É já no próximo dia 9 de dezembro, sexta-feira, que o histórico Cinema Batalha, no Porto, reabre as portas, agora como Centro de Cinema. Para trás ficam três anos de um projeto de reabilitação liderado pelos arquitetos Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez, Professores Catedráticos Jubilados da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) e Professores Eméritos da U.Porto.

O projeto de recuperação do Cinema Batalha representa um caso paradigmático de intervenção no património, articulando de forma exemplar a reposição das condições originais com a criação de valências que respondam às necessidades contemporâneas.

Monumento de Interesse Público desde 2012, esta obra de Artur Andrade (1913-2005), “adotou convictamente os pressupostos ideológicos do Movimento Moderno”, integrando “não só a cultura artística de natureza mais formal como a cultura da ação política militante, numa síntese perfeita”, destacam Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez na Memória Descritiva do projeto, que contou, ainda, com a participação dos arquitetos Ana Alves Costa, docente na FAUP, Miguel Ribeiro, João Nascimento e Paulo Frutuoso na equipa de arquitetura do Atelier 15.

Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez são Professores Eméritos da Universidade do Porto. (Foto: Ana Alves Costa)

“O Cinema Batalha é uma obra de arte absoluta”, realçam os dois arquitetos, para quem a responsabilidade sentida no projeto de reabilitação “é consequência de se tratar de um projeto de arquitetura que configura um verdadeiro ato de cidadania”.

Para Alexandre Alves Costa e Sergio Fernandez, as alterações que um equipamento como este, com 70 anos de idade, obviamente necessitou, foram “pensadas como soluções integradas na coerência formal do existente, quer dizer, em serena e natural continuidade”.

Do projeto agora concluído resultou ainda a descoberta e restauro dos frescos que Júlio Pomar gravou nas paredes interiores do Cinema Batalha, em meados da década de 1940. Os frescos, alusivos à festa de São João, sofreram uma intervenção censória pela PIDE no antigo regime e julgava-se que estariam irremediavelmente perdidos.

Um novo espaço de cinema multidisciplinar

A empreitada no histórico edifício, sob gestão da empresa municipal GO Porto, teve início em novembro de 2019 e custou 5,17 milhões de euros. A intervenção visou a reformulação e remodelação deste espaço cultural com uma filosofia de reposição das condições originais, mas com trabalhos profundos ao nível da estrutura, da reabilitação das superfícies e das coberturas, assim como a instalação de novos equipamentos, acessos e redes, e a criação de novas salas.

O Batalha foi arrendado pela Câmara Municipal do Porto por um período de 25 anos à família Neves Real e reabre a 9 de dezembro, mais de uma década após o seu encerramento, como novo espaço de cinema multidisciplinar no Porto.

Com direção artística de Guilherme Blanc, o novo Batalha Centro de Cinema tem como missão promover o conhecimento e a fruição cultural, através do cinema e da imagem em movimento. A programação vai incluir ciclos temáticos, retrospetivas e focos em práticas contemporâneas, extensivas a outras artes, projetos educativos, editoriais, formativos e de debate.

Após a reabertura do Mercado do Bolhão e a inauguração do Terminal Intermodal de Campanhã, da autoria, respectivamente, dos arquitectos Nuno Valentim e Nuno Brandão Costa, docentes da FAUP, o Cinema Batalha completa assim o conjunto de três obras públicas emblemáticas da cidade concretizadas em 2022 e cujos projetos foram desenvolvidos por docentes da FAUP.