Já andava com pedras nos bolsos aos cinco anos e, cinco anos mais tarde, haveria de fazer a sua primeira descoberta paleontológica nas serras de Valongo – um fóssil de trilobite. Foi assim que começou o sonho de Pedro Correia em tornar-se paleontólogo profissional. Um sonho tornado realidade na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Hoje, aos 40 anos, este investigador do Instituto das Ciências da Terra, na FCUP, tem publicado descobertas atrás de descobertas nas áreas da paleobotânica e paleoentomologia, áreas que se dedicam ao estudo de fósseis de plantas e de insetos, respetivamente.

Ainda o ano não vai a meio, e já publicou dois estudos que nos ajudam a conhecer melhor a história da Terra e como era a relação entre os insetos e as plantas há 300 milhões de anos.

Licenciado em Geologia pela FCUP, em 2007, seguiu para o Doutoramento em Geociências para se especializar em paleontologia, em 2016. E foi na sequência do seu trabalho durante o doutoramento que chegou às conclusões que nos apresenta nos mais recentes estudos, fruto do trabalho de campo na Bacia Carbonífera do Douro, em S. Pedro da Cova.

Com mais de dez anos de carreira, não chegam duas mãos para contar o número de espécies novas de plantas e de insetos que já descobriu e nomeou. Para os nomes, vai buscar a inspiração através de homenagens a geólogos e paleontólogos, como é o caso, por exemplo, da Annularia noronhai, assim nomeada em homenagem ao docente da FCUP, Fernando Noronha.

Natural de Valongo, este “naturalista com uma enorme paixão pela ciência”, como se descreve, tem novos projetos para desvendar. Entretanto, diz-nos que há novidades para breve, visto que está já a preparar-se para caracterizar quatro novas espécies baseadas em fósseis vegetais descobertas na Bacia Carbonífera do Douro, em S. Pedro da Cova.

Naturalidade? Valongo

Idade? 40  anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

A Universidade do Porto foi sempre considerada uma das melhores universidades públicas portuguesas com reconhecimento internacional, por promover um ensino de qualidade e investigação científica de excelência, e isso foi sempre o que procurei numa instituição de ensino superior.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Penso que a U.Porto poderia aproveitar melhor o conhecimento e know-how dos seus antigos alunos e proporcionar-lhes mais oportunidades de emprego na sua própria instituição de ensino ou área de investigação, evitando assim a emigração de muitos recém-doutorados e investigadores qualificados. Julgo também que deveria de haver uma melhor articulação e aproveitamento de oportunidades a desenvolver-se entre cada aluno de doutoramento e a U.Porto, desde o ingresso em determinado curso até a finalização do mesmo quer no campo de investigação, quer na sua aplicação futura na comunidade.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

A U.Porto poderia criar uma revista científica, tida como uma publicação científica e académica da Universidade do Porto, que compilasse os trabalhos de investigação desenvolvidos nas diferentes faculdades e institutos que a integram, de forma a divulgá-los a toda a comunidade universitária. Mais importante ainda, seria criar uma espécie de fundos de solidariedade dentro da universidade com a atribuição de pequenas bolsas para jovens investigadores ou investigadores doutorados sem vínculo contratual, de modo a poder mantê-los nas suas instituições e assim permitir que cada um deles pudesse continuar a desenvolver os seus projetos de investigação.

– Como prefere passar os tempos livres?

Praticar desporto e passear pelo campo.

– Um livro preferido?

Tenho alguns, por exemplo, gostei de ler As Montanhas de São Francisco do Walter Alvarez, A Vida é Bela do Stephen Jay Gould, e O Elo do Colin Tudge. Curiosamente, publiquei recentemente um artigo científico com uma nova espécie de planta fóssil (Douropteris alvarezii) que foi dedicada ao Walter Alvarez, autor da teoria da extinção dos dinossauros provocada pela colisão de um asteróide há cerca 65 milhões de anos.

– Um disco/músico preferido?

Não tenho um músico ou um disco preferido, mas ultimamente tenho ouvido os AC/DC e David Bowie, por exemplo.

– Um prato preferido?

Arroz de bacalhau e sopa de tomate da minha mãe.

– Um filme preferido?

Tenho vários, mas diria que o A Lista de Schindler, o Titanic e o Diamante de Sangue são alguns dos filmes que mais gostei de ver.

– Uma viagem de sonho?

Tenho algumas ‛viagens de sonho’, e sendo um amante da natureza, gostava de conhecer, por exemplo, a Amazónia e o Parque de Sequóias Gigantes na Califórnia.

– Um objetivo de vida?

A vida é feita de sonhos e desafios, mas enquanto cientista, continuar a fazer uma das coisas que mais me dá prazer, fazer ciência!

– Uma inspiração?

Os meus pais.

– O projeto da sua vida…

Tenho dois projetos que desejo realizar. Um deles é um dia me tornar professor universitário, e um outro é fazer uma expedição científica aos Xistos de Burgess nas Montanhas Rochosas do Canadá, considerada uma das jazidas de fósseis mais importantes do mundo para o estudo da vida animal primitiva.

–  Como surgiu o seu interesse pela paleontologia e mais concretamente pela paleobotânica?

O meu interesse pela paleontologia surgiu nos meus tempos de criança. Desde tenra idade que observava com curiosidade e entusiasmo as pedras e os animais que encontrava no campo. A minha mãe diz que quando eu tinha cerca de quatro ou cinco anos já andava com pedras nos bolsos e apanhava lagartixas por essa altura. A minha primeira descoberta paleontológica foi um fóssil de uma trilobite que descobri nas serras de Valongo quando eu tinha nove ou dez anos de idade. Tive a sorte de ter crescido e vivido toda a minha infância e adolescência em Valongo, uma região que é particularmente rica em fósseis de animais marinhos já extintos, sobretudo em trilobites, que viveram durante a era Paleozóica. Comecei a comprar livros de paleontologia e apaixonar-me pelos fósseis que encontrava perto da minha casa. Foi esse fascínio que me levou a perseguir o sonho de ser paleontólogo. Sempre tinha no pensamento a ideia que um dia iria descobrir algo muito importante para a ciência, e penso que já consegui fazer algumas descobertas importantes na área das Geociências. O interesse particular pela paleobotânica apareceu quando fiz um estágio curricular em paleobotânica no meu último ano de licenciatura em Geologia, com fósseis que tinha descoberto, alguns anos antes, em São Pedro da Cova (Gondomar), uma das regiões portuguesas mais ricas em fósseis vegetais do período Carbonífero. Depois, seguiu-se um doutoramento sobre a flora e fauna fóssil da Bacia Carbonífera do Douro, que concluí em finais de 2016. Desde então tenho continuado os estudos sobre a diversidade da flora e fauna do Carbonífero português. Neste momento encontro-me a trabalhar em cinco novos manuscritos nos quais estão a ser descritos fósseis de quatro espécies de plantas novas para a ciência.