Uma maquete que é material para “mediações encenadas” e reflexões sobre como dar a ver um arquivo de arquitetura, e um conjunto expositivo que traça a “genealogia” de Alvar Aalto e inscreve a obra do finlandês na história da arquitetura. Estas são as duas mais recentes propostas expositivas da Fundação Marques da Silva e vão estar patentes ao públicos até 17 de julho e 17 de setembro, respetivamente.
Procurou-se compreender o contexto de produção de uma maqueta em gesso que pertence ao acervo da Fundação Marques da Silva: Aquila, de 1935. Foi assim que nasceu o projeto CONTRAFACTUM: matéria, forma, conteúdo, produzido em parceria com a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), e que dá resposta ao desafio lançado pelo Centro Português de Fundações “Projeto 17-Geografias, Património Cultural das Fundações Portuguesas”.
A maquete, de autoria de José Porto (Engenheiros Reunidos), pertence ao Plano de Urbanização das Termas do Gerês. Anos mais tarde terá sido enviada ao casal David Moreira da Silva e Maria José Marques da Silva, a propósito da elaboração do Anteprojeto de Urbanização do Gerês, que estes arquitetos iniciaram em 1944 e continuaram a desenvolver até 1951.
Entre o restauro da maqueta original e a sua mimetização (réplica construída num lugar de ensino artístico, o Serviço Técnico e Oficinal de Modelação e Moldagem da FBAUP, com recurso à recriação de materiais e processos de construção, realizaram-se entrevistas e encenações em torno do seu fazer.
Contrafactum estabelece, assim, um jogo dinâmico da peça com o seu lugar de pertença que vai transformar uma sala do Palacete Lopes Martins num palco de “mediações encenadas”. Num mesmo espaço onde se projetam vídeos documentais sobre o processo de restauro, o processo de construção da “cópia” e o processo de preparação do suporte onde a maquete Aquila se encontra disposta, o modelo original vai entrar em diálogo com a peça recriada, a réplica.
Esta proposta é também um contributo para uma reflexão sobre modos possíveis de dar a ver um arquivo de arquitetura, sobre as relações entre arte e técnica, sobre a criação de plataformas colaborativas de intervenção criativa.
Em Aquila encontramos imagem e representação, a modelação de uma paisagem convertida em objeto onde se fundem várias aproximações de natureza gráfica (plantas, fotografias, desenhos modelados e materializados por um maquetista). É um processo de transferência de conhecimento em que a recriação, mais do que uma simples cópia, é uma reinterpretação das várias etapas que estão na base da criação do objeto que lhe serve de modelo.
O restauro da maqueta original decorreu da necessidade de preservação de um património, por parte da Fundação Marques da Silva, a sua mimetização, na FBAUP, foi movida pela vontade de valorizar um saber fazer a partir da matéria. Graciela Machado assina a conceção e coordenação do projeto e réplica da maqueta foi executada por Rui Ferro e Alcides Rodrigues, ambos docentes das Belas Artes.
À descoberta de Alvar Aalto
Organizada pela Universidade de Tampere (Finlância), o Museu Alvar Aalto Museum e o município de Jyväskylä, Aalto Intemporal – o DNA da Cultura Arquitetónica foi sendo por preparada ao longo da segunda década deste século.E chega agora ao Porto em paralelo com a realização do seminário ABLeS (Autofocus Blended Learning eSeminars series), programado para 27 de junho.
Constituída por um conjunto de painéis, assenta na “construção de espaços-tempos que interligam a experiência da arquitetura e a profundidade do tempo”, para assim “afastar as formas de pensamento míope que muitas vezes prevalecem na arquitetura, já que ignoram a dimensão temporal e negligenciam o papel mais amplo da cultura arquitetónica na sociedade” (Tallquvist).
Depois da Finlândia e da Itália, nesta sua passagem por Portugal, a exposição vai integrar um módulo com projetos de arquitetos portugueses influenciados pela obra de Alvar Aalto, nomeadamente Fernando Távora (Convento de Gondomar, 1961), Raúl Hestnes Ferreira (Casa de Albarraque, 1961), Alcino Soutinho (Pousada de Vila Nova de Cerveira, 1973) e Alfredo Matos Ferreira (Instituto Politécnico do Porto, 1993), complementada com publicações existentes no acervo da Fundação que tiveram particular relevância na divulgação em Portugal da obra daquele que é o mais aclamado arquiteto finlandês.
Com curadoria de Tore Tallqvist (colaborador de Alvar Aalto e professor de História da Arquitetura da Universidade de Tampere), a exposição tem como objetivo traçar a “genealogia” de Alvar Aalto, inscrevendo a obra deste arquiteto finlandês no tempo longo da história da arquitetura.
Colaboraram para a apresentação final deste projeto expositivo o professor Olli-Paavo Koponen e a arquiteta Marianna Verhe. A linha gráfica foi criada em colaboração com o arquiteto Jussi Heinonen
As exposições podem ser visitadas de segunda a sábado, das 14h00 às 1800h. O bilhete de entrada varia entre os 3 euros (geral) e os 1,50 euros, para jovens, estudantes e seniores.