O alargamento da vacinação contra o vírus do Papiloma Humano (HPV) a adolescentes e jovens adultos do sexo masculino que não tenham iniciado a sua vida sexual pode reduzir o risco de infeção pelo vírus e o desenvolvimento de doenças associadas, como o cancro. Esta é uma das conclusões de um estudo desenvolvido por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), publicado na revista científica Vaccines.

A equipa reviu estudos a nível internacional envolvendo 14.239 participantes do sexo masculino, dos quais 1.076 eram rapazes com idades entre os nove e os 15 anos, de vários países do mundo e com diferentes orientações sexuais.

Os resultados mostram uma eficácia maior da vacina em homens sem infeção pelo HPV, o que corresponde aos rapazes mais novos, sobretudo crianças e adolescentes, apresentando também evidência da eficácia da vacina em homens até aos 26 anos de idade, com ou sem história de infeção por HPV.

“Na população masculina, a vacina contra o HPV é eficaz na prevenção de doenças associadas a este vírus. A eficácia da vacina é maior nos indivíduos que ainda não tiveram infeção por HPV, isto é, antes do início da atividade sexual. Contudo a sua eficácia mantém-se significativa nos homens, mesmo com infeção ou doença prévia por HPV, até aos 26 anos”, explica Carmen Lisboa., professora da FMUP e autora do estudo.

Além disso, “os estudos realizados e analisados nesta revisão sistemática não evidenciaram diferenças na eficácia da vacina na prevenção de infeção e doenças associadas ao HPV em grupos de homens com diferente orientação sexual ou homens com infeção por VIH, até àquela idade”.

Esta vacinação já está a ser aplicada no sexo masculino no nosso país e espera-se uma redução nas doenças associadas à infeção por HPV por tipos presentes na vacina (nove tipos diferentes de HPV). A eficácia da vacina nos homens até aos 26 anos sem infeção prévia varia de 89% para as verrugas genitais e entre 90% a 92% na prevenção de lesões pré-cancerosas e cancro anal.

De acordo com Carmen Lisboa, “o atual Plano Nacional de Vacinação (PNV) contempla a vacinação dos rapazes aos 10 anos, sendo os 17 anos a idade máxima para iniciar. Dado que temos evidência da eficácia até aos 26 anos, a vacinação gratuita no PNV deveria contemplar estes jovens até aos 26 anos inclusive (ou seja, até ao dia antes de fazerem 27 anos)”.

Barreiras à vacinação

A docente e investigadora da FMUP sublinha que “o custo é uma das principais barreiras à vacinação contra o HPV. A vacina é cara e nem todos os países a incluíram nos seus programas de vacinação. O facto de ser divulgada como prevenção do cancro do colo de útero, direcionada ao sexo feminino, tornou mais difícil a sua implementação no sexo masculino. A vacinação contra o HPV deverá ser neutra de género”.

Outra barreira a esta medida de prevenção é “a falta de informação sobre a eficácia e riscos da vacina no sexo masculino”, nomeadamente por parte dos pais e cuidadores. A doença associada ao HPV é desconhecida (apesar da elevada prevalência em todo o mundo) e as pessoas não valorizam a importância desta vacinação”.

A infeção pelo HPV é a infeção de transmissão sexual mais frequente entre os mais jovens (dos 15 aos 25 anos de idade). Até 80% dos homens e mulheres serão infetados pelo HPV em determinado momento da sua vida.

Além do trato anogenital, o vírus pode invadir a cavidade oral, orofaringe e laringe, provocando doenças malignas, como cancro anal e genital, bem como cancro da cabeça e pescoço. A vacina é preventiva, não servindo para tratar a infeção em pessoas que já estão infetadas.

O estudo “Impact of Human Papillomavirus Vaccination on Male Disease: A Systematic Review” é também assinado por Catarina Rosado, Ângela Rita Fernandes e Acácio Gonçalves Rodrigues, docentes da FMUP e investigadores CINTESIS@RISE.

Esta investigação foi apoiada pelo projeto NORTE-01-0145-FEDER-000057 (“SexHealth & Prostate Cancer, Psychobiological Determinants of Sexual Health in Men with Prostate Cancer”), com financiamento do programa Horizonte Europa e Norte 2020.