A cientista Salomé Pinho, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi distinguida esta quinta-feira com o Prémio Pfizer 2021, na categoria de investigação clínica, pelo trabalho desenvolvido na área do Lúpus Eritematoso Sistémico (LES). A equipa descobriu um novo biomarcador de diagnóstico e prognóstico da doença que permitirá aos médicos intervir atempadamente, evitando assim situações mais graves, como a perda progressiva e irreversível da função do rim.
No trabalho premiado na 65.ª edição dos Prémios Pfizer, a equipa liderada por Salomé Pinho demonstra que os doentes com LES exibem à superfície das células do rim uma composição atípica de açúcares (glicanos) que se traduz numa assinatura molecular única. Os investigadores mostraram que essa expressão alterada de glicanos à superfície das células do rim destes doentes parece ser uma peça fundamental para um reconhecimento anómalo por parte do sistema imune, desencadeando uma resposta inflamatória exacerbada no rim, característica desta doença autoimune.
Este biomarcador, explica a investigadora, líder do grupo “Immunology, Cancer Glycomedicine” do i3S, “é capaz de prever o desenvolvimento de doença renal crónica terminal e tem potencial de ser incluído no algoritmo diagnóstico e prognóstico de LES e, eventualmente, de outras doenças autoimunes”.
Com uma das maiores prevalências na população mundial, especialmente em mulheres jovens em idade ativa, o Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) é uma doença autoimune debilitante que atinge principalmente (mulheres) jovens, no seu período ativo de vida (entre os 16 e os 49 anos). O impacto na qualidade de vida dos doentes é significativo, sendo uma das formas mais graves da doença a insuficiência renal, com atingimento do rim devido a uma infiltração massiva de células inflamatórias, que pode progredir para doença renal crónica/terminal. É nesta fase que a hemodiálise ou o transplante renal é inevitável. O diagnóstico precoce e a terapêutica destes doentes são ainda um grande desafio, por não existirem biomarcadores capazes de predizer quais os doentes que irão progredir para uma doença complicada impedindo a identificação e seleção precoce destes doentes para terapias mais dirigidas.
Recorde-se que este trabalho, liderado por Salomé Pinho, já tinha sido distinguido com o Prémio Nacional de Investigação em Autoimunidade, atribuído pelo Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes (NEDAI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).
O Prémio Pfizer
Os Prémio de Investigação Pfizer resultam de uma parceria entre a Pfizer e a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, com o objetivo de contribuir para a dinamização da investigação em ciências da Saúde em Portugal. Instituídos em 1956, são a mais antiga distinção na área da investigação biomédica em Portugal, e celebram este ano 65 anos de existência.
Na categoria de investigação básica, o Prémio Pfizer deste ano foi entregue aos investigadores Leonor Saúde e João Taborda Barata, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM Lisboa). O trabalho de Leonor Saúde centra-se na função das células senescentes como terapêutica promissora nas lesões da medula espinhal e o de João Barata pretende contribuir para um melhor conhecimento da biologia da leucemia linfoblástica aguda (LLA).
Como refere o Diretor Geral da Pfizer Portugal, “depois de um período atípico, o mundo experienciou diretamente a relevância da investigação científica e o seu impacto nas nossas vidas. Num ano também especial em que assinalamos o 65º aniversário dos Prémios Pfizer, queremos reforçar a homenagem aos investigadores nacionais que, com os seus trabalhos, muito contribuem para o desenvolvimento da ciência biomédica em Portugal”.