A programar, ao piano, a inspirar e a liderar jovens em concursos de programação, a dar aulas, mais recentemente à distância, recorrendo, por exemplo, a memes e a canções dos Queen adaptadas para ensinar de forma divertida. É assim que Pedro Ribeiro, docente do Departamento de Ciência de Computadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) se sente completo.

Autor do mais recente sucesso entre os seus estudantes, Don’t Submit Now, foi precisamente na FCUP que começou o seu percurso académico. Depois de se estrear, em 1995, nas Olimpíadas Internacionais de Informática e de ser, no seu 9.º ano, o aluno mais novo de sempre a representar Portugal nesta competição, Pedro Ribeiro decidiu entrar na licenciatura em Ciência de Computadores, que terminou em 2002. Seguiram-se uma pós-graduação pela mesma faculdade em Inteligência Artificial e Computação, concluída em 2003, e o doutoramento em Ciência de Computadores, também na FCUP, em 2011.

De concorrente a treinador, Pedro Ribeiro é a pessoa por detrás das Olimpíadas de Informática em Portugal, guiando alunos na conquista de múltiplas medalhas internacionais, como por exemplo, em 2018, quando um aluno português chegou pela primeira vez a uma medalha de prata nas Olímpiadas Internacionais. Um ano depois, liderou a primeira participação de uma equipa portuguesa na final mundial do International Collegiate Programming Contest – ICPC 2019 – a maior competição de programação informática universitária do mundo -, organizado pela U.Porto.

Com a equipa da U.Porto que conduziu a um brilhante 41.º lugar na primeira participação de Portugal na final mundial do ICPC. (Foto: DR)

Já em 2020, Pedro Ribeiro conseguiu também fazer de Portugal um organizador oficial num projeto de promoção de pensamento computacional, o Bebras – Castor Informático, que em 2019 contou com a participação de mais de 5000 alunos de todo o país, do 3.º ao 12º ano.

Natural de Vila Nova de Famalicão, o docente da FCUP é também um apaixonado por música e pelo piano, tendo sido convidado, em 2018, para dar, na Reitoria da Universidade do Porto, um recital público focado na obra de Yann Tiersen.

Pedro Ribeiro tem liderado equipas do DCC-FCUP na conquista de várias medalhas em competições nacionais e internacionais. (Foto: DR)

– Naturalidade?  Vila Nova de Famalicão

– Idade? 40 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da “família U.Porto”, as pessoas que a formam e a tornam uma referência de qualidade no ensino e na investigação: docentes, investigadores, alunos e todo o pessoal não docente; do espaço físico onde o meu departamento (Ciência de Computadores) está inserido, com toda a zona verde envolvente (junto ao Jardim Botânico).

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Da burocracia e do afastamento físico e também científico entre as várias unidades orgânicas, que dificulta a colaboração e cooperação entre todos.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Precisamente mais incentivo para a U.Porto olhar mais vezes para dentro, promovendo a partilha de saberes pedagógicos e científicos e a criação de uma identidade U.Porto, de um maior sentimento de pertença à universidade como um todo, numa visão de que somos apenas uma família, uma entidade única, riquíssima na sua pluralidade e excelência.

– Como prefere passar os tempos livres?

Estar com a minha família; tocar piano e ficar imerso na música e no sentimento com tudo o resto a desaparecer; criar e resolver desafios algorítmicos, de programação.

– Um livro preferido?

Dune, de Frank Herbert (e as suas 5 sequelas), uma referência da ficção científica, quase inigualável na sua riqueza e construção de todo um universo, e uma influência fortíssima em muitas obras artísticas que surgiram depois.

– Um disco/músico preferido?

Inevitavelmente Yann Tiersen, um compositor e multi-instrumentista marcante, e o músico que mais vezes ouvi ao vivo; será raríssimo o dia em que não ouço  algumas das suas criações e o seu toque aveludado no piano, acordeão, violino, melódica ou qualquer outro instrumento; já tive a oportunidade precisamente de partilhar um pouco desta minha paixão na UP, onde tive o prazer de fazer um recital público focado na obra de Yann Tiersen, no belíssimo piano Bösendorfer que estava então estava na Biblioteca do Fundo Antigo, no edifício da Reitoria, e está agora na Casa Comum (onde de tempos a tempos vou tocar, informalmente).

– Um prato preferido?

Difícil escolher somente, mas algo como uma boa picanha, um arroz de tamboril, ou as bem tradicionais tripas à moda do Porto, sem esquecer a inevitável francesinha.

– Um filme preferido?

Sou um cinéfilo assumido, pelo que gosto imenso de seguir a “7ª arte”. É difícil escolher um só filme, mas destacaria o Clube dos Poetas Mortos, pela mensagem relacionada com a educação, o papel de um docente como motivador e catalisador, e pelo incentivo à criatividade e pensamento individual; contudo, parece quase um crime não falar de pérolas cinematográficas como o Padrinho, de realizadores atuais como Christopher Nolan, Denis Villeneuve ou Quentin Tarantino, sem esquecer filmes de outros países, como a França (ex: Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain; Les Intouchables), Itália (ex: Il buono, il brutto, il cattivo; La vita è bella), Coreia do Sul (ex: Parasitas, Oldboy) ou India (ex: 3 Idiots, Dangal).

– Uma viagem de sonho?

Tenho a felicidade de já ter feito muitas das minhas experiências de sonho, como ver o Grand Canyon no Arizona, as pirâmides egípcias de Gizé, as ruínas maias no Yucatan, o Burj Khalifa no Dubai, atravessar a passadeira na multidão de Shibuya, em Tóquio, andar de tuk tuk no meio do caótico trânsito de Banguecoque ou interagir com um canguru na Austrália; tenho no entanto ainda várias coisas por concretizar na minha “bucket list”, entre as quais destacaria fazer um trek nos Himalaias, vendo o Monte Evereste a partir do Kala Patthar e de Gokyo Ri; conhecer os outros grandes parques naturais americanos, como Yosemite, Yellowstone, Zion ou Bryce Canyon; e visitar a Patagónia, os Andes e os seus glaciares.

– Um objetivo de vida?

Ser feliz e distribuir essa felicidade pelos outros; continuar a motivar e a inspirar os jovens, e geração do futuro, ajudando-os a ganhar asas próprias na descoberta de todo o seu potencial.

– Uma inspiração?

A vida em todas as suas formas e complexidade, o dom da imaginação humana e este privilégio de andarmos (temporariamente) pelo mundo.

– O projeto da sua vida…

A minha família e em particular os meus dois filhos; os concursos de programação e pensamento computacional no geral, como plataforma de motivação, de promoção da excelência e de descoberta e captação de talentos.

– Qual foi até agora a competição de programação que mais gostou de organizar e de participar e porquê?

É difícil escolher só uma, porque quer como participante, quer como organizador, são uma parte indelével da minha personalidade e nesta comunidade sinto-me em casa, em família. Contudo, pela facto de terem sido pivotais no meu percurso enquanto aluno (começando logo no meu 9.º ano de escolaridade), pela sua constância temporal (desde 2005 que lidero a delegação portuguesa nas Olimpíadas Internacionais e toda a gestão científica, e desde 2006 que tenho organizado a final nacional no Porto, no DCC/FCUP), e diria que são as Olimpíadas de Informática, que me permitem todos os anos conhecer novos e interessantes alunos, que muitas vezes ainda não conhecem as suas próprias capacidades, e quanto terminam o seu percurso “olímpico” adquirem uma visão muito mais abrangente e ambiciosa, seguindo percursos profissionais e académicos nas mais reputadas instituições mundiais, muitos deles mantendo o cordão umbilical com as Olimpíadas, ajudando na preparação de problemas e treino dos alunos de outros anos, precisamente porque percecionam a importância das Olimpíadas na sua visão e projeto de vida, e querem também “dar um pouco de volta”.

– Um conselho para os jovens que pretendam seguir uma carreira na área da Ciência de Computadores?

Acima de tudo, como qualquer cientista, que acarinhem o gosto pela resolução de problemas, que não percam a curiosidade e o prazer de aprender, de serem criativos e arriscarem. A Ciência de Computadores é muito mais fundamental do que a programação e até do que os computadores (como os conhecemos hoje em dia), e trata do que é computável, do que é “exequível”, e de quão precisos e eficientes podemos ser, seja qual for a plataforma que usamos para executar uma tarefa. Ciência de Computadores e o gosto por algoritmos é efetivamente um “modo de vida” e uma área fascinante, com grande influência na história atual da humanidade e com capacidade para nos devolver satisfação não só intelectual, mas também emocional. Se esta for uma área que também vos fascina, não deixem de me contactar, seja qual for o vosso percurso académico, e se for esse o vosso desejo, cá estarei eu, pessoalmente, e o Departamento de Ciência de Computadores da FCUP, coletivamente, para vos receber e guiar nesta viagem, cultivando esta paixão.