“Siza – Inédito e Desconhecido” e “Mais que Arquitetura” são os títulos das duas exposições que assinalam, a partir deste sábado, dia 17 de outubro, e ao longo dos próximos meses, a abertura das portas da Fundação Marques da Silva (FIMS). Pela primeira vez, a Casa-Atelier e o Palacete Lopes Martins abrem ao público com atividades regulares de divulgação da cultura arquitetónica e urbana. No dia da inauguração, a entrada é gratuita das 14h00 às 18h00.

Patente na renovada Casa-Atelier José Marques da Silva e concebida em parceria com a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), “Siza – Inédito e Desconhecido” constitui, como o nome dá a entender, um conjunto de trabalhos nunca antes apresentado em Portugal. São desenhos que pertencem ao arquivo pessoal de Álvaro Siza e que permitem analisar a evolução de um traço que atravessa não uma, mas três gerações da mesma família.

Para além dos desenhos, esquissos de projetos, fantasias arquitetónicas e retratos de Álvaro Siza e de sua mulher, Maria Antónia Siza, esta é uma oportunidade para ver de perto desenhos dos filhos e de um neto, que está a concluir o curso de arquitetura na FAUP.

Com curadoria de António Choupina, “Siza – Inédito e Desconhecido já passou pela Tchoban Foundation, em Berlim.

Entre os “inéditos” de Álvaro Siza inclui-se um esquisso do projeto da Faculdade de Arquitetura (FAUP), desenhado em 1987, seis anos antes da inauguração do edifício. (Foto: DR)

Uma nova casa para a arquitetura portuguesa

A exposição apresenta ainda esculturas inéditas de Álvaro Siza e a maqueta do futuro Centro de Documentação da Fundação Marques da Silva,  também com assinatura do primeiro Prémio Pritzker português.

Oferecendo condições ideais para a conservação, este Centro vai acolher os arquivos da Fundação Marques da Silva e da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Num só centro documental, ficarão reunidos desenhos, maquetas, documentação de obras, bibliotecas e mobiliário desenhados por alguns dos mais ilustres arquitetos portugueses, entre os quais Fernando Távora, José Carlos Loureiro, Arménio Losa, Viana de Lima, Alcino Soutinho, Manuel Graça Dias, Alexandre Alves Costa, entre tantos outros.

Para Fátima Vieira, vice-reitora da U.Porto com o pelouro da Cultura, este edifício vem dar corpo à principal missão da Fundação: “preservar, catalogar e disponibilizar digital e presencialmente os acervos que lhe foram confiados”. Irá ainda permitir “um melhor acolhimento aos investigadores em arquitetura”, facilitando “uma comunicação de arquitetura sistemática em espaços expositivos concebidos para o efeito e no grande auditório”.

Maqueta do Novo Centro de Documentação da FIMS, por Álvaro Siza. (Foto: DR)

Ainda recentemente, a Fundação levou a cabo um programa de conservação de mais de 20.000 documentos do seu arquivo e prepara-se para realizar uma campanha de digitalização de 5.000 desenhos, selecionados de entre os seus diversos acervos.

A construção do novo edifício, com um custo previsto de 4 milhões de euros, será concretizada através do lançamento de uma campanha de mecenato e de candidaturas a fundos europeus, passando a cidade do Porto a dispor de mais um edifício icónico, desenhado por um arquiteto que é considerado uma referência mundial.

Mais que Arquitetura”

Desde projetos de arquitetura, esquissos, maquetes, fotografias, filmes, registos de viagens, coleções de arte e literatura, objetos de design, mobiliário, etc., os arquivos da Fundação Marques da Silva apresentam uma multiplicidade de documentos. Um património que é “Mais que Arquitetura”, organizado e exposto agora no Palacete Lopes Martins.

Com curadoria de Luis Urbano, esta segunda exposição mostra, a partir de objetos e documentos originais, que incluem algumas peças inéditas, que a área de atuação dos arquitetos representados na Fundação Marques da Silva ultrapassa muitas vezes os limites estritos da arquitetura, explorando outros recursos como a fotografia, o cinema, a escrita, o ensino, os media, o colecionismo ou as viagens.

Moradia do Arquitecto (1949), de José Carlos Loureiro, um dos arquitetos representados no acervo da Fundação. (Foto: DR)

A partir desta exposição, que vai permitir ao público visitar pela primeira vez os espaços da Fundação, fica-se a conhecer, por exemplo, desenhos da viagem de Fernando Távora aos Estados Unidos da América e ao Japão, nos anos 60, que influenciou o seu desenho de um arranha-céus para o centro de Aveiro – edifício que nunca chegou a ser construído e cuja maquete será aqui apresentada.

A Vice-Reitora para a Cultura da U.Porto recorda que “a Fundação é o maior arquivo privado de arquitetura do país”, distinguindo-se pelo facto de “acolher e catalogar não apenas os arquivos profissionais de arquitetura, mas também as bibliotecas dos arquitetos, as suas coleções e mesmo peças de mobiliário de gabinete que tenham desenhado”. A abertura ao público das duas casas – o Palacete da Família Lopes Martins e a Casa-Atelier Marques da Silva – assim como a oferta de um programa completo, com atividades pedagógicas e de divulgação da cultura arquitetónica e urbana, “suscitará certamente muita curiosidade por parte dos portuenses que diariamente por elas passam “acrescenta Fátima Vieira.

“Mais que Arquitetura” constitui apenas uma pequena parte dos arquivos da Fundação Marques da Silva, que tem como ambição revelar muito mais deste heterogéneo universo dos arquitetos e despertar a curiosidade sobre os seus acervos.

De resto, e como refere Fátima Vieira, estas exposições dão expressão “ao grande projeto de democratização da cultura em que a Universidade tem vindo a investir”. A vice-reitora acredita por isso que o programa de exposições regulares irá contribuir “para um maior conhecimento da forma como a arquitetura é feita, das disciplinas que lhe estão associadas e dos discursos sociais e políticos que lhe estão subjacentes”.

Quando e como visitar?

“Siza – Inédito e Desconhecido” estará patente ao público até ao dia 19 de dezembro de 2020. Já a exposição “Mais que Arquitetura” prolonga-se até ao dia 17 de abril de 2021.

As duas exposições podem ser visitadas de segunda-feira a sábado, entre as 14h00 e as 18h00. O bilhete dá acesso às duas exposições – 3 euros para público em geral; 1,5 euros para jovens, estudantes e seniores. A entrada é livre no dia 17 de outubro.

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