A astrobióloga portuguesa e antiga estudante da licenciatura de Ciências do Meio Aquático do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Joana Neto Lima, foi um dos cientistas envolvidos num conjunto de estudos que permitirão interpretar os dados recolhidos por alguns dos instrumentos que fazem parte do Perseverance, o veículo autónomo da NASA que chegou a Marte no passado dia 18 de fevereiro, após uma viagem de 470 milhões de quilómetros.

Ao longo dos próximos dois anos, a sonda, equipada com 23 câmaras, vai recolher amostras com o objetivo de procurar sinais de vida e avaliar a possibilidade de habitabilidade no planeta vermelho. A bordo do PERSEVERANCE segue ainda um instrumento – o MOXIE — Mars Oxygen ISRU Experiment – capaz de produzir oxigénio a partir do dióxido de carbono existente na atmosfera de Marte.

As mostras recolhidas pelo PERSEVERANCE não chegarão à Terra antes de 2031. Contudo, já é possível fazer a recolha de amostras de campo para ajudar na interpretação de dados, bem como fazer algumas experiências.

É aqui que entra o trabalho que Joana Neto de Lima vem desenvolvendo a partir do Centro de Astrobiologia (CAB) –  integrado no Instituto Nacional de Tecnologia Aeroespacial (INTA) e no Conselho Superior de Investigações Científicas (InCSIC) -, em Madrid (Espanha).

Assumindo-se como uma “formiguinha no meio de centenas de investigadores” envolvidos, a cientista portuguesa contribuiu para vários estudos de Espectroscopia, focados em técnicas que permitem estudar  a interceção entre a matéria e radiação electromagnética.

Através destas técnicas, “podemos estudar os minerais que existem tanto nas amostras em Marte como em amostras terrestres”, o que, segundo Joana Neto de Lima, permitirá “interpretar melhor os resultados conseguidos pelos instrumentos nos rovers e orbitadores”. Desta forma “obtém-se uma espécie de ‘impressão digital’ que, em comparação com amostras terrestres nos permite saber que tipos de condições ambientais originaram determinados minerais”.

Recorde-se que, para além da sonda, a missão PERSEVERANCE da NASA incluiu também o lançamento de um pequeno helicóptero – o INGENUITY – que sobrevoará o planeta fazendo recolha de fotos e vídeos. Numa segunda fase será outro Rover europeu a ir a Marte buscar as referidas amostras e trazê-las para a Terra.

No caminho das estrelas

Joana Neto de Lima, 36 anos, licenciou-se em Ciências do Meio Aquático pela ICBAS em 2014. Nesse mesmo ano, parte para a capital espanhola para integrar o departamento de Planetologia e Habitabilidade do CAB/INTA – CSIC, o primeiro – e único – parceiro europeu do prestigiado NASA Astrobiology Institute (NAI).

Interessada desde a licenciatura pela área da química ambiental, a investigadora vem trabalhando, essencialmente, na deteção de indicadores de processos biológicos (os chamados bioindicadores) através de um processo geológico chamado serpentinização, que pode ser um dos responsáveis pela formação de metano em Marte.

A partir do CAB, Joana tem tido a oportunidade de colaborar em várias das missões espaciais que a NASA tem enviado para Marte. Entre elas inclui-se a missão InSight que, em 2018,  lançou com sucesso uma sonda para o planeta vermelho.

Atualmente, Joana está a estudar os processos geoquímicos que podem estar por detrás de fenómenos como geisers (ou plumas planetárias) nas luas geladas (Encélado e Europa) e alguns minerais e estruturas encontrados/detetados por missões espaciais em antigos Mundos Oceânicos como Ceres (um planeta-anão no Cinturão de Asteróides) e Marte .