O Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS) e a Ordem dos Médicos Dentistas vão juntar-se, no próximo dia 8 de junho, quarta-feira, numa homenagem conjunta ao Professor José Pinto da Costa (1934-2021), antigo estudante e professor da U.Porto, e referência incontornável da Medicina Legal em Portugal.

Com início marcado para as 18h30 no Salão Nobre do ICBAS, a sessão incluirá uma evocação do legado de José Pinto da Costa e a apresentação do livro “Prof. J. Pinto da Costa. O Médico, o Professor, o Comunicador”, da autoria da médica-dentista La Salete Alves.

Mestre em Medicina Legal e doutorada em Ciências Biomédicas pelo ICBAS, La Salete Alves estudou e trabalhou com José Pinto da Costa, que foi um grande amigo da medicina dentária portuguesa e dos médicos dentistas. Este livro reúne um conjunto de testemunhos sobre o Professor, escritos por muitos que com ele conviveram ao longo da sua vida em Portugal, bem como no estrangeiro.

Para a autora, “esta homenagem é um agradecimento de todos pela sua forma de viver a vida, pelos contributos que fez e pelo legado que nos deixa”.

Esta sessão evocativa contará com a presença e testemunho do Reitor da U. Porto, António Sousa Pereira, do Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Miguel Pavão, e do Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, bem como de vários colegas, professores e amigos que conviveram de perto com o Professor José Pinto da Costa.

Será ainda transmitida uma mensagem do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Capa do Livro Evocativo – Prof. J. Pinto da Costa. O Médico, o Professor, o Comunicador” da autora La Salete Alves

No final da apresentação do livro será servido um Porto de Honra no Foyer do ICBAS, havendo ainda espaço para uma sessão de autógrafos. O evento é aberto ao público.

Sobre José Pinto da Costa

Natural do Porto, cidade onde nasceu a 3 de abril de 1934, José Eduardo Lima Pinto da Costa licenciou-se na Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP) em 1960, com a tese “Morte por Acção [sic] do Óxido de Carbono”, um estudo médico-legal que viria a ser citado na revista de ciências forenses da INTERPOL. Posteriormente, obteve o grau de Doutor em Medicina Legal (1973) com uma tese intitulada “Impressões Digitais. Contribuição para o seu estudo médico-legal”.

Docente da FMUP desde 1961, começou como assistente de Medicina Legal e Toxicologia Forense da FMUP. Iniciava assim uma ligação que se prolongaria por quatro décadas, até 2001, quando deixou o seu cargo de Professor Catedrático de Medicina Legal.

Por esta altura, já tinha iniciado a sua ligação ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, onde foi o responsável pela criação, em 1999, do então pioneiro Mestrado de Medicina Legal. Acabaria por se jubilar como docente em 2004, apesar de ter continuado a colaborar com o instituto até à sua morte.

Foi também Professor de Medicina Legal na Faculdade de Direito da U.Porto, entre 2000 e 2003, para além de ter lecionado em várias outras universidades públicas e privadas por todo o país, tais como Lisboa, Coimbra, Braga, Viseu e Algarve, bem como nas áreas da Psicologia Forense, Odontologia Forense, Criminologia e Direito Médico. Sempre pro bono e “com brilho nos olhos”, como costumava dizer.

Em paralelo com a docência, José Pinto da Costa desenvolveu a sua prática médico-legal em patologia forense, ética e deontologia e direito médico, tendo sido responsável por milhares de autópsias durante os 40 anos de carreira como médico-legista. Foi também nesse âmbito que ocupou o cargo de Diretor do Instituto de Medicina Legal do Porto (IMLP), durante 25 anos (de 1976 a 2001), sendo o diretor com o mandato mais longo nesta instituição.

A José Pinto da Costa deve-se, de resto, um contributo fundamental no reconhecimento e afirmação da Medicina Legal a nível nacional e internacional. Fundador da primeira Sociedade Médico-Legal do país (1981), foi o primeiro presidente do Colégio da Especialidade de Medicina Legal da Ordem dos Médicos. Foi também o primeiro médico-legista português a ser eleito vice-presidente da Academia Internacional de Medicina Legal e Social, cargo que manteve até 1991.

Foi ainda sócio fundador da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), criada em 1990, presidente do Conselho Superior de Medicina Legal (1989 a 2000) e membro do primeiro Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. Entre 1994 e 2002, integrou o Conselho de Administração da Associação Mundial de Direito Médico, organização que lhe atribuiu o título de Membro Emérito em 2006.

Um adepto da máxima “um professor só ensina quando o aluno aprende e entende o que ele disse”, José Eduardo Pinto da Costa inspirou gerações de estudantes da Universidade do Porto ao longo da sua longa carreira, tendo sido orientador de múltiplas teses de doutoramento na área da Medicina Legal.

O maior testemunho da sua influência terá sido a homenagem pública que os seus antigos estudantes, provenientes de áreas do saber diversas como a medicina, o direito, a medicina dentária, a psicologia e a criminologia, lhe prestaram a 9 de outubro de 2013.

Perante a plateia lotada do Salão Nobre do ICBAS, José Eduardo Pinto da Costa proferiu aquelas que intitulou como Palavras Finais à academia. Em jeito de agradecimento aos louvores recebidos na sessão, acabaria por contrapor: “Vi algures, em referência à minha pessoa, «uma vida a ensinar». Em boa verdade, a minha vida tem sido a aprender”.

José Pinto da Costa morreu a 8 de dezembro de 2021, deixando um enorme legado. A revista científica The Lancet dedicou-lhe recentemente um obituário, no qual é apresentado como o “Campeão da Medicina Legal em Portugal”.