Num trabalho publicado por uma equipa do Instituto de Investigação e Inovação da Universidade do Porto (i3S), liderado por Luísa Pereira, em parceria com investigadores do Instituto Pasteur, em Paris, e com várias equipas asiáticas, são identificados dois genes relacionados com a inflamação dos vasos sanguíneos subjacente ao risco de Síndrome de Choque da Dengue.
Quatro outros genes foram também relacionados com o risco de Dengue Clássica, os quais interferem com o metabolismo de fármacos. A prevalência de variações genéticas nestes genes varia de acordo com a ascendência, o que explica as variações de susceptibilidade à infecção. As pessoas com ascendência europeia possuem uma combinação genética que os defende da Dengue Clássica, mas que os faz suscetíveis a formas mais graves da infeção, como por exemplo, o chamado Síndrome de Choque da Dengue.
A dengue é endémica das regiões tropicais e subtropicais do Leste Asiático e das Américas. No entanto, os vírus causadores da doença espalharam-se recentemente para a América do Norte e a Europa. A dengue pode levar a um amplo espectro de sintomas/doenças, que vão desde a Dengue Clássica, semelhante a uma gripe, passando pelo Febre Hemorrágica da Dengue, até ao Síndrome de Choque da Dengue, quando os órgãos começam a entrar em falência. A diversidade étnica tem sido considerada como um dos fatores que explicam por que razão as formas graves de dengue são mais prevalentes no Sudeste Asiático do que em outros lugares.
À medida que a globalização e as mudanças climáticas espalham doenças tropicais em todo o mundo, nem todas as populações são igualmente suscetíveis à infecção. As variantes genéticas comuns a pessoas de ascendência asiática e europeia, por exemplo, confere-lhe maior propensão para o síndrome severa de choque ao dengue do que as de origem africana, de acordo com o novo estudo em doenças tropicais negligenciadas.
O trabalho agora apresentado tem por base um vasto estudo genético a 411 pacientes com infecção por vírus da dengue e 290 indivíduos saudáveis admitidos em três hospitais na Tailândia entre 2000 e 2003. Os resultados demonstram que o risco genético, conferido pelas combinação das variantes nesses genes, é muito diferente entre os povos: os asiáticos do Sudeste e do Nordeste são altamente suscetíveis aos vírus, apresentando Dengue Clássica e Síndrome de Choque da Dengue, enquanto os africanos estão melhor protegidos contra o Síndrome de Choque da Dengue. Por seu lado, os europeus estão mais protegidos contra Dengue Clássica, mas são os mais suscetíveis ao Síndrome de Choque da Dengue.