Um robô para fazer desinfeções nos hospitais, um ventilador low cost, um teste de diagnóstico mais rápido e eficaz, ou uma aplicação que avisa os utilizadores caso estejam perto de locais de contágio… Estes são alguns dos 17 projetos liderados por investigadores da Universidade do Porto que acabam de ser contemplados no âmbito da iniciativa “RESEARCH 4 COVID-19”, a linha de financiamento criada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) para apoiar projetos de I&D capazes de melhorar a resposta dos sistemas de saúde nacionais ao impacto da COVID-19.
Ao todo são 66 os projetos que vão ser apoiados com um investimento total de 1,8 milhões de euros. Deste valor, perto de 500 mil – 466.944 mil – euros terão como destino os laboratórios da U.Porto, que assegura desta forma mais de um quarto do financiamento total.
Da lista de projetos contemplados, destacam-se os quatro sediados na Faculdade de Medicina (FMUP). A FMUP é, de resto, a entidade da U.Porto que garante a maior “fatia” de financiamento – cerca de 120 mil euros -, sendo apenas superada pela Universidade do Minho no “top” das instituições com mais candidaturas aprovadas (quatro contra cinco).
As soluções propostas pela FMUP incluem desde um projeto para melhorar o tratamento de lesões de tecido cardíaco em doentes com Covid-19, a uma ferramenta capaz de prever a evolução da infeção viral no paciente, recorrendo à inteligência artificial. Dos laboratórios da FMUP sairão ainda um novo protocolo para melhorar a ventilação não invasiva (VNI) em doentes admitidos nas unidades de cuidados intensivos, e uma escala de risco COVID-19 que promete agilizar as altas hospitalares.
“Tratando-se de projetos de investigação que pretendem dar uma resposta imediata a um desafio sanitário tão importante, a FMUP demonstra que o melhor local para se fazer investigação de translação é nas Escolas Médicas, já que estas estruturas de investigação são as que estão melhor articuladas com as instituições prestadoras de cuidados de saúde”, destaca Altamiro da Costa Pereira, diretor de Medicina.
Da saúde pública à robótica
No que toca aos restantes projetos, três serão desenvolvidos no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3s) e vão receber um financiamento total de 90 mil euros. “O primeiro projeto pretende desenvolver testes de diagnóstico molecular rápidos e muito sensíveis, utilizando técnicas de CRISPER-Cas13a. O segundo pretende determinar o genoma de mais de 250 amostras de vírus com vista a estudar a sua taxa de mutação, assim como determinar qual a sua provável proveniência. E no terceiro projeto pretende-se identificar assinaturas moleculares no plasma dos doentes com SARS-CoV-2, com vista à sua utilização como biomarcadores que possam prever o desenvolvimento da doença”, enumera Claudio Sunkel, diretor do i3S.
Para aquele responsável, os projetos agora aprovados “enquadram-se no esforço que todo o i3S tem vindo a desenvolver para contribuir para um maior conhecimento do vírus e da doença”. Mas também “para que seja possível responder de forma eficaz a um eventual surto no futuro”.
Também com três projetos contemplados, num valor próximo dos 90 mil euros, o INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência ficará responsável, por exemplo, pelo desenvolvimento de um sistema robotizado – o RADAR – para desinfeção de ambientes clínicos. A este junta-se o já conhecido ventilador PNEUMA e um novo método de radiografia ao toráx que pode ajudar os médicos na triagem de pacientes com Covid-19.
O Instituto de Saúde Pública da U.Porto (ISPUP) foi outras das instituições que viu três dos seus projetos aprovados, perfazendo perto de 70 mil euros de financiamento. Um deles propõe-se a estudar a eficácia de um medicamento usado na terapia da asma como complemento para o tratamento da COVID-19 . Os restantes focar-se-ão no estudo do impacto da pandemia nos cuidados prestados a doentes oncológicos do IPO-Porto, e na identificação das áreas prioritárias para a prevenção e tratamento da COVID-19 em grávidas e recém-nascidos.
Já a Faculdade de de Engenharia (FEUP) tem a seu cargo dois projetos, correspondentes a 41 mil euros em financiamento. Um deles foca-se no domínio da Aprendizagem profunda (Deep Learning – DL) e aponta à criação de modelos computacionais que permitam ajudar a estimar a evolução da doença num paciente particular. Também na FEUP, deverá nascer uma aplicação – a FollowMyHealth – capaz de avisar os utilizadores caso tenham estado ou se aproximem de locais de potencial contágio, e que servirá também para acompanhar pessoas suspeitas de infeção, confirmadas, e em isolamento profilático.
“Os projetos agora aprovados serão, com toda a certeza, uma contribuição das ciências da engenharia para uma atenuação dos efeitos nocivos deste processo, mostrando assim uma dimensão societal característica do ambiente FEUP”, defende Renato Natal, professor da FEUP e principal dinamizador da iniciativa FEUP – Engenharia Voluntária, que reúne os vários esforços que vêm sendo desenvolvidos no seio da faculdade no âmbito do combate à pandemia. “Um aspeto que merece a maior relevância é o facto desses docentes e investigadores terem iniciado essas atividades de forma absolutamente voluntária, apenas com o objetivo de contribuir para o bem comum”, conclui.
Do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) deverá sair por sua vez um método mais seguro para realizar doações de sangue em doentes infetados. “Temos a certeza que o contributo dos nossos investigadores nesta área de vai produzir ciência e promover transferência de conhecimento que interferirá de forma muito positiva no tratamento e orientação de condições clínicas ligadas ao COVID-19”, refere Henrique Cyrne Carvalho, diretor do instituto.
Por fim, foi também contemplado – com 30 mil euros – um projeto do INEGI que prevê o desenvolvimento de métodos de prevenção e controlo da Covid-19, com recurso a tecnologias de impressão 3d.
Demonstração de “grande vitalidade” da U.Porto
Numa reação aos resultados revelados pela FCT, Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da U.Porto com o pelouro da Investigação, destaca que “o facto de o ecossistema de investigação (da Universidade) ter angariado mas de um quarto dos projetos atribuídos, demonstra a sua grande vitalidade e o seu empenho na tentativa de ajudar a resolver este problema desde a primeira hora”.
“A nossa missão passa também por estar ao serviço da sociedade, especialmente numa altura como esta”, acrescenta o Vice-Reitor , revelando-se “satisfeito com a rapidez com que as várias faculdades e os centros de investigação associados à U.Porto mobilizaram esforços para apresentar propostas ao desafio lançado pela FCT”,
Os projetos agora financiados juntam-se então às várias iniciativas que, ao longo das últimas semanas, vêm colocando a U.Porto e, em particular, os seus centros de investigação, na linha da frente do combate à pandemia. “A nossa comunidade tem demonstrado uma capacidade ímpar na dinamização de iniciativas de combate à COVID-19. Neste contexto, a mobilização do ecossistema de investigação da U.Porto pode ter um impacto significativo na forma como vamos lidar com a pandemia”, remata Pedro Rodrigues.
No total, a iniciativa RESEARCH 4 COVID-19 recebeu 3o2 candidaturas, das quais 284 foram admitidas para avaliação. A lista completa dos projetos apoiados pela FCT, em colaboração com a Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), pode ser consultada aqui.