Vamos Verbalizar Nuno Grande? Pela voz de um familiar, um colega ou um amigo, vamos ouvir, na primeira pessoa, histórias, episódios, memórias de quem acompanhou de perto a vida de Nuno Grande. E que melhor forma para colocar um ponto final no programa que, durante um ano, homenageou a Figura Eminente da Universidade do Porto 2022?

O ponto  de encontro será às 18h00 do próximo dia 23 de fevereiro, no Salão Nobre da Reitoria. Aberta a toda a comunidade, esta será uma oportunidade para conhecer melhor o humanista, pensador, médico, fundador e professor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). O “homem de corpo inteiro” como gerações de médicos o consideraram.

Alexandre Alves Costa, Júlio Machado Vaz, Manuel Correia Fernandes, Alexandre Quintanilha, Mário Barbosa e Artur Santos Silva são alguns dos mais de 20 nomes que vão contribuir com os seus testemunhos (ver programa completo), cada qual acompanhado pela projeção de uma fotografia. O último será o de Beatriz Azevedo, a neta mais velha que irá falar, precisamente, da relação de Nuno Grande com os netos.

Nesta que é a sessão de encerramento de um longo programa dedicado à Figura Eminente da U.Porto 2022, o que motivou o relato na primeira pessoa? A comunhão de histórias? Qual a real importância que o homenageado dava a quem o rodeava? A resposta surge na primeira pessoa…

“Não sei se algum homem conseguiu viver sem amigos. Penso que tal facto é de tal modo inumano que não acredito que possa ter acontecido. Os amigos são a expressão da existência de cada um, projetada fora dos limites da respetiva realidade biológica. Assim, as minhas alegrias e tristezas só existem quando se refletem nas atitudes dos que as compreendem e com elas são solidários”, escrevia Nuno Grande, num texto intitulado Amigos.

“Em cada amigo, quando a amizade é autêntica e sincera, vive um pouco de nós, facto que se objetiva quando se altera a normalidade do quotidiano e se estabelece uma situação de alarme. Então, exprimindo-se das mais diversas formas, os amigos afirmam-se presentes e disponíveis, deixando-nos perceber que os nossos problemas são assumidos também por eles, o que diminui o sofrimento e aumenta a esperança”, lê-se no mesmo documento.

O jovem Nuno Grande ( em baixo à esq.), com amigos, no inicio da década de 1940. (Foto: DR)

De Vila Real para o mundo

Nascido em Vila Real, Nuno Grande (1932-2012) veio para o Porto em 1950, para estudar na Faculdade de Medicina da U.Porto. Formado em 1957, assumiu as funções de professor assistente de Anatomia, a convite de Hernâni Monteiro.

Em 1965, foi viver para Angola, onde assume o cargo de Diretor do Laboratório de Anatomia Humana do Curso de Cirurgia Humana da Universidade de Luanda. Em África, desempenha também o cargo de Presidente da Direção do Centro de Estudos Médicos Experimentais do Instituto de Investigação Científica de Angola.

Nuno Grande regressou a Portugal em 1974, depois do 25 de abril, para, juntamente com Ruy Luís Gomes e Corino de Andrade, criar o ICBAS, uma escola inspirada em Abel Salazar e na sua visão para o ensino assente no espírito de observação e de investigação.

Nuno Grande (à esq.) ao lado de Ruy Luís Gomes, Corino de Andrade e dos outros membros da Comissão Instaladora do ICBAS (1975-1981). (ICBAS)

Figura central no desenvolvimento e implementação do ICBAS e pedagogo de referência para várias gerações de médicos portugueses, foi diretor do Departamento de Anatomia e regente da cadeira de Anatomia Sistemática. Paralelamente, desenvolveu uma obra científica de grande repercussão internacional.

Para além do papel importante que teve como médico, docente e investigador, Nuno Grande destacou-se ainda pelo seu envolvimento em várias causas cívicas: desde a cooperação internacional, à participação política, até à intervenção cultural.

Dos vários cargos de relevo que assumiu ao longo da sua vida, destacam-se, entre outros, os de Pró-Reitor da Universidade do Porto para os assuntos Sociais (1988), membro do Painel de Conselheiros do Comité Científico da NATO (1989), Presidente da Direção da casa Museu Abel Salazar e a passagem pela direção da Comissão de Gestão do Instituto Nacional de Engenharia.

(Foto: DR)

Por ser um espírito invulgar, curioso, extrovertido e um excelente contador de histórias, Nuno Grande sempre conquistou quem o ouvia. No texto intitulado O Diálogo, considera que a “capacidade de permutar ideias, conceitos, valores e factos, de forma a que se consiga, com respeito pelos diferentes, chegar a um equilíbrio nas relações entre pessoas, é uma caraterística da democracia”. Vê o diálogo como “a atitude própria da espécie humana”. Que pode ser mais “construtivo quanto mais humanizados forem os interlocutores”, fundamental para a “interajuda necessária à resolução dos problemas consequentes à vida em sociedade”.

Pode ler o resto dos dois textos escritos por Nuno Grande (Amigos e O Diálogo) quem vier à sessão de encerramento da Figura Eminente da U.Porto 2022. A edição é da U.Porto Press.

Com entrada livre, o evento vai contar ainda com a atuação de dois grupos corais, o de Biomédicas e o Alumni de Biomédicas. Os discursos de abertura e de encerramento ficarão a cargo, respetivamente, do Reitor da U.Porto, António de Sousa Pereira, e do diretor do ICBAS, Henrique Cyrne de Carvalho.