Uma equipa de docentes e investigadoras da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP) e da Unidade de Biociências Moleculares Aplicadas (UCIBIO/REQUIMTE) apresentou recentemente um estudo no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infeciosas (ECCMID), no qual defendem que os alimentos crus comercializados para cães são uma importante fonte de bactérias resistentes a antibióticos com potencial risco para a saúde pública.

Coordenado pelas investigadoras Luísa Peixe e Ana Freitas, e com participação de Carla Novais e Liliana Finisterra (graduada do Mestrado em Controlo da Qualidade da FFUP) e com o apoio  da técnica superior Bárbara Duarte, o trabalho concluiu que algumas das bactérias multirresistentes encontradas mostraram ser idênticas às de pacientes hospitalizados em diferentes países europeus. Uma descoberta que leva as cientistas a sugerir que a tendência de alimentar cães com alimentos crus pode estar a contribuir para a disseminação internacional de bactérias clinicamente relevantes.

Explica Ana Freitas que, “das 55 amostras de rações para cão incluídas (22 húmidas, 8 secas, 4 semi-húmidas, 7 guloseimas e 14 cruas congeladas) de 25 marcas disponíveis nacional e internacionalmente, trinta (54%) continham Enterococcus e destes, 31% era multirresistentes, isto é, resistentes a mais de três antibióticos de diferentes famílias, incluindo antibióticos considerados de último recurso no tratamento de infeções causadas por diferentes bactérias”. Em contraste,” apenas 3 das 41 amostras não cruas continha Enterococcus multirresistentes”.

O estudo foi conduzido por cinco investigadoras e técnicas da FFUP e da UCIBIO/REQUIMTE. (Foto: DR)

As investigadores concluem por isso que os alimentos para cães, principalmente os crus, são uma fonte subestimada de bactérias resistentes a antibióticos.  “O contacto próximo entre humanos e cães, assim com a comercialização das marcas estudadas em diferentes países, representam um risco para a Saúde Pública”, alerta Luísa Peixe, líder da equipa de investigação.

As autoridades europeias devem, na opinião da investigadora e docente da FFUP, “aumentar a consciencialização sobre os riscos de fornecer dietas cruas a animais de estimação e rever as práticas sobre a seleção de ingredientes e de higiene no fabrico destes produtos”.

Como recomendação aos donos dos animais, a equipa deixa ainda a recomendação de “lavar sempre as mãos com água e sabão logo após contacto com rações ou dejetos dos animais”.