“Maria de Sousa: a coragem de questionar” é o mote da sessão que vai homenagear esta terça-feira, dia 23 de outubro, a investigadora e Professora Emérita da Universidade do Porto, que será galardoada com o prémio Mina Bissell.
O evento, que vai decorrer no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), a partir das 10h00, vem reforçar a vasta lista de condecorações que Maria de Sousa tem recebido ao longo da sua vida. Eminente investigadora na área da imunologia, destacou-se cientificamente pelas cruciais contribuições que deu para a definição da estrutura funcional dos órgãos que constituem o sistema imunológico. Mas a sua presença vai muito além das descobertas científicas, tendo desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento do sistema científico nacional e para a criação de toda uma nova geração de cientistas portugueses.
Maria de Sousa tornou-se investigadora numa altura em que a carreira em Portugal era pouco fomentada e que ser mulher não facilitava a realização de ambições. Formou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa. Foi Professora Assistente na Universidade de Glasgow (Escócia), onde fez o doutoramento em Imunologia, Professora Associada na Escola de Estudos Pós-graduados de Cornell Medical College (Nova Iorque) e, simultaneamente, Membro Associado e Diretora do Laboratório de Ecologia Celular no Instituto Sloan Kettering de Investigação em Cancro (SKI), em Nova Iorque (EUA).
Para além de ter publicado vários artigos científicos cruciais à definição da estrutura funcional dos órgãos que constituem o sistema imunológico, Maria de Sousa descobriu e descreveu um fenómeno a que deu o nome de ecotaxis, em 1971. Ecotaxis designa a capacidade de células de diferentes origens migrarem e organizarem-se em áreas bem delineadas dos órgãos linfoides periféricos. Um postulado ulterior (1978), considerando uma possível função do sistema imunológico na proteção da toxicidade do ferro, conduziu a estudos do sistema imunológico em doentes com uma doença genética de sobrecarga de ferro, a hemocromatose hereditária. Foi esta linha de investigação que a trouxe para o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), em 1985, ano em que também criou o Mestrado de Imunologia.
Na U.Porto, constituiu uma equipa de investigação nova no campo da hemocromatose, repartida por três instituições: o ICBAS, o Hospital Geral de Santo António e o Instituto de Biologia Celular e Molecular (IBMC), um dos institutos que deu origem ao atual Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, i3S, onde é investigadora honorária. Já em 1996, encabeçou a fusão de três mestrados que resultou na criação do «Programa Graduado em Biologia Básica e Aplicada» (GABBA) na Universidade do Porto, o primeiro programa doutoral em Portugal.
Em 1994, foi-lhe atribuído o «Bial Merit Award in Medical Sciences» e, no ano seguinte, o então Presidente da República Mário Soares conferiu-lhe o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique-. Em 2004, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior conferiu-lhe o prémio «Estímulo à Excelência». Em 2010, a Universidade do Porto atribuiu-lhe o título de Professor Emérito. O Prémio «Universidade de Coimbra 2011» foi-lhe atribuído pelo seu trabalho sobre o sistema imunológico. A 20 de janeiro de 2012, foi-lhe conferido o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e, em 2016, foi elevada a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, uma das mais altas distinções por mérito literário, científico e artístico.
Maria de Sousa é uma mulher de Ciência e, acima de tudo, uma mulher com “coragem de questionar”, tendo revolucionado ideias e paradigmas. Estas características estão na base da atribuição do Prémio Mina J. Bissell, que distingue personalidades que contribuíram para o avanço da ciência e é atribuído a cada três anos a um cientista cuja carreira científica tenha revolucionado a nossa percepção sobre uma questão ou área científica. O galardão foi criado em 2008 como homenagem à investigadora Mina J. Bissell, conhecida por ter revolucionado a forma como a comunidade científica entende hoje o cancro.
O prémio simbólico é constituído por uma pequena escultura em forma de medalha projetada pelo escultor português Zulmiro de Carvalho e será entregue pela própria Mina J. Bissell.