglês. Podemos não ouvir falar muito neles, mas estão bem presentes na nossa vida e no nosso dia-a-dia. Basta pensar no Google Maps, por exemplo. Em Ciência, são cada vez mais utilizados para representar, partilhar e divulgar os resultados de projetos de investigação: à sociedade, claro está, e a instituições que os usam para a tomada de decisões.
Na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), nos últimos anos, tem-se apostado em trabalhos multidisciplinares de investigação, em áreas tão abrangentes como a Biologia, a Geologia, a Saúde ou o Ambiente, que, em comum, têm os SIG para manipular informação geográfica, obtida no local ou através de fotografia aérea e deteção remota.
Prova disso são os mais de sete WebSIG (mapas interativos publicados em páginas web) nos últimos quatro anos, desenvolvidos pela equipa que integra o grupo multidisciplinar de Deteção Remota e SIG da FCUP liderada pela docente Ana Cláudia Teodoro.
Lia Duarte, docente e investigadora da FCUP, faz parte deste grupo, tendo sido responsável pela criação de vários WebSIG e exemplifica um dos que considera mais paradigmático: “Neste mapa, podemos ver a variação de temperatura num dia específico. A cor azul representa zonas com temperaturas mais baixas e a cor vermelha, zonas com temperaturas mais elevadas. Conseguimos assim distinguir facilmente a escombreira da sua envolvente”.
Este WebSIG que, entre outros aspetos, mostra a análise e o estudo dos focos de temperatura numa escombreira de carvão em autocombustão em S.Pedro da Cova, coloca bem à vista os resultados do projeto CoalMine, que foram, desta forma, apresentados à comunidade local em 2022. Neste âmbito, os investigadores desenvolveram também um mapa de suscetibilidade ambiental representativo das áreas propensas a sofrer contaminação ambiental na sequência do abandono da mina.
Um outro exemplo, este na área da biodiversidade, é o de uma plataforma online onde estão mapeadas as várias espécies em vias de extinção no Parque Natural de Montesinho. “Para este WebSIG, do projeto Mont’Obeo, utilizámos dados recolhidos em trabalho de campo e obtidos através de imagens de satélite que permitem a identificação de alterações da qualidade de habitat e o risco de extinção de espécies ao longo do tempo e no espaço”, descreve Lia Duarte.
Para a comunidade científica, ficam também disponíveis dados registados em trabalho de campo que podem ser fundamentais em futuras investigações. Por exemplo, no projeto INOVMineral, o WebSIG permite a visualização de propriedades espectrais e geofísicas do Depósito Pegmatítico numa área que se localiza em Ribeira da Pena.
A agricultura de precisão é outro domínio que sai beneficiado com a criação de SIG. A equipa da FCUP criou uma aplicação em SIG open source que permite a criação de mapas de vegetação, mapas de vigor e mapas de prescrição para uma produção agrícola mais eficiente.
De “olho” na Zona Costeira
Também José Alberto Gonçalves, docente da licenciatura em Engenharia Geoespacial, tem vindo a trabalhar com Sistemas de Informação Geográfica na FCUP, particularmente na monitorização das Zonas Costeiras.
Num serviço solicitado pela Administração dos Portos do Douro e Leixões (APDL),o docente tem vindo a fazer, há mais de 20 anos, a monitorização da zona costeira do Cabedelo, em Vila Nova de Gaia. O objetivo é perceber a acumulação ou remoção de areia por ação do mar num trabalho de investigação que envolve também o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR).
“São feitos levantamentos fotogramétricos com drones e com fotografia aérea convencional, obtida a partir de avião e gerados modelos tridimensionais da praia, georreferenciados com grande rigor, e são calculados os volumes de areia acumulada ou removida pelo mar, de ano para ano”, explica o professor.
Este estudo, também apresentado na forma de SIG para consulta e análise, permite à APDL avaliar as consequências da ação do mar e decidir sobre a necessidade de execução de obras de manutenção.
Com drones, imagens de satélite ou dados de GPS, a criação de SIG envolve um trabalho de equipa multidisciplinar e uma dedicação que não se resume a representar espacialmente informação. É interativo, tem várias camadas de informação e permite análise e interpretação que vão mais longe do que um mapa.