A Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto acolhe, nos dias 10, 11 e 12 de outubro, a 9.ª edição do Festival Queer Porto. Para além da exibição de filmes, haverá espaço para debater o temas que abordam. E haverá convidados, como a Secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Isabel Almeida Rodrigues, para desenvolver algumas dos principais questões do Festival. Pelo meio, será também atribuído o Prémio Casa Comum para a melhor curta-metragem portuguesa.

Da criação artística à precariedade, da noção de território à gentrificação, da identidade sexual e de género à violência sobre mulheres, da discriminação de raça, etnia e de género à subversão política e aos movimentos de migratório esta 9.ª edição do Festival Queer Porto abrange uma grande multiplicidade de temas. Vamos à programação?

Dia 10 de outubro, às 18h00, Daniele Basilio e Paola Zaccaria apresentam ALTAR. Cruzando Fronteras. A ocupar o grande ecrã estará Gloria Anzaldúa (1942-2004), poetisa e pensadora norte-americana sobre a teoria cultural chicana, teoria feminista e teoria queer. A sua voz encontra eco nos centros culturais e políticos comprometidos em criar pontes entre diferenças culturais e de género.

Após a exibição do documentário, segue-se uma conversa entre a curadora brasileira Isabeli Santiago e a professora e escritora italiana Paola Zaccaria, responsável pela tradução para o italiano do livro Borderlands / La Frontera: The New Mestiza (1987) de Anzaldúa, ainda sem tradução para português.

Dia 11 de outubro, também às 18h00, Kate Horsfield e Nereyda Garcia-Ferraz assinam Ana Mendieta: Fuego de Tierra, um documentário sobre Ana Mendieta (1948-1985). A performer e escultora recorria à água, à lama, ao fogo, às pedras e à erva que nasce da terra, ou seja, aos elementos da natureza como matéria prima para o seu trabalho. O poder espiritual da religião afro-cubana também era refletido sua arte como uma atividade ritualística e simbólica para celebrar a vida e a constante mudança.

The Hearing passa na quinta-feira, 12 outubro, também às 18h00. Este documentário de Lisa Gerig vai levar a audiência pelas diferentes fases de um processo de asilo. Uma mulher nigeriana, um homem dos Camarões, uma mulher trans do Sri Lanka e um jovem afegão são os requerentes de pedidos que foram rejeitados. Têm a sobrevivência dependente da habilidade de contar a história a sua vida. Do talento em transformar a realidade numa ficção convincente para os burocratas que escutam as razões que os levaram a fugir dos países de origem.

Que papel deverá ter a União Europeia no salvamento e integração destas populações? O que está a falhar e o que se perspetiva para o futuro? Após o documentário, estas e outras questões serão debatidas numa conversa com a Secretária de Estado da Igualdade e Migrações, Isabel Almeida Rodrigues.

Todas as sessões têm entrada livre.

O Prémio Casa Comum

No valor de 500 euros, este prémio pretende destacar jovens cineastas que transcendam as classificações mais clássicas e transformem o panorama da curta-metragem nacional. A concurso estarão seis curtas-metragens portuguesas, produzidas no ano anterior ao ano de realização do Festival. A competição é avaliada por um júri formado por três elementos da U.Porto.

Uma das propostas é de Flavia Regaldo, Curva_Correntenza. Este exercício de repensar o corpo recorre a uma animação que explora as tensões do corpo, integrando curvas, linhas e o que não é dito. Trabalhando o corpo como um “espaço crítico”, a realizadora deixa-nos uma inquietação: “Quando é que a forma se desabriga?”

Também o corpo, em transformação, de três mulheres, guia a narrativa de Catarina Gonçalves. Mátria revisita a poesia de  Natália Correia. Land Song é uma autoproclamação e um anúncio de existência de Inês Ariana Pereira. Ou então é “uma canção de amor para a minha varanda, para as colinas e para ela”.

“Matria”, de Catarina Gonçalves, é uma das seis curtas-metragens que competem pelo Prémio Casa Comum do 9.º Festival de Cinema Queer. (Foto: DR)

Num exercício entre o ensaio e a lenda histórica, Dildotectónica é o título da curta-metragem de Tomás Paula Marques. Nesta viagem que nos faz recuar até ao período da Inquisição, vamos encontrar um vibrador utilizado num relacionamento amoroso proibido, mas não só. Tomás Paula Marques apresenta toda uma coleção de dildos de cerâmica não fálicos.

Já Danilo Bastos Godoy, com a sua  Tidy Bed, coloca-nos perante um drama familiar onde se esconde uma tentativa de suicídio. Há um pergunta que pode, desde já, levar engatada: “É possível identificar os fantasmas do nosso passado?” De uma casa junto à praia, vamos para a Ilha de São Miguel.

A Minha Raiva É Underground desenha um lugar imaginado para ouvir o ambiente sonoro de uma cidade. Esta reflexão de Francisca Antunes recaí sobre o trauma e o seu paralelismo com a cidade.

“Tidy bed”, de Danilo Bastos Godoy. (Foto: DR)

Outro regresso à cidade é a proposta de Tatiana Ramos, no recobro de um luto familiar recente. Dias de Cama representa um regresso ao cinema mudo.

Por fim, Joana de Sousa coloca-nos Entre a Luz e o Nada. Uma aventura comborboletas e amantes. Golfinhos e techno. Raves e Solidão. Que mais? Os filmes passam dias 11 e 12 de outubro, às 15h00, no Batalha Centro de Cinema.

O que se pretende é dar o “lugar de fala” a quem “durante séculos se viu oprimide e silenciade na sua voz”, explica João Ferreira, diretor artístico do Queer Porto.

Facilitar o acesso aos meios de produção é permitir que “seja cada vez mais frequente vermos um cinema de mulheres, de pessoas negras, trans, indígenas, um cinema reflexo de múltiplas realidades geográficas, de periferia, de fronteira”. Este reposicionamento do  “lugar de fala e da representatividade são da mais central justiça e a única forma de repor uma verdade”, acrescenta o responsável pelo festival.

Para mais informações, consultar a página do Festival Queer Porto.