Séculos depois, faz reverberar Dante como um sopro que começa em Florença e atravessa civilizações até chegar a nós, sem nunca perder o fôlego. Mas é um voo recente, este que Pedro Eiras fez, rente à poesia. O mesmo que vai partilhar no próximo dia 15 de novembro, a partir das 18h00, na Casa Comum (à Reitoria) da Universidade do Porto a bordo de mais uma sessão do ciclo “Ouvir, 59 minutos de imersão poética”, organizado pela U.Porto. em parceria com a Porto Editora.

Com mais de duas dezenas de livros publicados, resultado de contágios por diferentes géneros, Pedro Eiras é professor de Literatura Portuguesa na Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), investigador, ensaísta, dramaturgo. Em 2022, estreou-se na poesia com Inferno, primeiro volume de um tríptico que visita A Divina Comédia, de Dante Alighieri.

Posicionando-se às portas do Inferno, avisa que a humildade pode ser um caminho para lá chegar. O alerta é tanto para o leitor como para a si próprio. Entrar no seu processo de escrita é levá-lo à consciência da autovigilância. Faz com que identifique fenómenos vários a montante da escrita. Importa-lhe o som que as palavras emitem, o número de sílabas da palavra e a própria cor que lhes associa. Há uma lógica própria que se ergue e constrói a narrativa… E o final pode autonomizar-se da vontade inicial. Ser outra coisa.

Também lhe importam os números. O 13, por exemplo, aparece em diferentes publicações. E há outras características que o têm acompanhado ao longo do percurso: atirar o peito à falha. Errar. Fazer o que não é suposto fazer (como este imiscuir em “territórios dantescos”) e ouvir Bach. Reconhece que escrever é um eterno piscar de olho a tudo o que já lemos e se fez osmose dentro daquilo que somos. De resto, um dos seus livros, o Ensaio sobre os Mestres, é feito de citações. São 12 anos de trabalho que resultaram em 500 páginas com 2.500 citações.

É através de uma reflexão sobre o mundo contemporâneo e os seus desafios que Pedro Eiras entra e sai, num trânsigo que transforma em metamorfose de A Divina Comédia. Depois do Inferno (2020) fez sair o Purgatório (2021) e, para finalizar o tríptico, o Paraíso (2022), que sucumbe à barbárie dos homens e ao anúncio do fim dos tempos. São os últimos cantos que, recorrendo à poesia “dos grandes mestres”, permitem ascender às últimas esferas do céu. Três livros de poemas em torno da obra-prima de Dante Alighieri.

Para “Ouvir, 59 minutos de imersão poética”, a proposta não podia ser mais literal. Vamos ouvir a voz de Pedro Eiras, durante 59 minutos. Com tanto pano, há uma manta de retalhos para envolver a conversa com Fátima Vieira, Vice-Reitora com pelouro da Cultura da U.Porto. Já saberá o autor responder à pergunta (como no Inferno): “Uma boa vida ou um bom verso?” Há que vir atravessar esta “floresta” connosco, para saber.

A entrada é livre, mas limitada à lotação do espaço.

Pedro Eiras: os passos em volta das palavras

Pedro Eiras nasceu no Porto em 1975. Desde 2001, publicou obras de ficção (Bach, Cartas Reencontradas de Fernando Pessoa, A Cura), teatro (Um Forte Cheiro a Maçã, Uma Carta a Cassandra, Um Punhado de Terra, Bela Dona), ensaio (Esquecer Fausto, Tentações, Os Ícones de Andrei, Constelações, Platão no Rolls-Royce) e poesia (Inferno, Purgatório e Paraíso).

Inferno, a sua estreia na poesia e o primeiro volume de um tríptico que muito literalmente visita a obra de Dante Alighieri, venceu o Prémio Literário António Cabral e foi o único livro de poesia finalista ao Prémio Oceanos 2020.

Publicou ainda vários livros em França, na Roménia, no Brasil. As suas peças de teatro foram encenadas e lidas em dez países.

Ouvir, 59 minutos de imersão poética

Privilegiando a audição como sentido crítico, partimos numa viagem. Sentados ou deitados em almofadas, teremos por companhia uma narrativa sonora inspirada no universo do autor convidado e elaborada por estudantes do Mestrado em Multimédia da Faculdade de Engenharia da U.Porto. Depois ouvimos a voz do autor, a dizer os seus próprios poemas, ficando a conversa para o final da sessão.

Esta iniciativa é uma parceria entre a Porto Editora – responsável pela programação e curadoria do evento – e a Universidade do Porto.