O Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) uniu-se à Águas do Porto, EM, para monitorizar a presença de SARS-CoV-2 nas águas residuais (AR) afluentes às estações de tratamento de águas residuais (ETAR) do Freixo e Sobreiras, no Porto. Esta monitorização, que tem sido feita semanalmente ao longo dos últimos nove meses, engloba hoje o projeto Vírus4Health.

Tendo como principal objetivo detetar a circulação do vírus responsável pela Covid-19 na comunidade, o projeto Vírus4Health vem responder a uma urgência nacional de monitorização integrada do SARS-CoV-2.

Em última instância,  a equipa , que conta também com a colaboração da USP – Unidade de Saúde Pública dos ACES Porto Ocidental e Porto Oriental e da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, pretende produzir dados essenciais para complementar a vigilância clínica e apoiar políticas públicas e ações de prevenção.

O projeto será também uma ferramenta fundamental na verificação da eficiência dos processos de tratamento na eliminação de SARS-CoV-2 das águas residuais.

Resultados “aprovam” processos de tratamento das ETAR

Segundo a equipa de investigadores do CIIMAR, constituída por Ana Paula Mucha, Catarina Magalhães, João Carneiro, Maria de Fátima Carvalho, Maria Paola Tomasino e Miguel Semedo,  “esta parceria com a Águas do Porto é muito relevante para o CIIMAR, de forma a alinhar as nossas atividades de investigação com a necessidade de dar resposta a emergências de Saúde Pública de dimensão nacional e internacional. No caso do Virus4Health, a ideia passa por “viabilizar a implementação de protocolos de monitorização integrada de SARS-CoV-2 com o objetivo de estabelecer um sistema de vigilância sensível cobrindo todo o ciclo de circulação do vírus na comunidade”.

Já a equipa da Águas do Porto, composta pelos engenheiros Pedro Vieira, Elza Ferraz e Adelaide Rocha, nota que “este projeto conjunto entre o CIIMAR e a Águas do Porto é de extrema importância para a operação das ETAR uma vez que se trata de  uma ferramenta importante na avaliação da carga viral dos afluentes às ETAR e na verificação da eficiência dos processos de tratamento de águas residuais. Através da análise dos efluentes tratados ficou comprovado que os processos de tratamento das ETAR são eficazes”.

“De salientar também os resultados referidos pela equipa do CIIMAR. “Só será possível desenvolver um sistema de alerta precoce se o SARS-COV 2 for detetado nas Águas Residuais antes da sua manifestação na comunidade”, acrescenta a Águas do Porto.

Material genético do vírus encontrado nas águas residuais

Este projeto de colaboração entre o CIIMAR e a Águas do Porto iniciou-se a 14 de maio de 2020, altura em que Portugal contabilizava entre 200-300 testes positivos diários. Até 31 de janeiro deste ano, tinham sido já quantificadas – por qPCR – cerca de 60 amostras colhidas semanalmente nas ETAR de Sobreiras e Freixo.

Numa fase inicial do projeto, a equipa do CIIMAR validou um método sensível de deteção e quantificação do SARS-CoV-2 nas águas residuais. O projeto avançou com a otimização dos métodos de amostragem, preservação, concentração, isolamento de RNA, deteção e quantificação do vírus SARS-CoV-2 por RT-qPCR.

Neste processo, o CIIMAR contou com o apoio inicial do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da U.Porto, nomeadamente na validação da adaptação de metodologias utilizadas em amostras clínicas para posterior aplicação em amostras de águas residuais.  Atualmente, a equipa está ainda a criar um arquivo de amostras e de material genético, devidamente catalogado e criopreservado a partir de colheitas periódicas realizadas nas ETAR do Freixo e Sobreiras.           

O material genético arquivado será utilizado para complementar a caracterização da diversidade genética do vírus em circulação no sistema de saneamento e modelação epidemiológica e ecológica dos dados gerados, complementando a vigilância clínica. Os resultados obtidos até ao momento permitiram confirmar a presença do material genético do vírus nas águas residuais e a importância das ETAR na sua remoção.

Durante todo o processo garantiu-se a inativação do vírus antes do início do processamento das amostras no laboratório, de forma a garantir todas as normas de segurança associadas à manipulação deste tipo de amostras.