Pedro Correia, paleontólogo e naturalista do Instituto das Ciências da Terra (ICT) e antigo estudante da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), publicou recentemente um estudo no International Journal of Plant Sciences, da Universidade de Chicago, em que revela a descoberta de um fóssil de uma nova espécie de planta que traz novidades sobre como era a relação entre plantas e insetos há cerca de 300 milhões de anos.

Trata-se de uma nova espécie de cavalinha, uma planta que existe em abundância em Portugal e que tem uma linhagem histórica muito antiga e um registo fóssil que vai desde o Devónico Superior até à atualidade.

Descoberta em S. Pedro da Cova, Gondomar,  na Bacia Carbonífera do Douro, do Pennsylvánico Superior de Portugal, esta espécie recebeu o nome Annularia paisii, em homenagem ao paleontólogo João Pais (1949–2016), especialista em plantas fósseis da Universidade Nova de Lisboa.

“Uma das curiosidades desta espécie é que tinha uma galha, ou seja, uma reação da planta induzida por insetos, fungos, bactérias, ou outros indutores”, explica Pedro Correia. A maioria das plantas reage a ataques de insetos formando galhas. “Os grandes bugalhos das azinheiras são porventura as galhas mais conhecidas em Portugal”, exemplifica.

Uma história com 315 milhões de anos

No caso da Annularia paisii, esta galha, que recebeu o nome de Paleogallus carpannularites, foi induzida por um artrópode (filo a que pertencem insetos como os escaravelhos), mais conhecido como inseto galhador.

E o que faz este inseto? “O dano causado por este inseto consiste em estruturas de plantas atipicamente aumentadas (“galhas de insetos”), tridimensionais, conspícuas, geralmente de simetria bilateral ou radial e endurecidas externamente”, concretiza o investigador. Estas galhas são particularmente vantajosas para as larvas de insetos que ficam  encapsuladas com um fornecimento constante de um microclima, de nutrição e de proteção contra inimigos naturais.

annularia gall

A galha desta planta, que recebeu o nome de Paleogallus carpannularites, foi induzida por um artrópode, mais conhecido como inseto galhador. Foto: DR

Os padrões de herbivoria (predação) de insetos e outros artrópodes nas cavalinhas eram pouco conhecidos, até serem agora abordados por este artigo que documenta 315 milhões de anos de interações ecológicas entre os artrópodes terrestres e esta espécie de planta e que reitera a importância do registo fóssil do carbonífero português.

Este é o segundo estudo de Pedro Correia publicado este ano e que nos ajuda a perceber mais sobre a história da Terra e como era o nosso planeta há milhões de anos.

Também não é a primeira vez que este investigador doutorado em Geociências pela FCUP homenageia paleontólogos portugueses, dando o nome destes às novas espécies descobertas. O mesmo aconteceu aquando da atribuição do nome Annularia noronhai, em homenagem ao antigo docente da FCUP, Fernando Noronha.