Uma equipa composta por investigadores do Laboratório de Patologia Animal do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) e do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), publicou recentemente um artigo na revista científica Food Control, da editora ELSEVIER, no qual alerta para os perigos associados ao consumo de peixe cru.

Atualmente, Portugal continua a ser um dos maiores consumidores de peixe a nível mundial, com um consumo médio anual de 60 kg por habitantes, comparado com uma média de 27 kg por habitantes na União Europeia. No entanto, esse hábito saudável pode ter consequências na saúde humana, nomeadamente pelo perigo de infeção de parasitas se o peixe for consumido cru ou mal cozinhado.

A anisaquiose é um exemplo de doença causada pela ingestão de peixe cru. Provocada pelo parasita Anisakis, é mais frequente em países asiáticos, em particular o Japão, e em comunidades piscatórias europeias e sul americanas. As manifestações clínicas mais frequentes são distúrbios gástricos provocados pela infeção com a larva, ou reações alérgicas ao químicos libertados pelo parasita no peixe.

“É muitíssimo importante conhecer melhor a situação da infeção por Anisakis dos peixes comerciais portugueses, onde infelizmente não se tem apostado muito no seu financiamento até à data”, destaca Maria João Santos, líder do grupo de investigação em Patologia Animal do CIIMAR e um dos três autores do trabalho.

A também investigadora da FCUP avisa ainda que “o peixe grelhado, se não for devidamente cozinhado, também pode ser perigoso”. Nesse sentido, “o melhor será sempre apostar nos métodos de prevenção da infeção e congelar sempre o peixe consumido cru durante o tempo necessário”.

Recomendações para o consumo de peixe cru

As cinco espécies de peixes mais consumidas cruas em Portugal são o salmão, o atum, o bacalhau, a pescada e a sardinha. E todas elas merecem cuidados especiais, de acordo com os investigadores da U.Porto

Para quem aprecia sushi, sashimi, ou peixe marinado, há certos cuidados que devem ser considerados para evitar infeções, nomeadamente a congelação a -20ºC durante as 24 horas antes do seu consumo. Se bem aplicado, este método permite matar o parasita, ainda que não evite o problema dos alergénios.

O salmão, por exemplo, sendo peixe de aquacultura, não terá esses vermes, mas se for peixe selvagem pode estar fortemente parasitado. Nesse caso, é necessário congelá-lo antes de ser consumido cru.

No caso do bacalhau, a salga também é um método que inviabiliza os vermes, pelo que será seguro comer bacalhau devidamente salgado.

A pescada está fortemente parasitada e deve ser sempre congelada. Já a sardinha tem mostrado níveis de infeção baixos, enquanto falta informação sobre a situação do atum.

A prevenção como melhor cuidado

Dado o volume e espécies de peixe cru consumido em Portugal, a anisaquiose representa ainda um risco limitado para a população portuguesa. No entanto, as infeções têm vindo a aumentar com o aumento do consumo dos últimos anos, e comunicar sobre este risco torna-se cada vez mais necessário junto da população portuguesa.

Assim, o estudo, financiado pela Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, chama a atenção sobre a necessidade de apostar na divulgação dos problemas ligados ao consumo de peixe cru para com público em geral, e informar os consumidores sobre o cuidado de congelar todo o peixe consumido cru ou mal cozinhado.

Para além de Maria João Santos, participaram neste trabalho as investigadoras Olwen Golden (CIIMAR) e Andreia J. R. Caldeira (CIIMAR e Universidade Estadual de Goiás, Brasil).