“Adelaide Estrada: Para além da Ciência” é o título da exposição que está patente desde finais de setembro na Casa-Museu Abel Salazar, e que presta homenagem à vida e obra de Adelaide Estrada (1898 – 1979), médica, antiga estudante e professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).

Formada em Medicina, Adelaide Estrada exerceu a docência como assistente livre de Histologia e preparadora no Laboratório Nobre, na FMUP. Integrou várias instituições científicas, nomeadamente o Instituto de Alta Cultura, onde foi bolseira e estagiária, membro da Sociedade de Biologia (1928), da Association des Anatomistes (1932) e da Société Internationale d’Hematologie. Participou em encontros científicos, como o III Congresso Nacional de Medicina (Lisboa, 1928), o Congresso da Association des Anatomistes (1933) e as reuniões do Instituto de Oncologia de Lisboa (1941).

Autora de uma vastíssima bibliografia científica sobre Histologia, Citologia e Análises Clínicas, apresentou vários textos e comunicações em colaboração estreita com Abel Salazar, de quem foi aluna e colaboradora científica no Instituto de Histologia da FMUP e no Centro de Estudos Microscópicos da Faculdade de Farmácia da U.Porto (FFUP).

Numa época em que muitos entraves ainda se colocavam às mulheres e eram poucas as que escreviam ou intervinham publicamente, Adelaide Estrada colaborou na revista “Pensamento”, órgão do Instituto de Cultura Socialista, que se publicou no Porto, e no “O Sol Nascente”, onde algumas mulheres escreviam sobre a condição feminina e a sua participação mais ativa na sociedade. Foi oposicionista do Estado Novo e apoiou as candidaturas dos generais Norton de Matos (1949) e Humberto Delgado (1958), nas respetivas campanhas à Presidência da República.

Depois da sua aposentação do lugar de Preparadora do Laboratório de Análises Clínica, em 1950, montou, em 1952, um laboratório particular de análises no Porto. Faleceu a 18 de outubro de 1979.

É este legado que pode ser revisitado na CMAS, através de uma exposição composta por manuscritos, fotografias – em particular as que documentam a participação ativa de Adelaide Estrada na campanha do General Humberto Delgado no Porto -, separatas científicas em nome próprio e em colaboração com Abel Salazar, bem como retratos seus pintados a óleo pelo Mestre. Pode ser igualmente visionado um documentário onde António Coimbra, professor catedrático de Histologia pela U.Porto, fala sobre a carreira universitária e profissional de Adelaide Estrada.

Com entrada livre, a exposição “Adelaide Estrada: Para além da Ciência” fica patente ao público até 16 de novembro, podendo ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 13h00 e das 14h30 às 18h00; e aos sábados, das 14h40 às 17h30.

Esta exposição  está integrada no E Contudo, Elas Movem-se! Mulheres nas Artes e nas Ciências!, ciclo multidisciplinar da Universidade do Porto que pretende homenagear o contributo de várias mulheres em diferentes áreas profissionais, bem como dar conta da sua história e dos seus gestos de rebeldia ao desafiarem e ultrapassarem os limites socialmente e culturalmente associados ao sexo feminino, num passado bem recente.