A Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), em colaboração com a Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), anunciou esta quarta-feira, 14 de abril, a abertura de um concurso para atribuição de bolsas de investigação para Doutoramento denominado Maria de Sousa. A iniciativa surge exatamente um ano após a morte da histórica professora da Universidade do Porto e “pretende ser uma homenagem à investigadora consagrada internacionalmente pelos seus estudos na área imunológica”

O concurso agora anunciado visa a atribuição de 50 bolsas investigação na áreas da epidemiologia e virologia, às quais Maria de Sousa dedicou grande parte do seu percurso científico.

“O objetivo passa por incentivar a obtenção de novos conhecimentos que permitam criar competências para respostas a fenómenos epidemiológicos e virológicos, incluindo pandémicos, e que se traduzam em medidas de prevenção eficientes, melhores cuidados de saúde e a um apoio efetivo aos cidadãos”, destaca a FCT, em comunicado.

As candidaturas ao concurso estarão abertas de 1 e 30 de junho de 2021.

Sobre Maria de Sousa

Nascida em Lisboa em 1939 e licenciada em Medicina em 1963, Maria de Sousa (1939-2020) cedo deixou Portugal para prosseguir a sua carreira académica científica em Inglaterra, Escócia e Estados Unidos, onde dirigiu o Laboratório de Ecologia Celular do prestigiado Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova Iorque. Foi nessa fase que se distinguiu internacionalmente enquanto autora de vários artigos científicos fundamentais para a definição da estrutura funcional dos órgãos que constituem o sistema imunológico, entre os quais o que consagrou a descoberta da área timo-dependente (1966), hoje conhecida universalmente por área T.

Foi precisamente o seu trabalho em doentes com hemocromatose hereditária que trouxe Maria de Sousa para o ICBAS em 1985, para fundar o Mestrado em Imunologia. Enquanto docente e investigadora da U.Porto, foi responsável pela constituição de uma equipa de investigação nova no campo da hemocromatose, repartida pelo ICBAS, pelo Hospital Geral de Santo António e pelo então novo Instituto de Biologia Celular e Molecular (IBMC).

Em 1996, encabeçou a criação do Programa Graduado em Biologia Básica e Aplicada (GABBA), um programa pioneiro em Portugal, resultado da colaboração entre o ICBAS, as faculdades de Ciências (FCUP) e de Medicina (FMUP), o IBMC, o Instituto de Engenharia Biomédica (INEB) e o Instituto de Patologia e Imunologia Molecular (IPATIMUP) da U.Porto (estes três últimos, integrados atualmente no i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto).

Condecorada pela Presidência da República Portuguesa em três ocasiões (Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique em 1995, Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada em 2012 e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada em 2016, Maria de Sousa recebeu inúmeras distinções nacionais e internacionais. Entre as mais relevantes incluem-se o Grande Prémio Bial de Medicina (1995), o prémio “Estímulo à Excelência”, atribuído pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (2004), o Prémio Universidade de Coimbra (2011), o Prémio Universidade de Lisboa, em 2017, ou o Prémio Mina Bissel, em 2018.

Em outubro de 2009, assinalou a sua jubilação como Professor Catedrática do ICBAS com uma Última Aula no Salão Nobre da Reitoria, o mesmo local onde, um ano mais tarde, lhe seria confiado o título de Professora Emérita da Universidade do Porto.

Maria de Sousa faleceu a 14 de abril de 2020, vítima de COVID-19. Em julho desse ano, o i3S prestou-lhe homenagem atribuindo o seu nome à biblioteca do instituto.