A Universidade do Porto promoveu duas mesas redondas integradas nas celebrações dos 100 anos do nascimento do pintor Nadir Afonso. Ambas as sessões foram conduzidas por António Quadros Ferreira, Professor Emérito da U.Porto e curador da exposição 1oo Anos Nadir, Inéditos que esteve patente até o passado dia 23 de dezembro, no edifício da Reitoria da Universidade do Porto.

A primeira mesa redonda viajou pelas “as cidades nadirianas”. Para António Quadros Ferreira, as cidades surgem na obra de Nadir Afonso como “lugares novos”, que representam um caminho de aprendizagem “iniciada no período egípcio e prosseguida no período barroco”, estabelecendo uma relação com a arquitetura.

“As cidades de Nadir são também cidades nómadas, que ganham maior evidência depois de 1965 com a transferência da memória da arquitetura para a ação da pintura”, explica o antigo professor da Faculdade de Belas Artes da U.Porto (FBAUP) e e investigador do Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade. Na verdade, foi após o abandono da prática da Arquitetura, no anos 70, que as cidades, na obra do pintor, “permitiram estabilizar, em definitivo, a relação entre o pensamento e a obra, isto é, a relação entre a teoria e a praxis”.

Presença central na exposição “100 Anos Nadir, Inéditos”, a Máquina Cinética evidencia um caminho de “uma forte teorização do pensamento”. É neste contexto que se pode falar da construção de “uma ideologia da pintura das cidades, com origem remota e factual na cidade arquitectónica, granítica e portuense, a partir de 1938”, propõe António Quadros Ferreira, acrescentando que as cidades, em Nadir Afonso, colocam a nu “o subterrâneo que acontece no interior do pensamento”, ou seja, “dão a ver a cidade imaginária, utópica, ou renascentista”.

Fizeram parte desta mesa redonda sobre as cidades em Nadir Afonso, Maria de Fátima Lambert, Professora Coordenadora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto, curadora independente e organizadora de eventos artísticos, científicos e culturais; Laura Afonso, presidente da Fundação Nadir Afonso; e António Choupina, mestre em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da U.Porto (FAUP), com atividade de curador, crítico e investigador.

“Pensamento e a teoria” em Nadir Afonso

“Nadir Afonso, Pensamento e Teoria” é o título da segunda mesa redonda. Para o curador de 1oo Anos Nadir, Inéditos, “associar o pensamento e a teoria em Nadir é possibilitar a formulação de uma teoria estético-filosófica muito própria, inovadora, e única – pelo que, e como constatou José-Augusto França, a obra escrita de Nadir Afonso é caso único na bibliografia portuguesa. De facto, quando falamos dos textos escritos de Nadir Afonso falamos naturalmente de textos teóricos, de textos sobre a estética e sobre a arte que têm uma função de dar a conhecer um pensamento absolutamente inovador”.

Por outro lado, explica António Quadros Ferreira, toda a obra escrita e teórica do pintor “tem por missão dar corpo a um desígnio ou sentido de consciência sobre a possibilidade de se pensar a pintura e a arte”.

A teoria nadiriana surge assim com a missão de “possibilitar o fazer falar a pintura”, não para a explicar, mas “para que seja possível entre o dizer e o fazer da obra a instituição de um lugar outro, independente, soberano, e inteligente”. Daí que, remata António Quadros Ferreira, o texto teórico de Nadir não tenha a função de explicar a obra, mas sim, “dizer a ideia fundadora de um fazer (da obra). A teoria nadiriana é já uma espécie de obra maior ou obra segunda da pintura. Obra, contudo, de um pensamento – e o pensamento de Nadir é maior do que a sua obra, e maior do que a sua teoria”

Fizeram parte desta mesa redonda Celina Silva, Professora do Departamento de Estudos Portugueses e Estudos Românicos da Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP) e investigadora em Teoria da Literatura, Teoria da Arte, Estética e Semiótica; Cândido Lima, Professor no Conservatório de Música e na Escola Superior de Música do Porto (foi o primeiro compositor português a utilizar em simultâneo, entre outros meios, computador, eletroacústica e orquestra); Carlos Fiolhais, Professor Catedrático no Departamento de Física da Universidade de Coimbra e coordenador de vários projetos de investigação e Laura Afonso.

As duas mesas redondas estão agora disponíveis no canal YouTube da Casa Comum.