Uma equipa de investigadores liderada por Nuno Alves, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), identificou uma nova população de células progenitoras dos fibroblastos que contribuem para a formação e atividade do timo, um órgão fundamental do sistema imunológico onde são geradas as designadas células T.
Neste estudo, publicado na revista Development, os autores mostram também que este novo subtipo de fibroblastos progenitores esgota-se com o avançar da idade. Estes resultados são importantes para o desenvolvimento de terapias capazes de reconstruir o timo ou regenerar a função tímica nos idosos e nos indivíduos imunossuprimidos.
O timo perde muito cedo a sua capacidade de produzir células T, as quais são fundamentais na resposta a patogénios e tumores ou na prevenção de doenças autoimunes. Existe, por isso, um grande interesse terapêutico em conseguir reativar a produção de células T em indivíduos com o sistema imunitário debilitado. Para que isso aconteça, é fulcral compreender a origem das diferentes células que compõem o complexo microambiente do timo: células epiteliais, fibroblastos e células endoteliais.
Neste estudo, a equipa do i3S identificou pela primeira vez os progenitores que dão origem aos fibroblastos tímicos, e que funcionam como uma rede de suporte essencial onde as células T ‘navegam’ e ‘crescem’.
“Descobrimos que, no timo fetal, predomina uma população com caraterísticas estaminais, e, em fases posteriores do desenvolvimento embrionário do modelo animal (murganho) que utilizámos, esta população de fibroblastos é progressivamente substituída por uma outra mais madura e funcional, processo este que nunca tinha sido descrito”, explica Pedro Ferreirinha, um dos primeiros autores do artigo.
“Percebemos também que estas populações partilham uma relação de proximidade em termos do seu desenvolvimento, ou seja, os fibroblastos progenitores desaparecem e dão origem a fibroblastos mais diferenciados. E isto acontece precisamente quando a função tímica começa a atingir o seu máximo de produção de células T», sublinha Rúben Pinheiro, outro dos primeiros autores.
Estes resultados, que também mereceram destaque por parte da equipa editorial da revista, “reforçam a ideia de que, ao longo da vida, a produção de células T esgota a funcionalidade do microambiente tímico”, acrescenta o investigador.
Novos passos para a regeneração e reconstrução do timo
Os autores mostram também que quando a diferenciação das células T no timo é perturbada, a população de fibroblastos progenitoras é mantida, sugerindo que os sinais das células T em desenvolvimento promovem a maturação dos fibroblastos. Estes dados contribuem para um quadro crescente em que a sinalização bidirecional entre as populações do microambiente tímico e das células T é essencial para o desenvolvimento e função deste órgão.
“Agora que conhecemos estes dois subtipos de fibroblastos”, sublinham Pedro Ferreirinha e Rúben Pinheiro, “o próximo passo é perceber se em pessoas imunodeprimidas estes subtipos estão alterados ou não funcionais”.
A nível de estratégias terapêuticas, adianta Nuno Alves, que liderou a investigação, “uma das soluções para corrigir a função tímica passa por regenerar o timo envelhecido e a outra passa por reconstruir artificialmente este órgão. Para se avançar para a segunda opção é fundamental compreender a origem das diferentes células que compõe o complexo e intrigante microambiente tímico”.