Um estudo recentemente publicado na revista The Lancet, e no qual participou o investigador Romeu Mendes, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), chama a atenção para as dificuldades com que se deparam as pessoas com doenças crónicas não-transmissíveis, como a diabetes, doenças cardiovasculares, cancro e obesidade, no contexto da pandemia de COVID-19. O artigo, cujo primeiro autor é Hans Kluge, Diretor do Gabinete Regional para a Europa da Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta soluções que podem ser adotadas por cada país para abordar as necessidades destes doentes.

As doenças crónicas não-transmissíveis são uma das principais causas de morbilidade e mortalidade em todo o mundo e, em particular, na Europa. Alguns estudos demonstram por sua vez que condições crónicas como a hipertensão, obesidade, diabetes tipo 2, doença das artérias coronárias, cancro, e doença pulmonar obstrutiva crónica, aumentam o risco de gravidade da COVID-19, podendo levar ao internamento em cuidados intensivos e até à morte.

Como explica Romeu Mendes, “a evolução da pandemia expôs a vulnerabilidade das pessoas com doenças crónicas, não apenas à COVID-19, mas também aos efeitos do confinamento, e à reorganização dos serviços de saúde na resposta a este novo vírus”.

O comentário recentemente publicado sublinha que as medidas de confinamento impostas, devido à pandemia, parecem potenciar os fatores de risco comportamentais para as doenças crónicas, como a alimentação não saudável, a inatividade física e o sedentarismo, o consumo de tabaco e o abuso do álcool.

Paralelamente, “o cancelamento ou adiamento de consultas e de cirurgias e exames complementares de diagnóstico, assim como as restrições nos transportes públicos e nas deslocações de pessoas – que dificultam a aquisição de bens alimentares, medicamentos, e outros serviços – têm sido reportados como fatores de disrupção da gestão destas doenças”, refere o investigador.

As soluções apontadas

Tendo em conta as dificuldades apresentadas, a publicação aponta soluções que podem ser implementadas e adaptadas por cada país para abordar as necessidades das pessoas com doenças crónicas não-transmissíveis.

Algumas das sugestões passam pelo uso da tecnologia nesta resposta, através das teleconsultas e da renovação eletrónica da prescrição de medicamentos, de ações de promoção e educação para a saúde digitais dirigidas aos cidadãos (SMS, redes sociais, ou outros meios similares) com enfoque, por exemplo, na saúde mental, exercício físico em casa e preparação de refeições saudáveis.  Investir em sistemas de encomenda e entrega ao domicílio de bens essenciais como medicamentos e alimentos saudáveis é outra das medidas sugeridas.

Nas ações de rastreio do vírus, é destacada a importância de se dar prioridade às pessoas com doenças crónicas não-transmissíveis e considerar igualmente a rede de cuidadores formais e informais associada. Adicionalmente, os autores sublinham a necessidade de se facultar equipamento de proteção individual e formação específica aos profissionais de saúde que tratam estes doentes e que podem eles próprios estar em maior risco de vir a desenvolver estas patologias.

Para Romeu Mendes, que é também consultor do Gabinete Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças Crónicas Não-Transmissíveis da OMS, “a resposta à pandemia de COVID-19 (e a eventuais futuras pandemias) deve ser planeada e adaptada de forma a integrar a continuidade das medidas de prevenção e controlo das doenças crónicas não-transmissíveis, envolvendo os próprios doentes, as suas famílias e cuidadores, bem como os serviços de saúde”.

O artigo intitula-se Prevention and control of non-communicable diseases in the COVID-19 response e é também assinado por João Breda, antigo estudante da Universidade do Porto e atual líder do Gabinete Europeu para a Prevenção e Controlo das Doenças Crónicas Não-Transmissíveis da OMS. O comentário pode ser consultado AQUI.