A identificação de marcadores genéticos poderá contribuir para a avaliação do risco e prognóstico da pneumonite de hipersensibilidade fibrótica, uma das doenças pulmonares fibróticas mais frequentes na prática clínica. O alerta é deixado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), que assinam, em conjunto, um estudo publicado na revista científica Pulmonology.

Os investigadores demonstraram que algumas variantes genéticas comuns estão associadas a uma maior predisposição para desenvolver pneumonite de hipersensibilidade fibrótica, a forma mais frequente e mais grave desta doença, o que poderá justificar a realização de exames genéticos em mais doentes.

Caracterizada por inflamação nos pulmões devido à inalação de antigénios (como bolores ou proteínas de animais) e evolução para fibrose pulmonar, esta doença manifesta-se com sintomas de falta de ar, que se arrasta no tempo, e tosse persistente, associados à presença de crepitações à auscultação pulmonar. Afeta tanto homens como mulheres, podendo ocorrer em idades mais jovens e diferentes padrões de hábitos tabágicos.

De acordo com os autores, polimorfismos nos genes TOLLIP e MUC5B estão relacionados não só com uma maior suscetibilidade para o desenvolvimento desta doença, mas também com uma menor sobrevivência dos doentes.

Nesta medida, “estes marcadores genéticos podem ser usados para auxiliar o diagnóstico, para a estratificação dos doentes em função do risco e para uma abordagem terapêutica mais personalizada”.

Atualmente, “a realização de teste genético na abordagem diagnóstica das doenças pulmonares fibróticas só está consignada para os casos suspeitos de fibrose pulmonar familiar (isto é, com histórico clínico na família), onde são pesquisadas variantes genéticas raras”.

“Acreditamos que a extensão da sua implementação ao estudo das formas não familiares destas doenças, designadamente a análise das variantes genéticas comuns reportadas, fará muito sentido, na medida em que estas variantes poderão orientar o diagnóstico, evitando o recurso a meios mais invasivos, como uma biópsia pulmonar”, dizem.

Embora seja “um desafio”, o diagnóstico correto desta patologia é considerado “imperativo”, na medida em que tem grandes implicações no tratamento dos doentes e, como tal, no seu prognóstico.

No caso da pneumonite de hipersensibilidade fibrótica, o tratamento passa por “evitar a inalação dos antigénios, sejam proteínas de animais ou substâncias químicas que desencadearam a resposta imunológica e as consequentes lesões pulmonares”.

Além disso, preconiza-se terapêutica inicial com imunossupressores e, em situações de progressão, antifibróticos utilizados noutras doenças pulmonares fibróticas, como a fibrose pulmonar idiopática.

Este trabalho envolveu 97 doentes seguidos entre 2013 e 2022 no Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), tendo incluído casos do projeto FIBRALUNG (Fibrosing ILD Biomarkers That Rule Acceleration), um estudo de coorte prospetivo assente num biobanco de amostras de doentes com este tipo de patologia, e que visa explorar determinantes moleculares de doenças pulmonares fibróticas e identificar novos biomarcadores e/ou alvos terapêuticos.

Patrícia Mota, Miguel Soares, António Ferreira, Daniel Vasconcelos, Susana Guimarães, Francisco Vasques-Nóvoa, Catarina Cardoso, André Carvalho, David Coelho, Hélder Novais-Bastos e António Morais são os investigadores da FMUP que assinam este artigo, que contou igualmente com cientistas do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde.