O geneticista António Lima de Faria, considerado um dos “pais” da biologia dos cromossomas e Doutor Honoris Causa da Universidade do Porto, faleceu no passado dia 27 de dezembro de 2023, aos 102 anos de idade, na cidade de Lund (Suécia), onde vivia.

Natural de Cantanhede (1921), António Lima de Faria (ver biografia) licenciou-se em Biologia na Faculdade de Medicina de Lisboa (em 1945), instituição onde iniciou a carreira docente. Mas por pouco tempo. Razões políticas levam-no a demitir-se e a partir para a Suécia. Começa aí uma longa ligação à Universidade de Lund, onde conclui o doutoramento em Genética, área na qual se viria a notabilizar a nível nacional e internacional.

Na Universidade de Lund (atual “aliada” da U.Porto na EUGLOH – European University Alliance for Global Health), foi assistente de Genética (1950-1956), professor (“Associate Professor”) de Citologia entre 1957 e 1961, “Research Docent” de Citogenética Molecular entre 1964 e 1969, “Professor” de Citogenética Molecular de 1969 a 1988 e, por fim, como professor emérito, em 1988. Pelo caminho, dirigiu o Laboratório de Citogenética Molecular do Instituto de Genética (1959-1969) e do Instituto de Citogenética Molecular (1969-1988).

Radicando-se como cidadão sueco em 1957, dedicou grande parte do seu trabalho ao processo de evolução do DNA, estando as suas teorias sobre evolução sem seleção publicadas no best-seller “Evolution without Selection – Form and Function by Autoevolution”.

Autor de numerosos artigos dedicados ao estudo do DNA e dos processos moleculares envolvidos na divisão das células, assinou  mais de uma centena de publicações nas áreas da citogenética e da biologia.

Em Lund, António Lima de Faria notabilizou-se rapidamente pelos seus estudos inovadores no campo da genérica. (Foto: DR)

Foi esse percurso de excelência que a Universidade do Porto distinguiu, em 2002, ao atribuir a António Lima de Faria o título de Doutor Honoris Causa – o mais elevado atribuído pela instituição – por proposta do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) por ocasião dos 25 anos daquela faculdade.

A sua ligação ao ICBAS remonta à década de 70 onde veio, a convite do então Reitor Ruy Luis Gomes, integrar a equipa internacional de conselheiros cuja finalidade era orientar os primeiros passos do Instituto, permitindo que este se afirmasse desde o seu início como Escola multidisciplinar na área das Ciências da Vida. Lima de Faria foi conselheiro da Comissão Instaladora do ICBAS de 1974 a 1977.

O diretor do ICBAS,  Henrique Cyrne Carvalho, associa-se num profundo sentido de pesar e expressa, “em nome institucional a que associamos o nosso nome pessoal, as sentidas condolências à família, amigos e a todas as comunidades académica, científica e médica, que ficaram mais pobres com a partida do nosso colega”.

..ainda sobre António Lima de Faria

António Lima de Faria foi fellow da Fundação Rockefeller, da International Atomic Energy Agency e do Institute for Cancer Research, em Filadélfia, e professor visitante das universidades de Duke e Cornell (EUA), do Max Planck Institute für Meeres Biologie (Alemanha), do Centre de Recherches sur les Macromolecules (França), do National Institute of Genetics (Japão) e do Institute of Animal Genetics (Universidade de Edimburgo).

Desempenhou as funções de secretário da Nordic Society Cell Biology, em 1961, e foi membro do comité executivo da European Space Research Organization (1973-1977) e do ICBAS (1974-1977). Foi consultor de Citogenética Molecular na UNESCO e no Biological Research Center da Hungarian Academy of Sciences (1975) e consultor de Biotecnologia no World Bank (Washington D.C.) e no Governo do Brasil (1984-1988).

António Lima de Faria foi membro da Royal Fysiographic Society (Suécia, 1973), da New York Academy of Sciences (1981), das academias de Ciências de Portugal e do Brasil (desde 1982 e 1989, respetivamente) e da Academia Nazionale dei Lincei (1989).

Entre as condecorações que acumulou ao longo da vida contam-se ainda a “Knight of the Order of the North Star” e o título de Grande Oficial da Ordem de Santiago, atribuídas pelo Rei Sueco e pelo Presidente da República Portuguesa.

Recebeu também o prémio “Oscar II: s Stipendium” em 1959, as medalhas das universidades de Helsínquia (1971), de Coimbra (1980 e 1986) e de Tartu (Estónia, 1992), a medalha de ouro pelos serviços prestados ao estado Sueco (1981) e as medalhas de prata (1985) e de ouro (1996) da cidade de Cantanhede.

Em sua homenagem, a Câmara de Cantanhede instituiu, em 1990, o “Prémio Professor Doutor Lima de Faria” para distinguir o melhor aluno do concelho.