A descoberta de um biomarcador molecular para o Lúpus Eritematoso Sistémico valeu ao grupo liderado por Salomé Pinho, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), o Prémio Nacional de Investigação em Autoimunidade, atribuído pelo Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes (NEDAI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI).

Criado em 2005 pelo Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes (NEDAI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), o Prémio Nacional de Investigação em Autoimunidade tem como objetivo premiar trabalhos de investigação básica e clínica no âmbito da autoimunidade realizados em Portugal ou por grupos de investigadores que incluam médicos portugueses.

No valor de cinco mil euros, o prémio foi este ano entregue na sessão de encerramento no VII Congresso Nacional de Autoimunidade | XXVI Reunião Anual do NEDAI , distinguindo um trabalho do i3S recentemente publicado na revista oficial do Colégio Americano de Reumatologia, uma das mais prestigiadas revistas científicas na área das doenças autoimunes, a Arthritis and Rheumatology.

Prémio para descoberta de novo biomarcador

N0 trabalho agora premiado, a equipa de cientistas demonstra que os doentes com Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) exibem à superfície das células do rim uma composição atípica de açúcares (glicanos) que se traduz numa assinatura molecular única. A descoberta deste biomarcador «não só facilita o diagnóstico da doença, como também tem valor prognóstico ao permitir saber com antecedência quem vai desenvolver doença complicada, e desta forma agir atempadamente, evitando assim situações mais graves, como a perda progressiva e irreversível da função do rim», explica Inês Alves, estudante do 4.º ano do Programa Doutoral em Biomedicina da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e primeira autora do artigo.

O grupo de investigadores, liderado por Salomé Pinho, do i3S, em colaboração com o Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), com o Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ) e com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), recorreu a amostras de rim de doentes com LES e que tinham o rim afetado (glomerulonefrite / nefrite lúpica) tendo identificado nestas amostras uma composição de estruturas de açúcares (glicanos) incomum.

Os investigadores mostraram que essa expressão alterada de glicanos à superfície das células do rim destes doentes parece ser uma peça fundamental para um reconhecimento anómalo por parte do sistema imune, desencadeando uma resposta inflamatória exacerbada no rim, característica desta doença autoimune.

O grupo de investigação do i3S liderado por Salomé Pinho tem dedicado a sua investigação precisamente ao estudo do papel dos glicanos (açucares) em doenças como o cancro, a doença infamatória intestinal e outras doenças autoimunes como o Lúpus.

Sobre o Lúpus Eritematoso Sistémico

O Lúpus Eritematoso Sistémico (LES) é uma doença autoimune debilitante que atinge principalmente (mulheres) jovens, no seu período ativo de vida, tendo um impacto negativo na qualidade de vida dos doentes. O LES caracteriza-se por uma perda global da tolerância imunológica, com produção de autoanticorpos que podem levar à inflamação e lesão de múltiplos órgãos. A nefrite lúpica (inflamação renal) é uma das manifestações clínicas mais comuns e graves do LES, afetando até 60% dos doentes, podendo evoluir para doença renal crónica ou doença renal terminal (insuficiência renal) em cerca de 25% dos doentes.

As evidências sugerem que fatores genéticos e ambientais contribuem para o desenvolvimento do LES, contudo o mecanismo exato subjacente à disfunção imunológica permanece por esclarecer e a doença continua incurável. Este estudo contribui para o desvendar de um novo biomarcador da doença, potencialmente associado à perda de autotolerância, demonstrando ter aplicações prognósticas no desenvolvimento de doença complicada/doença renal crónica.