Pedro Correia, paleontólogo e naturalista do Instituto das Ciências da Terra (ICT) e antigo estudante da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), publicou recentemente um estudo no prestigiado jornal Scientific Reports (Nature Research), em que revela novos detalhes sobre o supercontinente Pangeia que deu origem à Terra tal qual hoje a conhecemos.

Resultado de 10 anos de investigação, este paper, realizado em colaboração com Brendan Murphy, professor da Universidade St. Francis Xavier, na Nova Escócia (Canadá), mostra o “elo perdido” entre os continentes Laurásia (América do Norte) e Gondwana (território que englobava a Península Ibérica) durante a fusão final da Pangeia e permite confirmar qual era a configuração deste supercontinente quando se começou a decompor há 200 milhões de anos.

“O nosso estudo documenta as primeiras evidências paleobotânicas, biostratigráficas, paleoambientais e paleoclimáticas de uma ligação geográfica entre os Apalaches na costa leste dos Estados Unidos e a Ibéria que ocorreu no Pennsylvánico Superior, há cerca de 307- 299 milhões de anos”, explica Pedro Correia.

O trabalho agora publicado mostra o “elo perdido” entre os continentes Laurásia e Gondwana durante a fusão final da Pangeia. (Foto: DR)

Um modelo em xeque

Se a maioria da comunidade científica acreditava numa configuração clássica (Pangeia-A) relacionada com a teoria da deriva continental, havia quem defendesse um modelo alternativo em que a Pangeia teria mudado a sua configuração nos 180 milhões de anos anteriores devido a tensões internas. Este modelo, também conhecido como Pangeia-B, defende que Gondwana estaria localizada a cerca de 3000 km a leste em relação à América do Norte, em comparação com a configuração Pangeia-A.

O trabalho desenvolvido pelo alumnus da FCUP contraria o modelo Pangeia-B. “Os nossos dados mostram que a Ibéria e a Laurentia estavam localizados ao longo do mesmo cinturão paleo-equatorial há 300 milhões de anos, que é precisamente onde eles estariam numa reconstrução da Pangeia-A”.

O estudo revela, por exemplo, o momento de elevação das montanhas dos Apalaches e Ibéricos (Varíscos) e mostra que as antigas massas terrestres da Laurentia e Iberia partilhavam o mesmo ambiente “dryland” (clima seco).

“O nosso trabalho mostra a consequente dispersão e migração de floras adaptadas ao clima seco e quente durante aquele intervalo de tempo (transição do Carbonífero para o Pérmico), como resultado da aridificação inicial no interior da Pangeia durante a sua fusão final com a colisão entre Laurásia e Gondwana”, refere o paleontólogo.

Doutoramento na FCUP esteve na origem do estudo

Na origem destas conclusões, esteve a tese de doutoramento em Geociências de Pedro Correia, concluída em 2016. O antigo estudante da FCUP estudou as rochas sedimentares carboníferas (com cerca de 300 milhões de anos) na Bacia do Douro (parte superior da Pensilvánico, noroeste de Portugal) da Península Ibérica, que foram depositadas na mesma época em que o supercontinente Pangeia se estava a formar por colisões continentais entre a América do Norte, Europa e África.

Pedro Correia é licenciado em Geologia e doutorado em Geociências pela FCUP. (Foto: DR)

Durante o trabalho de campo realizado, o investigador encontrou duas novas espécies de plantas fossilizadas – Ilfeldia gregoriensis e Lesleya iberiensis correspondentes à idade do Gzheliano (Carbonífero superior), há cerca de 303 milhões de anos e que, por estarem adaptadas a ambientes de clima seco nas regiões tropicais da Pangeia central, foram pontos-chave para as conclusões agora dadas a conhecer.

Recorde-se que Pedro Correia foi recentemente notícia – e destaque na edição portuguesa da National Geographic – por ter descoberto , em conjunto com a sua equipa, uma nova espécie de planta fóssil nos afloramentos carboníferos de São Pedro da Cova. A esta nova espécie foi dado o nome de Annularia noronhai, em homenagem ao geólogo e antigo docente da FCUP Fernando Noronha.