Da pornografia à poligamia, sem esquecer a sexualidade na terceira idade ou a masturbação. Estes são apenas alguns dos temas ligados à sexualidade que, ao longo das próximas semanas, vão servir de mote às Conversas sem Tabus promovidas pela Universidade do Porto, em parceria com a Federação Académica do Porto (FAP).
A liderar cada reflexão – a disponibilizar quinzenalmente, no canal Youtube da Casa Comum da U.Porto – estarão investigadores de diferentes áreas. Mas haverá também testemunhos na primeira pessoa. O território é amplo e só há uma norma obrigatória para ir a jogo: desobedecer a tabus.
“É necessário trabalhar estes temas, nomeadamente com quem os investiga e com quem os vive”, destaca Maria Inês Pinhão, da direção da FAP. A também estudante da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP) lembra ainda que que estes são tópicos cuja reflexão convém trazer “não só para o meio estudantil, mas também para a restante comunidade”.
Foi, contudo, a pensar sobretudo nos estudantes que a FAP lançou o desafio à Universidade, ou não fosse a sua missão “apoiá-los/las na sua formação e crescimento, não só enquanto estudantes, como também enquanto jovens e cidadãos que irão moldar a sociedade no futuro”. Por outro lado, o organismo que representa a maior academia do país nota que a passagem pelo ensino superior deve ser “diversificada e estruturante”, incluindo áreas como “a Cultura e as Artes, a Literatura e Música.”
Já a Vice-Reitora da U.Porto para a área da Cultura realça que a Universidade, e a Casa Comum em particular, “tem especial gosto” nesta parceria. Sendo “um lugar de cultura e de conhecimento”, reforça Fátima Vieira, a Universidade “é o espaço adequado para a discussão de temas como estes, com a informação histórica e científica e as ferramentas de pensamento crítico oferecidas pelos nossos convidados”.
“Queremos muito que este seja o primeiro de um conjunto de projetos bem-sucedidos”, avança a Vice-Reitora, deixando a garantia: “Já estamos a preparar o próximo!”
E começamos pela pornografia…
O primeiro vídeo já se encontra disponível online e sugere uma reflexão sobre a pornografia pela voz de Sílvia Simões, professora da Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FBAUP). “Pornografia sem imagem não existe”, atira a docente, que baralha ainda mais as cartas quando recorda o quão instável é o conceito, refém de fatores como o tempo e o espaço. Para além de variar de cultura para cultura, o conceito de pornografia de hoje não é igual ao conceito de pornografia de há dois séculos.
Quem não se lembra de A Origem do Mundo? Pintura a óleo de Gustave Courbet, de 1866, que mostra uma mulher deitada, com um vestido branco levantado, expondo os genitais e um seio. Se pensarmos nas reações à obra, nem é necessário recuar dois séculos. Em 2011, um professor francês acusou o Facebook de lhe ter bloqueado a conta pessoal depois por este ter publicado a reprodução do quadro no seu mural, uma batalha judicial que demorou vários anos a resolver até ambas as partes chegarem a acordo.
Também em Portugal, tendo visto a imagem na capa de um livro à venda numa feira em Braga, um indivíduo apresentou queixa à PSP, que apreendeu os exemplares, alegando que a capa apresentava “cenas com conteúdo pornográfico”. O caso foi resolvido pelos juristas que consideraram tratar-se de um ato de censura.
Sílvia Simões dá ainda o exemplo de Jeff Koons e o seu Made in Heaven, com fotografias, pinturas e esculturas que representam atos sexuais explícitos. Para ver num museu. Olhamos para este trabalho como uma obra de arte e não como um produto pornográfico. Mas onde está o limite? Pergunta-nos a docente que integra também o Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade (I2ADS), sediado na FBAUP.
Mas haverá outros contributos. Outras inquietações como, por exemplo, a que vai trazer Alexandra Oliveira, docente da FPCEUP: A prostituição é profissão? E… Sabe o que é uma cocada? Rita Gaspar, Curadora das coleções de Arqueologia, Etnografia e Antropologia biológica do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, vai explicar…
Como acompanhar estas reflexões? Nunca é demais repetir. Os vídeos serão lançados quinzenalmente no canal Youtube da Casa Comum da U.Porto.