Um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) alertam para o potencial benefício da interleucina-6 (IL-6) como biomarcador de diagnóstico e como alvo terapêutico em doentes com risco cardiovascular.

Esta conclusão resulta de um trabalho baseado numa coorte do estudo MESA (Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis), com 6.814 adultos sem doença cardiovascular, à partida, seguidos ao longo de 15 anos. Os resultados foram publicados na revista científica Atherosclerosis.

Segundo os cientistas da FMUP, níveis mais elevados de interleucina-6, uma proteína medida numa simples análise ao sangue, têm uma relação mais forte com a ocorrência de doenças cardiovasculares e de morte por causa cardiovascular, quando se compara com os níveis de proteína C reativa de alta sensibilidade (PCRas).

“Este estudo sugere que medir a interleucina-6 (IL-6) na rotina clínica poderá ajudar mais na estratificação de risco cardiovascular que a medição de proteína C reativa de alta sensibilidade (PCRas). Não menos importante é o potencial da IL-6 como alvo terapêutico, potencialmente com maior benefício em pessoas com níveis elevados deste biomarcador”, afirma João Pedro Ferreira, investigador da FMUP e um dos autores do estudo.

No entanto, “ao contrário do que acontece com a PCR, a interleucina-6 não é medida por rotina para determinar e estratificar o risco cardiovascular. Isto apesar de existir tecnologia que permite medir este biomarcador de inflamação com custos relativamente baixos”.

Os investigadores destacam ainda que, no futuro, “a inibição direta da IL-6 poderá reduzir o risco cardiovascular, independentemente da redução de fatores de risco clássicos, como o colesterol, a pressão arterial e a coagulação”. Atualmente decorrem estudos que visam testar esta nova via, aguardando-se os resultados.

A inflamação é um fator de risco cardiovascular conhecido, existindo vários ensaios clínicos a demonstrar que certas terapias com potencial anti-inflamatório, que reduzam os níveis de interleucina-6 e de PCR, poderão diminuir a ocorrência de doença cardiovascular e morte.

Uma das explicações para a maior associação entre a interleucina-6 e a doença cardiovascular terá a ver com o facto de esta citocina ser produzida não só por células do sistema imune (monócitos, macrófagos), em resposta à inflamação, mas também por células do sistema cardiovascular. Além disso, a IL-6 estará implicada, por exemplo, na formação da placa de aterosclerose e no desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Este trabalho tem como coautores João Pedro Ferreira, Francisco Vasquez-Nóvoa, João Sérgio Neves e Adelino Leite-Moreira, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e UnIC@RISE.