O tipo de cirurgia mamária a que as mulheres são submetidas para o tratamento de cancro da mama tem influência sobre a sua qualidade de vida nos anos seguintes ao diagnóstico, assim como a presença de sintomas de depressão, ansiedade e má qualidade do sono. Estas são as conclusões de um estudo desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que teve como objetivo avaliar a evolução da qualidade de vida de um conjunto de doentes com cancro da mama nos primeiros três anos após o diagnóstico da doença.

De acordo com este estudo, publicado na revista Journal of Public Health, as mulheres com cancro da mama que foram submetidas a mastectomia (cirurgia de remoção completa da mama) apresentam uma pior trajetória de qualidade de vida do que aquelas que foram submetidas a outros tipos de tratamento.

Também se verificou que as doentes que, ao longo do tempo, apresentaram uma pior evolução na qualidade de vida, tinham igualmente uma maior frequência de depressão, ansiedade e má qualidade do sono.

Para chegarem a estas conclusões, os investigadores avaliaram a trajetória da qualidade de vida de 451 doentes com cancro da mama, que integram a coorte NEON-BC, um estudo longitudinal que acompanha, desde 2012, 506 mulheres diagnosticadas com a doença e propostas para tratamento cirúrgico no IPO-Porto. Para o efeito, foi levada em conta a qualidade de vida das participantes em três momentos: a altura do diagnóstico, e um ano e três anos após a deteção da patologia, abarcando assim o período dos tratamentos.

Constatou-se ainda que um grupo de mulheres conseguiu manter uma qualidade de vida estável ao longo dos três anos e que, num outro grupo, houve uma deterioração da qualidade de vida das participantes entre o momento do diagnóstico e um ano depois.

De acordo com Luísa Conceição, primeira autora do trabalho, coordenado por Nuno Lunet, os resultados do estudo “evidenciam a importância de monitorizar a qualidade de vida nas sobreviventes de cancro da mama e reforçam a necessidade de avaliar e vigiar sintomas como a ansiedade, a depressão e a qualidade do sono, para melhorar a qualidade de vida destas mulheres, tanto a curto como a longo prazo”.

Melhorar a qualidade de vida das mulheres

Para Luísa Conceição, estudar a qualidade de vida das doentes com cancro da mama importa, porque “a sobrevivência a este tipo de cancro tem vindo a aumentar nos países mais desenvolvidos, devido ao uso frequente do rastreio e à existência de tratamentos mais eficazes”.

“É, por isso, necessário pensar em estratégias que promovam a qualidade de vida destas mulheres tanto a curto como a longo prazo, até porque a doença está associada a várias complicações resultantes dos tratamentos como a dor neuropática, problemas de sono, ansiedade e depressão”, aponta a investigadora.

Intitulado Quality of life trajectories during the first three years after diagnosis of breast cancer: the NEON-BC study, o estudo pode ser consultado aqui. Da investigação fizeram também parte os investigadores do ISPUP Mariana Brandão, Natália Araújo, Milton Severo, Teresa Dias, Bárbara Peleteiro, Filipa Fontes e Susana Pereira.