Os estudantes que frequentam a Universidade do Porto para se formarem como professores estão “muito satisfeitos” com a decisão que tomaram e, apesar de considerarem que se trata de uma atividade com “pouco retorno salarial”, mostram-se “fortemente motivados” para o exercício da profissão. As conclusões resultam de um estudo inédito em Portugal, da autoria das investigadoras Carlinda Leite, do CIIE – Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP), e Sónia Valente Rodrigues, do Centro de Linguística da Universidade do Porto.

O que atrai os estudantes da Universidade do Porto para serem professores? Foi o mote deste estudo que envolveu 516 dos 798 estudantes (65%) a frequentar, no presente ano letivo (2023/2024), os cursos de formação inicial de professores – mestrados em Ensino – da U.Porto, nas áreas das Ciências Físicas e Naturais, Expressões Físicas e Visuais, Ciências Sociais e Humanas, Matemática, Português e Línguas Estrangeiras.

Através de um questionário – designado FIT-Choice (Factors Influencing Teaching Choice) – aplicado anteriormente em vários países e usado pela primeira vez no nosso país, as investigadoras procuraram reunir informações sobre as motivações e influências que levam os estudantes a escolher a profissão docente, bem como as suas perceções sobre a profissão. E os resultados agora conhecidos não podiam ser mais animadores.

Relativamente às motivações subjacentes à escolha da docência como profissão, os estudantes colocaram “o gosto pela área de estudo” em primeiro lugar (6,37 numa escala de 1 a 7). Nas razões mais referidas incluem-se também a vontade de “contribuir  para a sociedade” (6,04) e para o futuro de crianças e adolescentes” (5,96), logo seguida pelo “gosto pelo ensino” (5,87).

Para as autoras do estudo, “estes fatores são muito promissores”, uma vez que “mostram que estes estudantes /futuros professores reconhecem em si competências para virem a tornar-se professores e se sentem preparados para um exercício da profissão com autonomia”.

Quanto às perceções sobre a profissão, a maioria dos estudantes reconhece a “grande exigência” associada à necessidade de um conhecimento especializado (5,99 em 7), à carga emocional e ao volume de trabalho (5,76 em 7) a ela associado. Uma percentagem significativa – ainda que mais reduzida – dos inquiridos realça igualmente o pouco retorno quer salarial (3,62), quer de estatuto social (2,87) da profissão.

Ainda assim, e quando questionados sobre as influências que nortearam a sua escolha, os futuros professores afirmam que, “apesar de terem sido confrontados com forte dissuasão social (4,78 numa escala até 7), se encontram “muito satisfeitos” por terem escolhido esta profissão (5,84 em 7).

Resultados “muito promissores”

O estudo agora revelado surge num contexto em que “o recrutamento de professores dos ensinos básico e secundário em Portugal, como em outros países, tem constituído um problema e justificado medidas políticas que, a curto prazo, o resolvam”.

Da necessidade de “conhecer a atratividade que a profissão docente tem tido e os fatores que para ela contribuem” nasceu então a vontade de estudar a realidade da U.Porto, enquanto instituição de ensino superior nacional que possui maior número de vagas nos cursos de mestrado para a formação de professores e maior número de estudantes inscritos.

Para Carlinda Leite e Sónia Valente Rodrigues, os resultados evidenciam que, “apesar dos aspetos menos positivos associados à profissão docente, estes estudantes / futuros professores entrarão na profissão motivados pelo gosto pela área de estudo e pela atividade de ensinar”.

“Embora estes estudantes pensem a profissão docente como pouco segura e permitindo pouco tempo para a família, escolhem-na como primeira opção e sentem-se motivados por experiências prévias de aprendizagem, competentes para ensinar e atraídos pela autonomia associada ao exercício docente”, acrescentam.

Em declaraçoes ao jornal PÚBLICO, Sónia Valente Rodrigues nota ainda que este estudo “desfaz algumas ideias feitas na opinião pública e na sociedade em geral, tais como a de que só vai para professor quem não sabe fazer mais nada” (….) Temos jovens que vêm da escolaridade obrigatória com classificações muito elevadas, temos inclusivamente jovens adultos que frequentaram já outros mestrados ou licenciaturas, mas que, a dada altura da sua vida, decidem que o que querem mesmo é ser professores”, salienta a também Pró-Reitora da U.Porto responsável pelos pelouros da Inovação Pedagógica, Melhoria Contínua e Promoção da Língua Portuguesa.

Em síntese, as autoras do estudo acreditam “os resultados deste estudo são muito promissores porque, entre outras razões, mostram que estes estudantes / futuros professores estão motivados para o exercício da profissão e em linha com conceções de educação e de políticas curriculares que vigoram em Portugal desde 2018”.