A investigadora Joana Peixoto, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi recentemente distinguida com o Prémio Rui Osório de Castro/Millennium bcp, no valor de 15 mil euros. O objetivo da cientista é encontrar novas terapias para os tumores cerebrais pediátricos.

Denominado «EX-BRAIN_CELLZOOM», o projeto de Joana Peixoto surge no seguimento de um trabalho anterior, chamado EX-BRAIN e também distinguido com o Prémio Rui Osório de Castro,  que consistiu no desenvolvimento de organoides ex-vivo, a partir de material cirúrgico de tumores cerebrais pediátricos recolhido no Centro Hospitalar Universitário de São João.

Com base neste modelo, explica Joana Peixoto, “vamos estudar tumores complexos para determinar o papel da heterogeneidade intra-tumoral. O nosso objetivo é identificar as diferentes subpopulações que compõem estes tumores, a sua representação intra-tumoral e a sua relevância no contexto de sensibilidade a fármacos de terapêutica dirigida”.

Com este prémio, acrescenta a investigadora, “vamos conseguir aprofundar o conhecimento da biologia dos tumores cerebrais pediátricos, melhorar as opções terapêuticas para estes doentes e oferecer uma resposta individualizada para cada criança, por forma a melhorar a sua qualidade de vida”.

Biomarcadores sanguíneos para a deteção precoce de sarcomas pediátricos

Para além do primeiro prémio, o i3S arrecadou ainda as duas Menções Honrosas atribuídas pelo júri do galardão, com os projetos «SAPO – SArcomas Pediátricos e Organoides: Novos biomarcadores de diagnóstico», liderado por Carla Oliveira e Alexandre Dias, e «Nanomedicina de precisão para impedir o acesso de “combustível” ao tumor: solução 2-em-1 para tratar o meduloblastoma pediátrico», coordenado por Cláudia Martins.

A síndrome de cancro hereditário relacionado com alterações no gene TP53 é o tema central do projeto apresentado por Carla Oliveira, líder do grupo «Expression Regulation in Cancer», e Alexandre Dias, estudante do programa doutoral MCBiology e a desenvolver o seu trabalho de investigação no i3S.

As crianças portadoras de variantes neste gene têm maior predisposição para desenvolver sarcomas de tecidos moles e osso, pelo que têm de ser vigiadas ativamente. O problema, explica Alexandre Dias, “é que os métodos atuais têm várias limitações, nomeadamente os custos elevados das ressonâncias magnéticas anuais de corpo inteiro, que são essenciais a partir de 1 ano de idade, e a pouca sensibilidade de deteção em fases iniciais da doença”.

Este projeto, adianta Carla Oliveira, “visa descobrir biomarcadores sanguíneos para a deteção precoce de sarcoma, utilizando organóides cerebrais derivados de Células Estaminais Pluripotentes induzidas de portadores de variantes TP53 com história prévia de sarcoma pediátrico”.

Os biomarcadores identificados serão depois validados em amostras de plasma de uma coorte de doentes pediátricos portadores de variantes patogénicas neste gene e doentes esporádicos de sarcoma.

O objetivo, sublinham os investigadores, é «criar um painel de biomarcadores sensível e economicamente viável para a deteção precoce de sarcomas, aplicável na gestão clínica de portadores de variantes patogénicas no gene TP53».

Fármacos com GPS para atingir o meduloblastoma

Já o projeto de Cláudia Martins, investigadora no grupo Nanomedicines & Translational Drug Delivery, foca-se no meduloblastoma, o tumor cerebral mais comum em doentes pediátricos, com uma letalidade que pode chegar aos 100%.

De acordo com a investigadora, o “meduloblastoma é altamente dependente de energia para se desenvolver, mas os fármacos que impedem o acesso de energia às células tumorais têm fraca capacidade de chegar ao cérebro e atingir estas células”.

Com o objetivo de contornar esta dificuldade, “a nossa equipa pretende desenvolver um transporte mais eficaz destes fármacos, desenvolvendo uns nano-veículos equipados com uma espécie de GPS que vai guiá-los diretamente até ao meduloblastoma”. Desta forma, garante Cláudia Martins, “pretendemos aumentar significativamente a resposta terapêutica e diminuir a elevada taxa de mortalidade associada a este tipo de tumor”.

Os trabalhos candidatos ao do Prémio Rui Osório de Castro 2024 foram avaliados segundo critérios como inovação, relevância e impacto esperado, por um júri composto por cinco elementos: Maria Karla Osório de Castro, Presidente da FROC, Nuno Farinha, Presidente da SHOP (Sociedade de Hematologia e Oncologia Pediátrica) e médico pediatra oncológico no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto, Joana Paredes, Presidente da Associação Portuguesa de Investigação em Cancro (ASPIC) e líder do Grupo de Investigação “Cancer Metastasis” do i3S, Maria de Jesus Moura, Diretora da Unidade de Psicologia IPOFG de Lisboa e Margarida Cruz, Diretora Geral da Acreditar.

A cerimónia de entrega do galardão terá lugar a 24 de fevereiro, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, durante o 10.º Seminário de Oncologia Pediátrica, organizado pela Fundação Rui Osório de Castro.