Uma equipa de investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) está a desenvolver um estudo que pretende avaliar o efeito que a exposição “crónica” à informação e o pensamento repetitivo sobre as alterações ambientais têm sobre a saúde mental de adolescentes de 17 anos.

Para este efeito, serão utilizados dados da Coorte Geração 21 e todos os seus elementos serão convidados a participar neste estudo, preenchendo um questionário online, enviado por email e SMS após autorização dos pais/cuidadores.

Este questionário é composto por três secções. A primeira parte será referente à avaliação do nível de ecoansiedade e das eco-emoções que podem surgir em resposta às preocupações relacionadas com as alterações ambientais

A segunda parte irá avaliar a adoção de comportamentos pró-ambientais, as atitudes em relação ao desejo de ter filhos e o acesso à informação acerca de questões ambientais. Já a terceira secção será composta por questões relativas à saúde física e mental dos participantes.

Os efeitos das alterações ambientais na saúde mental

Ao debruçar-se sobre o efeito que a exposição “crónica” à informação e o pensamento repetitivo sobre as alterações ambientais têm sobre a saúde mental de adolescentes, este estudo procurará também identificar determinantes ambientais, demográficos, socioeconómicos e psicológicos da ecoansiedade. 

Pretende-se ainda perceber se sentir ecoansiedade se traduz ou não na adoção de comportamentos individuais ou coletivos que contribuam para a mitigação das alterações climáticas (por exemplo, fazer reciclagem ou optar por utilizar produtos menos prejudiciais para o ambiente).

O impacto da ecoansiedade no quotidiano dos adolescentes

As alterações climáticas estão na ordem do dia e configuram um dos maiores desafios que a sociedade do século XXI terá de enfrentar. Além da degradação ambiental – uma consequência evidente das alterações climáticas – começamos também a ouvir falar de outras problemáticas associadas, como a ecoansiedade. Este é um conceito para o qual não existe ainda uma definição consensual, mas que expressa uma condição psicológica de preocupação extrema com as alterações climáticas e com o seu impacto no presente e no futuro do planeta.

A ecoansiedade manifesta-se através de um conjunto de emoções e pensamentos negativos e persistentes, que podem inclusivamente afetar a funcionalidade do indivíduo, levando-o, por exemplo, a ter uma menor capacidade de trabalho ou um menor rendimento escolar e podendo até afetar o seu relacionamento com os outros.

A ecoansiedade em Portugal

Em Portugal, não existe ainda uma quantificação ou caracterização da ecoansiedade. Um cenário que a equipa multidisciplinar de investigadores responsáveis pelo estudo – Ana Isabel Ribeiro, geógrafa, Ana Henriques, psicóloga, Inês Vilaça e Henrique Barros, ambos médicos – considera particularmente grave, ou não fosse Portugal, devido à sua posição geográfica, particularmente suscetível a fenómenos ambientais provocados pelas alterações climáticas.

A literatura indica que o final da adolescência e início da idade adulta são períodos em que a ecoansiedade é mais frequente. De um modo global, sabe-se também que a saúde mental dos adolescentes tem vindo a degradar-se nos últimos anos.

A Organização Mundial de Saúde apela para que todos os adolescentes com perturbações da saúde mental tenham acesso a intervenção psicológica precoce e baseada na evidência e a terapêuticas não farmacológicas baseadas na comunidade. Ora, considera-se que a criação de terapêuticas, neste caso particular, dirigidas à ecoansiedade, requer primeiro um estudo aprofundado para um melhor conhecimento do fenómeno.