Foi a recolher produtos naturais para investigação nas zonas costeiras que Nádia Eusébio, antiga estudante da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), encarou de frente uma realidade que já muito lhe dizia. Praias com lixo marinho acumulado. E decidiu escrever para sensibilizar. Inspirado nas duas sobrinhas e no seu futuro, surgiu “Óscar e o Mar do Lixo”, livro recentemente lançado pela editora Cordel de Prata. 

“Escrevi-o na altura da pandemia, em que tive mais tempo para reflexão”, conta. Uma reflexão depois do trabalho de campo com a recolha de cianobactérias em ambiente marinho. Durante o seu doutoramento em Biologia na FCUP, focou-se na genética do desenvolvimento, o que a levou a um pós-doutoramento no Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), entre 2019 e 2021. 

Numa história para crianças, o tema é bem real. Óscar é um peixe-cão que vê a sua família e amigos presos num emaranhado de lixo. Consequências de uma ameaça séria para a biodiversidade, mas também para a saúde humana e economia. 

O livro, cuja missão é “alertar a consciência dos mais pequenos sobre a problemática da poluição marinha”, foi apresentado a 4 de setembro, durante a Feira do Livro do Porto. “Não apenas entretém, mas também inspira a reflexão sobre o nosso papel na proteção do meio ambiente e na promoção de um futuro mais sustentável”, salienta Nádia Eusébio. 

“E lembra-nos que, mesmo diante de adversidades aparentemente insuperáveis, a coragem, a amizade e a determinação podem iluminar o caminho para um futuro mais verde e saudável para o nosso planeta”, acrescenta. Na obra, os animais marinhos concentram esforços para salvar a família e amigos de Óscar.

Na vida real, este ano, a sociedade une-se em volta do tema com o Dia Internacional da Limpeza Costeira, com celebrações e ações marcadas entre os dias 16 e 24 de setembro.

Cerca de 80% do lixo encontrado nos ecossistemas marinhos tem origem em atividades humanas em terra e apenas cerca de 20% provém de atividades diretamente ligadas ao mar. As ações de limpeza e monitorização de lixo nas praias revelam-se fundamentais para sensibilizar a população quanto à dimensão deste problema.

Nádia Eusébio formou-se em Biologia na FCUP e nesta faculdade completou todo o seu percurso académico, tendo também passado pelo CIIMAR, para um pós-doutoramento. (Foto: DR)

Sobre Nádia Eusébio

Licenciada em Biologia pela FCUP, em 2011, Nádia Eusébio fez o Mestrado em Biologia Celular e Molecular também na Faculdade de Ciências e concluiu, em 2018, o Doutoramento em Biologia. Um ano depois, integrou a equipa de Pedro Leão, no CIIMAR, para recolher e estudar cianobactérias em busca de halogenases, vantajosas para a síntese de fármacos ou para a degradação de poluentes ambientais, no âmbito do projeto HALVERSITY

Atualmente, e após dois anos no CIIMAR, a bióloga da FCUP está a trabalhar numa empresa ligada à sustentabilidade, numa vertente mais aplicada para procurar alternativas biológicas e substituir produtos de origem petroquímica. 

Na Next-Generation Chemistry e na spin-off KOD Bio, empresas com parcerias com diferentes faculdades da U.Porto e outras instituições, dedica-se, por exemplo, ao desenvolvimento de biodetergentes com compostos de origem microbiana. 

“Os detergentes que existem são todos de origem petroquímica e já há alguns baseados em plantas. Mas mesmo de plantas não é 100% sustentável, pois utiliza meios de agricultura intensiva”, explica. “Por isso, estamos a desenvolver bioprodutos com base em microrganismos.” Para produzir estes compostos, utilizam-se também meios de cultura com resíduos da indústria agroalimentar, numa lógica de economia circular.