Uma apaixonada pela natureza e pelas suas explorações nas poças de maré ou no quintal dos avós,  Sofia Tavares descobriu desde tenra idade que queria ser Bióloga Marinha: “Perguntavam-me se era para treinar golfinhos e eu respondia logo que não, que queria era estudar a grande barreira de coral na Austrália. Eu via muitos documentários…”, explica. Hoje com 23 anos, Sofia cumpriu o seu sonho na Universidade do Porto, que lhe atribuiu recentemente o Prémio de Cidadania Ativa, na área do Ambiente.

Na verdade, da mesma forma que cedo se apercebeu do caminho que queria traçar, também foi em criança que Sofia percebeu que a Natureza que tanto desejava conhecer estava em grande perigo e tinha de ser protegida. Tanto é que passava as férias de verão a colocar contentores de reciclagem e a ensinar toda a gente a fazer a reciclagem. “Eu era aquela pessoa chata que não deixava as pessoas atirar lixo ao chão” brinca.

Não estranha por isso que a jovem  de Famalicão tenha escolhido a biologia para fazer a diferença no mundo. E deu um passo decisivo em 2014, quando ingressou na licenciatura em Ciências do Meio Aquático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). Aí, rapidamente assumiu um papel ativo na comunidade académica: como presidente da comissão de acompanhamento de curso, no Núcleo de Estudantes de Biologia da Universidade do Porto (NEBUP), na comissão organizadora do V AEICBAS Biomedical Congress. Envolveu-se ainda em vários estágios extracurriculares em diferentes laboratórios e trabalhou em part-time durante dois anos.

Foi também nesse período que Sofia percebeu  que as ações como fazer reciclagem, desligar as luzes e a água quando não estamos a utilizar, não são suficientes para devolver à Natureza o equilíbrio que tanto se procura. Por isso mesmo, começou a interessar-se em estratégias para reduzir o seu impacto ambiental: andar de transportes públicos para todo o lado, reduzir o consumo de carne, procurar alimentos locais e sazonais, reduzir ao máximo as embalagens (desde alimentos a produtos de higiene), comprar em segunda mão e, acima de tudo, comprar menos. Muito menos…

A frequentar desde 2018 o Mestrado em Toxicologia e Contaminação Ambientais do ICBAS/FCUP, Sofia Tavares está focada atualmente na tese de dissertação – centrada nas comunidades microbiológicas associadas a redes de pesca perdidas- que está a desenvolver no EcoBioTec no Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambienta (CIIMAR), no âmbito do programa pré-graduado Blue Young Talent (BYTplus).

Mas mesmo com o “tempo escasso,” a proteção ambiental continua a ser uma prioridade par aa jovem bióloga marinha. E faz por transmiti-la aos mais novos como monitora do CIIMAR, onde faz visitas guiadas e desenvolve a temática “Plástico nos Oceanos” com alunos do ensino básico. Em paralelo, é também uma das  dinamizadoras do movimento Let’s Swap, iniciativa que ajudou a fundar em 2019 com o objetivo de promover a troca de roupas como forma de combater o desperdício têxtil e promover a economia circular.

– Naturalidade? Vila Nova de Famalicão

– Idade? 23 anos

– O que mais gosta na Universidade do Porto?

O desporto! Há muita oferta de modalidades na U.Porto, isso permitiu-me manter-me ativa.

– O que menos gosta na Universidade do Porto?

A burocracia. Desde tratar de bolsas, pedir documentos a tentar mudar alguma coisa ou criar eventos (palestras, workshops, etc.), tudo ocupa mais tempo do que, na minha opinião, devia ocupar levando a algum desânimo. Sempre que tento criar eventos ou mudar algo sinto que são criados obstáculos desnecessários, mas penso que isto é um defeito das instituições no geral.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Valorizar mais ainda as atividades extracurriculares. Para que as mesmas se tornem num ponto a favor do estudante, que tenham mais valor em candidaturas a mestrados, estágios, entre outros. De forma a incentivar a que mais pessoas se envolvam com o ativismo (proteção ambiental, direitos humanos, etc.)

– Como prefere passar os tempos livres?

Adoro fazer caminhadas pela natureza (praia, floresta, campo) e explorar a vida que encontro pelo caminho. Também adoro ler e pesquisar e aprender sobre novos assuntos.

– Um livro preferido?

Kallocaína, uma distopia que se foca na perspetiva pessoal, na mente e como viver num estado totalitário pode transformar uma pessoa. Para além disso, foi escrito por Karin Boye, uma mulher pacifista, abertamente lésbica, anti-fascista a viver no século XX.

– Um disco/músico preferido?

The Doors

– Um prato preferido?

Esparguete al dente apenas com molho de tomate bem feito com manjericão.

– Um filme preferido?

O Labirinto do Fauno, de Guillermo del Toro

– Uma viagem de sonho?

Uma viagem longa a qualquer país com uma cultura diferente, que permita conhecer profundamente a cultura, história e natureza e como estas se relacionam.

– Um objetivo de vida?

Ter uma vida que me permita ter uma pegada neutra ou positiva no planeta, ajudando a implementar formas de regenerar o planeta.

– Uma inspiração? (pessoa, situação, livro, …)

Todos os ativistas que vou conhecendo, principalmente aqueles que se tornaram meus amigos. Às vezes sinto-me frustrada pelas minhas ações não estarem a ter o impacto que esperava ou por tudo o que vejo acontecer à minha volta que vai contra os meus valores, mas ver o impacto que as ações de outra pessoa tem no mundo dá-me vontade de continuar.

– O projeto da sua vida?

Neste momento o projeto da minha vida é o Let’s Swap. É um movimento de troca de roupas para que quando as pessoas precisam ou querem roupa “nova” não recorram à Fast Fashion (industria muito poluente associada a vastos problema éticos). Assim toda aquela roupa que temos no nosso armário que já não utilizamos, pode ter uma nova vida. Este é um projeto que me diz muito porque me permitiu conhecer pessoas incríveis e juntos construímos uma comunidade incrível.

– O que tens feito atualmente em prol da proteção ambiental?

Considero a educação ambiental algo com muita importância para todas as idades e níveis de formação por isso, sou também monitora no CIIMAR e estava a organizar uma Semana com várias atividades (e um swap market, claro) no ICBAS, mas que infelizmente teve que ser cancelada devido aos acontecimentos atuais. Sempre que posso, participo na Greve Climática e ajudo outros grupos de ativismo, mas infelizmente o tempo tem sido escasso.