Mariana Fraga Pereira, José Rebelo e Lúcia Marques são estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), mas isso não é a única coisa que têm em comum. Os três futuros médicos integram uma lista de cerca de 300 estudantes da FMUP – a que se juntam cerca de 200 do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) – que, atualmente, estão a colaborar com a Linha SNS24 no atendimento, triagem e aconselhamento a casos suspeitos de COVID-19.
Como a pandemia fez disparar o número de chamadas que a linha habitualmente recebe, e só em outubro foram mais de 600 mil no total, as entidades de saúde viram-se “obrigadas” a reforçar as equipas com a contratação de novos profissionais.
Além de enfermeiros e estudantes de Medicina, a lista de reforços da Linha SNS24 para “travar” a COVID-19 inclui ainda médicos dentistas, farmacêuticos e psicólogos.
“Queremos ser úteis”
“Esta pandemia fez emergir o espírito de ajuda e de missão de qualquer estudante de Medicina”. A afirmação de José Rebelo, atualmente a frequentar o último ano do Mestrado Integrado em Medicina da FMUP, está em completa harmonia com a forte mobilização que sentiu entre os colegas logo a partir do momento em que surgiu a oportunidade de integrar esta “missão”.
“Todos nós nos queremos sentir úteis neste tempo difícil que atravessamos e temos aqui uma maneira de ajudar o Serviço Nacional de Saúde e todos os nossos futuros colegas de profissão”, revela o estudante , que desempenha funções de coordenador no call center, em Vila Nova de Gaia.
“É uma grande responsabilidade”
Mariana Fraga Pereira iniciou as funções no SNS24 no início de outubro. O período de formação que antecedeu esse momento serviu para se inteirar acerca do funcionamento do algoritmo informático da triagem COVID e de como o interpretar.
“Cada chamada que atendemos é uma oportunidade de fazer entender às pessoas a importância do isolamento e dos cuidados básicos de prevenção, por isso é uma grande responsabilidade”, confessa.
Num turno de cinco horas, Mariana está habituada a atender em média cerca de 40 chamadas. Entre os muitos casos com os quais já contactou ao longo deste período, recorda as situações de emergência médica, que todos têm de transferir para o INEM, mas também os momentos em que as pessoas se mostram mais ansiosas, seja por receberem a confirmação de um teste positivo, seja pela confirmação do estado de saúde de um familiar direto.
“Tentamos sempre que possível tranquilizar as pessoas, explicar os sintomas mais comuns, como os tratar e desmistificámos ideias erradas que possam ter”, explica a estudante do 5.º ano do Mestrado Integrado em Medicina.
A mesma estratégia é seguida por Lúcia Marques, . Para a também quintanista da FMUP, a comunicação é fundamental nestas situações. “O modo como comunicamos e o que dizemos ajuda muito a reduzir aquele nervosismo inicial que sentimos por parte das pessoas”, esclarece.
“Sinto que somos a primeira linha a quem as pessoas recorrem a pedir auxílio, por isso temos de responder à altura”, conclui Lúcia Marques.
A conciliação com estudos com o SNS24
Com o tempo dividido entre o SNS24, os estágios no hospital e o estudo para a Prova Nacional de Acesso (à Especialidade Médica), José Rebelo admite que, por vezes, “chega a ser caótico conseguir gerir o tempo”. No entanto, até ao momento tem conseguido conciliar as diferentes atividades “com alguma ginástica e criatividade à mistura”.
A mesma ideia é confirmada por Mariana Fraga Pereira e Lúcia Marques, que resumem numa só palavra a gestão que têm de fazer com as aulas presenciais, online e as horas de estudo: “organização”.
Novas linhas de apoio a caminho…
Neste momento, encontra-se em aberto um outro processo de recrutamento para colaboração com a Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN), no sentido de reforçar o contacto com pessoas em isolamento profilático que ainda não tenham sido contactadas pela Saúde Pública.
Em regime de voluntariado, os estudantes do 1.º ao 6.º do curso de Medicina que se inscreverem para mais esta “linha de apoio” no combate à COVID-19 devem iniciar em breve as funções.
Além de estudantes da FMUP, colaboram no mesmo centro de apoio à Linha SNS24 cerca de 200 estudantes de Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS-UP).