Um trabalho que estimou, pela primeira vez, a prevalência da obesidade em todos os segmentos etários da população portuguesa valeu *a investigadora Andreia Oliveira, da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), uma distinção no 21º Congresso Português de Obesidade, na categoria designada “Obesidade e Comorbilidades”.
O estudo, elaborado a partir dos dados do Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF) 2015-2016, avaliou as prevalências de obesidade generalizada (através do cálculo do índice de massa corporal) e central (perímetro da cintura) de várias franjas da população portuguesa, desde as crianças até aos idosos.
Os resultados da investigação, que contou também com a participação das investigadoras Joana Araújo, Milton Severo, Daniela Correia, Elisabete Ramos, Duarte Torres e Carla Lopes, revelam que 22% dos portugueses têm obesidade e 34% pré-obesidade (estado em que um indivíduo já se encontra em risco de desenvolver obesidade). “Somando os dois valores, constata-se que 6 em cada 10 portugueses (60% da população) são pré-obesos ou obesos”, sublinha Andreia Oliveira, primeira autora do estudo, coordenado por Carla Lopes.
Analisando os dados por sexo, faixa etária e nível de escolaridade, concluiu-se que a obesidade é significativamente superior nas mulheres, nos mais idosos e nos indivíduos menos escolarizados, o que os torna grupos de risco.
Já a nível de obesidade abdominal, definida como a razão entre o perímetro da cintura e o perímetro da anca e calculada apenas para a população adulta, verificou-se que os homens são os mais afetados, particularmente os mais idosos.
“Com este estudo, conseguimos ver o aumento gradual da obesidade ao longo da idade. Percebemos que nas crianças e nos adolescentes já há uma percentagem bastante considerável de pré-obesidade (17% e 24%, respetivamente), e que os valores sobem nos adultos e aumentam muito nos idosos”, refere a investigadora.
“Sabemos que as prevalências de obesidade estão a aumentar consideravelmente em todo o mundo. Daqui a uns anos, a situação poderá tornar-se mesmo caótica. Se, hoje em dia, os níveis de pré-obesidade e de obesidade são já tão elevados em idades precoces, no futuro, veremos que a percentagem de crianças e jovens obesos poderá ser ainda maior, dado que sabemos que há uma elevada probabilidade de uma criança obesa vir a ser um adulto obeso”, menciona Andreia Oliveira. “E esta situação é duplamente problemática, porque a obesidade é um fator de risco para o aparecimento de várias outras doenças, como o cancro, doenças cardiovasculares e também patologias do foro psicológico. Em termos de saúde pública, é um problema grave com grande prevalência no nosso país“, acrescenta.
A investigação permitiu também identificar pontos de mudança ou de viragem para se tentar intervir posteriormente. “Observámos que aos 15 anos há um ponto de inflexão nas prevalências de obesidade, ou seja, estas vêm a diminuir em anos anteriores, e nesta idade começam a aumentar. A faixa dos adolescentes é na verdade aquela que parece apresentar piores indicadores, destacando-se o baixo consumo de fruta e hortícolas, a elevada ingestão de refrigerantes e a inatividade física, com base nos resultados do mesmo Inquérito”.
A nível de intervenções específicas, Andreia Oliveira refere que “já há muitos programas/estratégias que estão a ser estudados e implementados, como, por exemplo, a mudança das disponibilidade alimentares, a taxação de bebidas açucaradas e a criação de infraestruturas para a prática de atividade física” e frisa que o caminho deverá passar pela aposta em “programas mais estruturais e pelo reforço da legislação”.
O trabalho, designado “Prevalence of general and abdominal obesity in Portugal: comprehensive results from the National Food, Nutrition and Physical Activity Survey 2015-2016”, foi distinguido no dia 26 de novembro, durante a cerimónia de encerramento do 21.º Congresso Português de Obesidade.