É a primeira vez que, numa só publicação, se reúnem 110 poetas do “universo U.Porto”. São 110 visões que revelam matrizes, contextos e influências do mundo que nos rodeia. Há 110 anos. Uma ocasião que não se voltará a repetir. São textos, inéditos na sua maior parte, da autoria de poetas que, em algum momento da sua vida, cruzaram a sua história pessoal com a história da academia. A poesia, na reta final de 2021, a assinalar os 110 anos da Universidade do Porto. 110 Anos, 110 Poetas / Antologia Comemorativa dos cento e dez anos da U.Porto é o título da mais recente publicação da U.Porto Press.

Recorrendo apenas à “prata da Casa”, este é um livro “singular”, diz-nos Isabel Morujão,  docente da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP) e coordenadora do projeto, no prefácio da obra. Afinal, nela estão representados algunsdos dos mais reconhecidos nomes da poesia nacional, mas não só. Há autores emergentes que ainda não foram publicados e outros que se quis trazer a uma nova luz.

Desde 1911, e da primeira leva de estudantes que frequentaram os corredores, as salas de aula e as secretárias do primeiro curso da Universidade até aos nossos dias, há um palimpsesto de gerações que se encontram representadas nesta edição da U.Porto Press. A cada poeta (e no caso dos que já não estão connosco, à respetiva família) foi solicitado que escolhessem um poema.

O facto de serem “vozes poéticas atuantes e decisivas na poesia portuguesa dos séculos XX e XXI na esfera da U.Porto” e constituírem a “expressão desta identidade coletiva, simultaneamente singular e plural” foi o que norteou a seleção dos textos, segundo Isabel Morujão. Isto porque é da “Casa Comum” que se trata, ou seja a nossa “Alma Mater”.

Cruzar poesia com história

Cruzando-a com a poesia esta é, então, uma forma de contar 110 anos de história. À laia do que Aristóteles defendia: “A função do poeta não é contar o que aconteceu, mas aquilo que poderia acontecer. (…) Portanto, a poesia é mais filosófica e tem um caracter mais elevado do que a História. É que a poesia expressa o universal, a História o particular”. Não obedecendo a grelhas pré definidas e potenciando, por isso, um sentido plural, a poesia é “saber e voz do mundo”, acrescenta Isabel Morujão.

E se há nomes incontornáveis nesta antologia, como Ana Luísa Amaral, Daniel Jonas, David Mourão-Ferreira, Filipa Leal, Daniel Faria, Pedro Eiras, Agustina Bessa Luís, Inês Lourenço, Regina Guimarães e Andreia C. Faria, pelo arco temporal que abarca, relembramos poetas nascidos no início do Século XX, como Adolfo Cassais Monteiro e António Gedeão, ou até mesmo de finais do século XIX, como é o caso de José Manuel Sarmento de Beires (pioneiro da aviação em Portugal).

Há ainda autores que associamos ao universo da música, como Carlos T e Rui Reininho e também à medicina, como é o caso de João Luís Barreto Guimarães, poeta, tradutor, médico e professor de poesia no mestrado integrado de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. João Habitualmente é a “personagem poética” de José Luís Fernandes (docente da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto) e Flor Campino é também artista plástica.

Desde a sua fundação até aos nossos dias, 110 Anos, 110 Poetas / Antologia Comemorativa dos cento e dez anos da U.Porto é ilustrativo de todo o “dinamismo poético” que sempre atravessou a academia, acrescenta Isabel Morujão.

Dotada de um “conhecimento sem par entre todas as realizações humanas”, a poesia associada à formação académica “potencia a imaginação criativa”. Assim se reforçam memória e identidade, para que o futuro se robusteça “de um pensamento lúcido, esclarecido e livre” sublinha a docente da FLUP. Recordando o escritor e filósofo George Steiner “assim que dez pessoas sabem um poema de cor, não há nada que a CIA ou o KGB ou a Gestapo possam fazer. Esse poema vai sobreviver”.

Alguns destes poemas já se fizeram ouvir, pela voz dos próprios autores, durante o U.Porto Fest, que se realizou no verão passado, precisamente na noite dedicada aos 110 Anos, 110 Poemas. Para além de Isabel Morujão, fizeram parte do júri Ana Sofia Laranjinha (Universidade Aberta) e Marta Várzea (FLUP) .

110 Anos, 110 Poetas / Antologia Comemorativa dos cento e dez anos da U.Porto está disponível para aquisição no website da U.Porto Press.