Durante a primeira vaga da pandemia, o risco de morte por COVID-19 nos lares de idosos da zona norte do país foi 48% maior do que fora destas instituições. A conclusão resulta de um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que teve como base dados referentes ao período entre abril e junho de 2020.

A investigação, publicada na revista Journal of the American Geriatrics Society, procurou avaliar a transmissão da infeção e a sua letalidade entre residentes e trabalhadores de lares da região Norte.

Foram recolhidos dados acerca da idade, diagnóstico e prognóstico de infeção em 247 lares da região norte do país, totalizando 13.376 indivíduos, dos quais 7642 eram residentes nos lares e 6094 eram trabalhadores.

Risco de infeção acrescido e taxa de letalidade 48% superior nos lares

Durante o período analisado, 3.5% dos idosos residentes nos lares testaram positivo ao novo coronavírus SARS-CoV-2, enquanto que nos trabalhadores destas instituições verificou-se uma percentagem de 2.4% de infetados.

A média de idades dos residentes avaliados era de 85 anos e a dos trabalhadores de 46 anos, pelo que, considerando a sua distribuição etária, os residentes apresentavam um risco acrescido de infeção de 37% quando comparados com a população geral. Os trabalhadores apresentavam o dobro do risco de infeção.

Para além da taxa de infeção ser superior entre os residentes e os trabalhadores dos lares, verificou-se que a taxa de letalidade da COVID-19 foi 48% mais alta nos residentes destas instituições quando comparada com a da população geral, tendo em conta a sua distribuição etária.

Um quinto dos idosos residentes infetados acabou por falecer de COVID-19, enquanto que entre os trabalhadores avaliados não foram observadas mortes.

Razões para a elevada mortalidade

Segundo a investigadora Teresa Leão, primeira autora do estudo, “a elevada mortalidade entre os residentes poderá ser explicada pelas comorbilidades graves e variadas da população residente em lares, mas também pela gestão da infeção nestas estruturas numa fase inicial da pandemia”.

Da mesma forma, o risco acrescido de infeção observado especialmente em algumas estruturas poderá estar ligado às condições de vida e trabalho neste tipo de instituições, tipicamente de maior ocupação, e à falta de trabalhadores treinados para o controlo da infeção e equipamento adequado de proteção individual. Para além disso, neste período, a testagem ao SARS-CoV-2 era mais frequentemente conduzida em lares do que na comunidade em geral.

O estudo foi desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemilogia (EPIUnit) do ISPUP e contou ainda com os contributos dos investigadores Milton Severo e Henrique Barros.