Um estudo conduzido por investigadores da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), e que alerta para o impacto da pandemia de COVID-19 na saúde mental dos adolescentes e jovens adultos LGBTQ+, é um dos vencedores da edição deste ano dos Prémios Arco-íris, atribuídos pela Associação LGA-Portugal, em parceria com a Rede Ex-Aequo.

Intitulado When home is not a safe haven: Effects of the COVID-19 pandemic on LGBTQ adolescents and young adults in Portugal, o estudo agora premiado  aseou-se num inquérito online, realizado a 403 adolescentes e jovens adultos/as LGBTQ (lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer e pertencentes a outras minorias sexuais e de género) que viviam com os pais durante o primeiro confinamento em Portugal.

A partir dos dados obtidos, os investigadores Jorge Gato, Daniela Leal e Daniel Seabra constataram um clima familiar negativo e não aceitante das identidades LGBTQ+ dos/as filhos/as estava associado a níveis mais elevados de depressão e ansiedade, considerando o impacto negativo do estigma e as características culturais específicas da sociedade portuguesa .

Segundo o mesmo estudo,  “a par dos valores familistas fortes que se verificam em Portugal, uma taxa de desemprego juvenil tradicionalmente elevada e um apoio governamental limitado aos projetos de vida de jovens adultos/as (por exemplo emprego e habitação), parecem contribuir para o adiamento da assunção de papéis de adultos em Portugal”.

Os investigadores concluíram ainda que “um clima familiar negativo e não aceitante das identidades LGBTQ+ num país em que a família é uma fonte importante de apoio instrumental e social, e num momento em que o acesso a outras fontes de apoio social e comunitário é reduzido, coloca os/as adolescentes e jovens adultos/as LGBTQ+ em maior risco em termos da sua saúde mental”.

Publicado em 2020, na revista Psicologia, da Associação Portuguesa Psicologia (APP), o estudo agora premiado integra-se no âmbito do projeto Global Queerantine, resultado de um esforço conjunto de uma equipa de investigadores/as de sete países (Portugal, Reino Unido, Itália, Brasil, Chile, Suécia e México), liderada por Jorge Gato (FPCEUP), que pretende explorar os efeitos psicossociais da pandemia COVID-19 entre as pessoas LGBTQ+.

Sobre os Prémios Arco-Íris

Atribuídos desde 2003, os Prémios Arco-íris, organizados pela ILGA Portugal em parceria com as associações AMPLOS  rede ex aequo – associação de jovens LBGTI e apoiantes, são um evento anual que pretende distinguir as personalidades que ao longo do ano deram visibilidade a questões relacionadas com a Orientação Sexual, Identidade e/ou Expressão de Género e Características Sexuais.

Através deste galardão, pretende-se contribuir para uma maior e melhor inclusão da população LGBTI na sociedade, erradicando preconceitos e contrariando estereótipos associados às pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo.

A cerimónia de entrega dos Prémios Arco-íris 2021 decorreu no passado dia 5 de março. Para além do projeto da FPCEUP, a edição deste ano premiou ainda a reportagem Homossexualidade no desporto: “Tenho adversários que me dizem ‘olha aí, ó paneleiro’”, da autoria de Ana Tulha, jornalista da Notícias Magazine e licenciada em Ciências da Comunicação pela U.Porto.