Dois projetos liderados por investigadores da Universidade do Porto estão entre os 12 selecionados no âmbito do concurso “AI 4 COVID-19: Ciência dos Dados e Inteligência Artificial na Administração Pública para reforçar o combate à COVID 19 e futuras pandemias – 2020”, promovido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).

Um dos projetos aprovados é o THOR (Avaliação Torácica Assistida por Computador usando POCUS) e tem como objetivo testar a utilização de inteligência artificial, através de um protótipo baseado em visão computacional, para diagnóstico e avaliação da COVID-19. O projeto é liderado por Miguel Coimbra, investigador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC) e professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

A ecografia pulmonar permite um diagnóstico e monitorização rápidos da COVID-19 nos casos em que não seja conveniente a realização de outros exames. A utilização de ultrassonografias ao tórax (Point-of-Care Ultrasound -POCUS) é particularmente interessante, uma vez que permite o diagnóstico da pneumonia viral associada à maioria dos casos graves da doença, através da identificação do espessamento pleural e da presença de padrões característicos das linhas B (linhas verticais na periferia do pulmão).

No entanto, “o uso generalizado desta técnica encontra-se limitado pela complexidade operacional de um exame de ultrassom. Esta questão cria assim uma oportunidade para explorar o potencial da Inteligência Artificial (IA), mais concretamente na visão computacional como um potenciador para a utilização do POCUS de forma massiva”, explica Miguel Coimbra.

Miguel Coimbra é investigador do INESC TEC e docente do departamento de Ciência de Computadores da FCUP. (Foto: CINTESIS)

Este projeto resulta de uma colaboração multidisciplinar entre o INESC TEC (visão computacional), o Hospital Garcia da Horta (medicina), a FC.ID (visão computacional) e a Nevarotech (interoperabilidade, prototipagem e transferência de tecnologia).

Medir o impacto do confinamento

O outro projeto da U.Porto selecionado pela FCT é liderado pelo investigador Fernando Lobo Pereira, da Faculdade de Engenharia (FEUP), e propõe-se a estudar o “Impacto das medidas de confinamento relativas ao COVID-19 sobre mobilidade, poluição do ar, saúde e indicadores macroeconómicos em Portugal: uma abordagem em Aprendizado de Máquina”.

Através deste projeto, que envolve também a Faculdade de Economia da U.Porto (FEP), pretende-se quantificar o impacto de diferentes medidas de confinamento impostas em Portugal sobre diversas váriaveis predefinidas: mobilidade, poluição do ar e saúde, indicadores macroeconómicos (turismo, índice de preços do consumidor, situação das empresas portuguesas, etc).

O objetivo será “conseguir prever a evolução das variáveis pré-definidas como target dos modelos desenvolvidos, com especial ênfase
na previsão da evolução da economia portuguesa recorrendo ao desenvolvimento de modelos específicos que permitam auferir estes dados”, avança Fernando Lobo Pereira, investigador responsável pelo projeto,

“Para acelerar a recuperação e aprender lições para eventos futuros, é vital compreender todos os aspectos relativos a impactos económicos, sociais e de saúde pública além de identificar medidas eficazes de atuação. Em concreto, torna-se relevante entender como a poluição do ar e saúde pública respondem a mudanças na atividade social e económica”, remata o investigador da FEUP.

Ao todo, os 12 projetos selecionados pela FCT contarão com um investimento total de 3 milhões de euros, e terão uma duração que pode variar entre dois e três anos.