Desde cedo que João Lobo tem procurado envolver-se em atividades de investigação translacional e clínica na sua atividade médica em Anatomia Patológica. Para tal, foi importante a sua formação em Medicina e o doutoramento em Patologia e Genética Molecular pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) onde, atualmente, é docente convidado, para além de médico interno e Investigador Júnior do grupo de investigação em Epigenética e Biologia do Cancro (GEBC) do IPO-PORTO, liderando a linha de investigação na área dos tumores do testículo.
Foi, de resto, no mesmo grupo que desenvolveu o projeto de doutoramento – intitulado “Uncovering novel prognostic and predictive epigenetic biomarkers in malignant testicular germ cell tumors” -, dedicado à descoberta de novos biomarcadores histopatológicos e epigenéticos (em tecido e biópsias líquidas), bem como, de novas terapêuticas para doentes com cancro do testículo.
Para além das salas do ICBAS e dos laboratórios do IPO Porto, o trabalho de doutormento de João Lobo levou-o também até ao Princess Máxima Center (PMC) for Pediatric Oncology em Utrecht, Holanda, onde esteve durante mais de um ano. Experiências que, no seu conjunto, “permitiram-me também abrir horizontes, adquirir novas competências diagnósticas e estabelecer colaborações, tão importantes para dar continuidade à nossa linha de investigação”, diz.
O projeto de investigação que tem vindo a realizar marcou o início da linha de investigação em tumores de células germinativas do testículo no Serviço de Anatomia Patológica e no GEBC. Além do trabalho em cancro do testículo, tem-se dedicado ao estudo de biomarcadores histopatológicos e epigenéticos em outros cancros urológicos. Exemplo disso é o estudo internacional onde descobriu e avaliou a prevalência da imunoexpressão do biomarcador GATA3, especificamente no cancro da próstata metastático, que pode afetar o diagnóstico do cancro da próstata.
Autor de 115 artigos científicos em revistas internacionais e de oito capítulos de livro. João Lobo afirma-se assim, aos 34 anos, como um talento seguro da Ciência nacional. Talento esse que já lhe valeu vários prémios, incluindo o Prémio Professor Armando Moreno e o Prémio Patrono Rotativo – Professor Carlos Vasconcelos. Já a nível profissional, conquistou, entre outros, o “Tom Voûte Young Investigator Award 2019”, o “Prémio Banco Carregosa / SRNOM,4ª Edição – Menção Honrosa”; o “Prémio MSD de Investigação e Saúde, 2ª edição”, o “Prémio Rui Osório de Castro / Millennium BCP, 5ª edição”, o “Cancers 2022 PhD Thesis Award” e a “Menção Honrosa da Bolsa D. Manuel de Mello 2023”.
Para além disso, é vice-presidente do Grupo Young Investigators do Consórcio de tumores de células germinativas MaGIC – “Malignant Germ Cell International Consortium”, Membro também do “Pathology Group”, membro do Grupo Young Academic Urologists – Penile and Testis Cancer Group da European Society of Urology, e membro dos Alumni da Sociedade Europeia de Patologia. Entre 2022 e 2023, integrou a Direção da Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC).
Sobre o seu percurso como médico, João Lobo, diz estar “agradecido pelas oportunidades que tenho tido de colocar a sua atividade de investigação em prática”, pois “acredita que a atividade assistencial médica, quando apoiada na investigação centrada no doente e no ensino, se torna mais completa e motivadora, trazendo benefícios aos nossos doentes e contribuindo positivamente para os Serviços e para os profissionais de saúde.” Para além disso, afirma que os médicos anatomopatologistas se encontram “numa posição privilegiada para realizar atividade de investigação, e que podemos dar um enorme contributo aos cuidados que oferecemos aos nossos doentes.”
Sobre a atividade de docência no ICBAS, o médico investigador afirma que esta sempre foi “algo que vi com enorme gosto, talvez fruto da influência dos meus pais, ambos professores. Poder fazê-lo no ICBAS e na Universidade do Porto, onde me formei como médico, reveste-se ainda de maior importância para mim.” Dar aulas de Patologia é “um excelente desafio, manteve-me atualizado, sintonizado com novas formas de comunicar e ensinar e, com tudo isto, também aprendi”, conclui.
Naturalidade? Ovar.
Idade? 34 anos
– De que mais gosta na Universidade do Porto?
Tendo passado algum tempo no estrangeiro, tenho de realçar a elevadíssima qualidade de formação que a Universidade do Porto oferece aos seus estudantes, o que é reconhecido em qualquer lado. Gosto também do espírito de comunidade académica da UP.
– De que menos gosta na Universidade do Porto?
Talvez o facto de as Faculdades estarem um pouco dispersas, e por essa razão não interagirem tanto.
– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Aproximar as faculdades da experiência profissional / no mercado de trabalho, nas mais variadas áreas. Seria também importante promover ainda mais a atividade de investigação, investindo nas equipas. Se formamos profissionais com qualidade, temos de criar condições para manter esses profissionais por perto.
– Como prefere passar os tempos livres?
Com os amigos, viajar e ir ao cinema. E ir à praia!
– Um livro preferido?
O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. E todos os livros do Harry Potter.
– Um disco/músico preferido?
Tantos…gosto em particular de bandas como The Cranberries, Keane, Greenday, Queen. Na música nacional, o clássico Rui Veloso.
– Um prato preferido?
Francesinha! E o leite creme da minha mãe.
– Um filme preferido?
Impossível escolher apenas um…O silêncio dos inocentes, Sete pecados mortais e a trilogia do Padrinho estão entre os favoritos.
– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?
Por realizar – Japão. Gostava também de voltar aos EUA e conhecer outros Estados.
– Um objetivo de vida?
Dar sempre o meu melhor em tudo aquilo a que me proponho.
– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)
A história do Professor Abel Salazar, o “patrono” do ICBAS, sempre foi uma grande inspiração, nomeadamente como combinou a Medicina, Ciência e Cultura. “Um Médico que só sabe Medicina, nem Medicina sabe”.
– O projeto da sua vida…
Na vida profissional gostava que o meu trabalho fizesse a diferença e contribuísse para a melhoria dos cuidados de saúde prestados aos doentes. Na minha vida pessoal quero continuar feliz, e partilhar bons momentos com os meus amigos e família.
– Uma ideia para promover uma maior ligação entre a Universidade e a comunidade?
Sinto que a Universidade do Porto faz um bom trabalho neste sentido. Acredito que se podem criar ainda mais formas de divulgação do trabalho desenvolvido pelos vários membros da UP, e tenho a certeza de que isto seria gratificante e motivador para os dois lados.
– Com a atribuição recente da menção honrosa no prémio Banco Carregosa, o que representou para si este reconhecimento?
Foi muito motivador, para mim e para toda a equipa. Estamos muito contentes por ter criado as condições para estabelecer um novo teste diagnóstico no IPO do Porto, no Serviço de Anatomia Patológica. O reconhecimento do nosso trabalho de investigação na área dos tumores do testículo significa que estamos no bom caminho. Queremos continuar a apostar em oferecer os melhores cuidados possíveis a estes (e a todos) os doentes oncológicos.
– O que espera poder fazer para a saúde oncológica de futuro?
Tudo o que for possível. O cancro é uma doença devastadora para os doentes e famílias, mas sei que se trabalharmos todos em conjunto, em equipas multidisciplinares, aliando a investigação translacional à clínica, poderemos fazer-lhe frente. A Anatomia Patológica é uma especialidade médica com um papel central na abordagem de qualquer doente oncológico, e enquanto Anatomopatologista espero contribuir todos os dias como membro desta equipa multidisciplinar de profissionais de saúde. Gostaria que o meu trabalho de investigação na área do cancro (nomeadamente dos cancros urológicos) pudesse ajudar a desenvolver biomarcadores não invasivos que facilitassem o rastreio, diagnóstico precoce e seguimento dos doentes. Deste modo poderíamos tratar os doentes atempadamente, com menor toxicidade, permitindo não só uma melhor sobrevida, mas também uma melhor qualidade de vida após vencer a doença. Temos de nos preocupar em melhorar a sobrevida, mas também a qualidade de vida dos sobreviventes de cancro.